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Enquanto Bolsonaro insulta Fernández, Macri é cordial

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Numa cena inédita na Argentina, o presidente em exercício e o presidente eleito se encontraram no dia seguinte da eleição, na manhã desta segunda-feira (28), para definir em conjunto uma transição de poder e enviar sinais positivos para um inquieto mercado internacional.

Houve sorrisos, apertos de mão e vontade de mostrar que haverá um entendimento e que prevalecerá a cordialidade. “Esqueçamos o passado e olhemos para a frente”, disse o presidente eleito, Alberto Fernández, ao cumprimentar o presidente em exercício, Mauricio Macri. Os dois se insultaram vivamente durante a campanha e nos dois debates televisivos.

Fernández chegou à Casa Rosada às 10h30 e passou uma hora sozinho com Macri no gabinete do presidente —os detalhes da conversa não foram revelados.

Já foram divulgados os nomes dos funcionários e ministros que trabalharão juntos na transição até o dia 10 de dezembro, quando haverá a transferência da faixa presidencial e a oficialização da posse.

Do lado de Macri, participarão a equipe econômica chefiada pelo ministro Hernán Lacunza, o presidente do Banco Central, Guido Sandleris, e o ministro do Interior, Rogelio Frigerio. Do lado de Fernández, a chefia da transição fica a cargo de Santiago Cafiero, cotado para ser o chefe de gabinete, Matías Kulfas, aposta para ser o próximo ministro de economia, e Felipe Solá, que deve ser o próximo chanceler.

A equipe de Fernández foi informada ainda na noite de domingo das medidas adotadas a partir desta segunda-feira (28) para frear o dólar, e não se opôs. Mais: Fernández defende um retorno a uma política de controle da moeda ainda mais rígido e constante.

As medidas tomadas por Macri e anunciadas nesta manhã por Sandleris no Banco Central limitam a compra de dólares em US$ 200 ao mês, até dezembro. Isso fez com que a moeda norte-americana permanecesse estável, fechando em 63,50 pesos. Já o dólar chamado de “blue”, ou paralelo, era vendido nos cambistas clandestinos por até 80 pesos.

A Argentina precisa negociar com os credores de mais de 100 bilhões de dólares em dívidas, num cenário em que as reservas estão diminuindo e a inflação está altíssima.

A economia do país ficou em recessão por grande parte do ano passado, e há preocupações de que o país possa ser forçado a um calote.

Nesta segunda, os títulos da Argentina em dólar caíam 1,6% em média, enquanto o índice de risco-país subiu cem pontos.

O recém-eleito Alberto Fernández governará com um Congresso dividido, em que alianças terão de ser costuradas para aprovação de leis. Na Câmara de Deputados, terá mais cadeiras, com 120 deputados peronistas, contra 119 da coalizão Juntos por el Cambio, de Mauricio Macri. Já no Senado, terá 37 senadores governistas contra 29 do macrismo.

“É um mapa de poder que traz mais equilíbrio”, diz o analista Carlos Pagni, que chama a atenção para a necessidade que Fernández terá de negociar tanto com o bloco opositor, de Macri, como dentro da própria aliança peronista, que nesta eleição, reuniu distintas vertentes do movimento, como Cristina Kirchner, o peronista moderado Sergio Massa e as organizações sociais mais à esquerda, entre outros.

Fernández não deu declarações à imprensa. No começo da tarde, o governador eleito da província de Buenos Aires, maior reduto eleitoral do país, o kirchnerista Axel Kicillof (ex-ministro da economia de Cristina Kirchner), disse que a situação da província é “muito grave”, e que, nos últimos anos, “houve uma blindagem midiática que fez com que não fossem divulgados os dados mais negativos da economia local”.

Cristina Kirchner também não apareceu em público nesta segunda-feira (28), mas pediu permissão à Justiça para ir a Cuba visitar a filha, que está internada lá, tratando de um quadro de depressão e de um linfedema. Cristina deve pedir permissão para sair do país por conta dos 11 processos a que responde, na Argentina.

A imprensa argentina divulgou a fala do presidente Jair Bolsonaro, criticando a “má escolha” dos argentinos, mas não houve reação pública dos políticos.

O líder brasileiro, que não quis enviar cumprimentos a Fernandéz, diz que aguardará os próximos passos do novo governo argentino.

Por outro lado, Fernández recebeu ligações de parabéns de outros presidentes que não concordam com ele ideologicamente, como o chileno Sebastián Piñera.

Também cumprimentaram o recém-eleito o presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, o do México,  Andrés Manuel López Obrador, e o do Peru, Martín Vízcarra.

FSP