Ricardo Borges/Folhapress

Morre Wanderley Guilherme dos Santos

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Morreu na madrugada deste sábado (26), aos 84 anos, o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, vítima de uma pneumonia.

Wanderley era professor aposentado da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), onde lecionou democracia e teoria política por mais de duas décadas. Ele também foi o fundador do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro, atual Iesp-Uerj).

O professor deixa três filhos e três netos. O velório está previsto para a segunda-feira (28) de manhã, em local ainda não definido. O corpo será cremado no cemitério do Caju, zona norte do Rio.

Em sua mais recente publicação, o professor abordou a cassação da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016. “A democracia impedida: o Brasil no século 21” foi lançado um ano após o impeachment.

Em entrevista ao jornal Valor Econômico, em março de 2018, Wanderley afirmou, sobre a situação política do país, que o Brasil estava imerso numa tragédia grega e que a população estava “atordoada”, sem entender o que acontece. “Não é para entender, porque não tem inteligibilidade no que está acontecendo.”

Wanderley graduou-se em filosofia na UFRJ em 1958 e concluiu seu doutorado em ciência política na Universidade Stanford, nos Estados Unidos, em 1979, com a tese “Impasse e crise na política brasileira”. Em 1986, fez pós-doutorado em teoria antropológica na UFRJ.

Em seu currículo acadêmico, seu foco foi o estudo de teoria política, em especial temas da política, democracia, cidadania, paradoxos e ação coletiva.

Foi nomeado em 2007 pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como membro do conselho curador da rede pública TV Brasil.

O cientista político ocupou o cargo de presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa por quase dois anos, entre 2011 e 2013. ​Também ocupou o cargo de presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa por quase dois anos, entre 2011 e 2013.

“Seus trabalhos e palestras sempre foram marcados por impressionante precisão argumentativa, criatividade e competência analítica. Wanderley expressava o caráter excepcional de sua genialidade em cada texto, artigo, livro, comentário e intervenção”, diz nota de pesar do Iesp, instituto que fundou.

Também em nota, a Associação Brasileira de Ciência Política escreveu: “Wanderley foi um dos principais responsáveis pela introdução da pós-graduação em Ciência Política no Brasil e é considerado por muitos o maior cientista político do país.”

A presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), Miriam Pillar Grossi, lembrou que Wanderley foi um dos fundadores e primeiros presidentes da Anpocs, e sempre participou de forma marcante das atividades da entidade ao longo de seus 43 anos de existência.

“Há duas semanas na comemoração dos 50 anos do Iesp, o professor Wanderley fez a conferência final do evento.  Fez uma conferência brilhante e super atual na sua reflexão sobre o momento político e a produção de conhecimento no Brasil. Lotou o auditório. Vi ali o carinho que os ex-alunos e alunos do professor Wanderley têm por ele. A forma com que eles reverenciaram o professor Wanderley naquele dia me emocionou muito”, afirmou Grossi.

“Ele era uma pessoa extremamente afável que teve um impacto em muitas gerações de cientistas políticos brasileiros. Foi uma pessoa que produziu imensamente”, completou.

O diretor de Publicações da Anpocs, Bruno Wilhelm Speck, destacou os trabalhos de Wanderley da década de 1980 sobre o pensamento social no Brasil no século 19 e no início do século 20, em especial a obra “Roteiro Bibliográfico do Pensamento Político-Social Brasileiro (1870-1965)”.

Fábio Wanderley Reis, professor emérito do Departamento de Ciência Política da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), disse que a morte de Wanderley configura uma grande perda para a ciência política do país.

“Tive contato com ele ao longo da minha vida profissional e estou certo de que é uma perda da maior importância, e que a mim me afeta pessoalmente de maneira relevante. Ele tem uma obra importante, com trabalhos empíricos, trabalhos relacionados à teoria política e à área de ciência social no Brasil”, disse Reis.

Para o professor titular do departamento de ciência política da USP André Singer, “Wanderley Guilherme dos Santos foi um dos mais criativos, argutos e rigorosos professores da geração que institucionalizou a ciência política no Brasil. Como intelectual público, teve a coragem de tomar posições claras em momentos difíceis. Fará muita falta”.

FSP