Oito policiais são capturados no Equador

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Foto: Martin Bernetti

Grupos indígenas que protestam contra o presidente do Equador capturaram oito policiais em Quito, nesta quinta (10).

Os agentes uniformizados foram exibidos pelos manifestantes no pátio da Casa de la Cultura, um centro cultural onde indígenas estão acampados.

Na madrugada desta quinta, o local havia sido invadido pela polícia, que desrespeitou um acordo entre os manifestantes e o governo que determinava a Casa de la Cultura como uma “zona de paz”, ou seja, um local de repouso dos ativistas.

Os policiais também entraram em outras zonas de paz —a Universidade Pública Salesiana e o acampamento no parque El Arbolito—, aumentando a repressão contra os indígenas.

As forças de segurança atiraram bombas de gás lacrimogêneo e agrediram a muitos com golpes de bastão, em uma tentativa de dispersar os manifestantes.

Na manhã desta quinta as lideranças indígenas negaram que tenham começado os diálogos com o governo —como o presidente Lenín Moreno afirmou no dia anterior—, e disseram que seguem mobilizados até que se derrogue a decisão de eliminar o subsídio ao combustível.

A principal organização indígena do país chamou seus membros a radicalizarem as manifestações. “Nada de diálogo com um governo assassino”, disse a Conaie (Confederação de Nacionalidades Indígenas), em um comunicado assinado por seu presidente, Jaime Vargas.

Um indígena foi morto nas manifestações de quarta (9). É o terceiro óbito desde que os protestos começaram, no dia 3. Ao menos 766 pessoas foram feridas.

O levante ocorre devido a um acordo assinado com o FMI (Fundo Monetário Internacional), que garantirá um empréstimo de US$ 4,2 bilhões (R$ 17,05 bilhões) ao país. Em contrapartida, o governo tem de adotar medidas como o corte de um subsídio a combustíveis em vigor há 40 anos.

A decisão gerou um aumento de até 123% nos preços da gasolina e do diesel e revoltou a população. Na terça (8), o presidente afirmou que não voltará atrás no corte dos subsídios e negou que vá renunciar.

Também foram registrados saques em mercados de comida em Quito e em Guayaquil. Os comerciantes disseram a veículos de imprensa locais que não irão abrir seus negócios enquanto o governo não garantir a segurança. A maioria dos comércios da capital está fechada.

Em um giro por bairros fora do centro na noite de quarta (9), a Folha notou pouca gente nas ruas e poucos restaurantes abertos. Os que ousam abrir ficam lotados.

Num restaurante italiano, o gerente dizia que a ideia é permanecer atendendo os clientes, mas que começam a faltar ingredientes para produzir as refeições, uma vez que os fornecedores não têm como trazê-los à capital.

Moreno regressou a Quito na quarta (9), para monitorar a situação com os manifestantes. Ele estava na cidade costeira de Guayaquil, a 400 km da capital, para onde transferiu a sede do governo devido à violência dos protestos em Quito.

Os prédios do governo na capital estão protegidos por cercas, arame farpado e forte guarda da polícia.

CRONOLOGIA DOS PROTESTOS
​21.fev
Equador e FMI acordam pacote de R$ 17 bilhões; órgão exige que país adote medidas de austeridade

3.out
Governo põe fim a subsídios de combustíveis, e preços sobem até 123%. Protestos começam e Executivo declara estado de exceção

4.out
Mais de 350 pessoas são presas e 21 policiais ficam feridos. Grupo de 47 militares fica retido em comunidade indígena

5.out
Trabalhadores do setor de transporte anunciam fim da greve, mas indígenas e sindicatos seguem mobilizados. Presos já são 379, e agentes feridos, 59

6.out
Vinte são presos por cobrar preços abusivos de alimentos. Um homem morre após ambulância ficar bloqueada em estrada

7.out
Presidente transfere sede do governo para Guayaquil e acusa seu antecessor, Rafael Correa, de tentar um golpe de Estado

9.out
Indígenas lideram greve geral no país

Da FSP