INPA acusa Bolsonaro de ‘surto de desmatamento’
O aumento expressivo das queimadas na região amazônica este ano é consequência de um discurso e de políticas implementados pelo presidente Jair Bolsonaro desde sua chegada ao poder. Esta é a opinião do biólogo americano Philip Martin Fearnside, pesquisador do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), um dos mais importantes especialistas mundiais sobre os efeitos do desmatamento na maior floresta tropical do planeta.
“Desde janeiro ele tem um discurso constante contra o meio ambiente, dizendo que não há problemas de desmatamento na Amazônia, que é conversa para boi dormir. Foram muitos exemplos de que se pode violar as leis ambientais sem problemas. Até dois ministros, do Meio Ambiente e da Agricultura, foram visitar uma plantação de área de soja em uma terra indígena e posaram para fotos. Isso manda uma mensagem muito clara de que se pode fazer o que quiser”, diz o especialista.
“Está sendo desmantelada toda a estrutura institucional para a parte ambiental e isso se reflete no desmatamento”, diz, em referência à política de cortes de verbas como os que afetaram o IBAMA.
“As queimadas são propositais em áreas desmatadas este ano e também em pastagens e capoeiras em áreas antigas, só para manter a produção”, constata.
A área de desmatamento na Amazônia legal tem crescido de maneira exponencial. Em junho houve aumento de 88% maior, julho 178% e agosto 222%, sempre em comparação com o mesmo período do ano anterior. Esse aumento é resultado da ação humana e não de fenômenos climáticos, segundo os cientistas.
“Sempre há fogo na época seca, mas o que é diferente é que este ano não é o ano de seca extrema. No passado já houve até mais fogo que agora. As grandes secas de 1997, 1998, 2003 e 2005 deixaram muitas queimadas devido à seca extrema. Agora é diferente”, insiste.
No mês de setembro, o número de focos de incêndio na Amazônia deu novo salto. Foram 2.913 focos, acima da média de 2. 682 para o mesmo período, segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O Amazonas foi o que o único dos nove estados a não ter diminuído os focos, enquanto nos outros observa-se uma tendência de redução.
Philip, de 72 anos, trabalha há mais de 45 anos sobre a região Amazônica e seus problemas ambientais. Em 2006, ano em que recebeu do Ministério do Meio Ambiente o 1° Prêmio Chico Mendes na área de Ciência e Tecnologia, seu nome foi o segundo mais citado em pesquisas acadêmicas sobre aquecimento global, de acordo com o Instituto de Informações Científicas (Thomson-ISI).
O biólogo americano alerta para ações do governo Bolsonaro que vão ter impactos catastróficos para a Amazônia, como a disposição de reabrir a estrada BR 319, que ligaria Manaus à Rondônia, no chamado “Arco de Desmatamento”, para o sul e leste da Amazônia, onde se concentra o destruição florestal.
“Uma rodovia atrai os destruidores da floresta. É um processo que sai do controle do governo e que dura décadas, provocando o aumento do desmatamento. Esse é um dos grandes problemas e mudaria completamente a geografia do desmatamento”, aponta.
O biólogo americano Philip Martin Fearnside é um dos mais importantes especialistas mundiais sobre os efeitos do desmatamento na Amazônia
“Desde janeiro ele tem um discurso constante contra o meio ambiente, dizendo que não há problemas de desmatamento na Amazônia, que é conversa para boi dormir. Foram muitos exemplos de que se pode violar as leis ambientais sem problemas. Até dois ministros, do Meio Ambiente e da Agricultura, foram visitar uma plantação de área de soja em uma terra indígena e posaram para fotos. Isso manda uma mensagem muito clara de que se pode fazer o que quiser”, diz o especialista.
“Está sendo desmantelada toda a estrutura institucional para a parte ambiental e isso se reflete no desmatamento”, diz, em referência à política de cortes de verbas como os que afetaram o IBAMA.
“As queimadas são propositais em áreas desmatadas este ano e também em pastagens e capoeiras em áreas antigas, só para manter a produção”, constata.
A área de desmatamento na Amazônia legal tem crescido de maneira exponencial. Em junho houve aumento de 88% maior, julho 178% e agosto 222%, sempre em comparação com o mesmo período do ano anterior. Esse aumento é resultado da ação humana e não de fenômenos climáticos, segundo os cientistas.
“Sempre há fogo na época seca, mas o que é diferente é que este ano não é o ano de seca extrema. No passado já houve até mais fogo que agora. As grandes secas de 1997, 1998, 2003 e 2005 deixaram muitas queimadas devido à seca extrema. Agora é diferente”, insiste.
No mês de setembro, o número de focos de incêndio na Amazônia deu novo salto. Foram 2.913 focos, acima da média de 2. 682 para o mesmo período, segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O Amazonas foi o que o único dos nove estados a não ter diminuído os focos, enquanto nos outros observa-se uma tendência de redução.
Philip, de 72 anos, trabalha há mais de 45 anos sobre a região Amazônica e seus problemas ambientais. Em 2006, ano em que recebeu do Ministério do Meio Ambiente o 1° Prêmio Chico Mendes na área de Ciência e Tecnologia, seu nome foi o segundo mais citado em pesquisas acadêmicas sobre aquecimento global, de acordo com o Instituto de Informações Científicas (Thomson-ISI).
O biólogo americano alerta para ações do governo Bolsonaro que vão ter impactos catastróficos para a Amazônia, como a disposição de reabrir a estrada BR 319, que ligaria Manaus à Rondônia, no chamado “Arco de Desmatamento”, para o sul e leste da Amazônia, onde se concentra o destruição florestal.
“Uma rodovia atrai os destruidores da floresta. É um processo que sai do controle do governo e que dura décadas, provocando o aumento do desmatamento. Esse é um dos grandes problemas e mudaria completamente a geografia do desmatamento”, aponta.
As consequências do desmatamento são gravíssimas, sobretudo na região amazônica, mas com consequências para todo o Brasil, já que muitos lugares, como São Paulo, dependem da Floresta Amazônica para a água da chuva, que é a base de todo o sistema de abastecimento, geração de energia elétrica e agricultura. A crise hídrica que atingiu o estado de São Paulo em 2017 é citada como exemplo do impacto das queimadas.
“Durante a época chuvosa, 70% da água das chuvas de São Paulo vêm da Amazônia. O desmatamento impede a água de chegar lá, vai para o Oceano Atlântico”, alerta.
O impacto do desmatamento também tem repercussões mundiais, já que somados a outros fenômenos, como os incêndios florestais na Europa, Califórnia, Austrália e o degelo do Ártico, contribui para o aquecimento global. “A Amazônia tem um papel central devido a quantidade de carbono que pode ser liberado, seja propositalmente ou espontaneamente. Recentemente descobrimos que carbono está sendo liberado do solo mesmo com a floresta intacta. Isso por causa do aquecimento global”, explica.
“Temos um enorme estoque de carbono dentro e embaixo da floresta. Isso sendo liberado em um curto espaço de tempo, vira gases que provocam o efeito estufa e é uma questão chave, porque pode empurrar o sistema global aos chamados pontos de inflexão, quando a situação escapa do controle humano e não há nada mais para reverter esse processo de aquecimento global”.
Philip Fearnside lembra que a floresta tropical tem duas grandes funções, de grande depósito de carbono e de reciclagem da água do Oceano Atlântico, e é fundamental para o equilíbrio de um sistema que pode ter impactos gravíssimos ambiental, social e econômico.
“Brasil é um dos países que mais vão sofrer com os impactos previstos pelo aquecimento global”, lembra. Ele cita como exemplos de repercussões graves a grande diminuição de chuvas no nordeste brasileiro, que poderá levar milhões de pessoas dependentes da agricultura a migrar para centros urbanos, que também vão enfrentar problemas de recursos hídricos.
A postura do presidente Jair Bolsonaro e dos ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, de negar a existência de aquecimento global pela ação humana é apontado como “gravíssima” pelo biólogo americano. “Se o Brasil não agir para se juntar com o mundo para lutar contra o aquecimento, será algo muito grave”, conclui.