Para economista da Unicamp, política econômica “não tem rumo”
O economista e ex-ministro Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), diz que após o fracasso da estratégia inicial do presidente Jair Bolsonaro de se alinhar automaticamente com os Estados Unidos, o Brasil segue sem rumo na política internacional. Acordos bilaterais assinados com os Emirados Árabes Unidos demonstram que também fracassou a estratégia de privilegiar Israel. Depois de muito criticar a China durante a campanha eleitoral, ele convidou os chineses a participar dos leilões do petróleo.
O próximo recuo, prevê Belluzzo, será em relação às ameaças de abandonar o Mercosul, feitas antes da vitória de Alberto Fernández nas eleições argentinas. “O que a gente precisa entender é que isso aí não tem rumo.” O economista classifica essa possibilidade como “desastrosa” para a indústria brasileira, principalmente para o setor automobilístico, que exporta para o país vizinho. Ele diz que a empresariado brasileiro não deve “achar graça” nesse tipo de declaração do presidente. “Bolsonaro vai recuar disso, como recuam de tudo. Não tem propósito e contaria com oposição enorme dentro do Brasil”, afirmou a Marilu Cabañas e Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta terça-feira (29).
“O Brasil sempre foi um país voltado para a universalidade das suas relações, sem preconceitos etc. A concepção estreita do presidente acaba se chocando com a realidade. Frequentemente ele é obrigado a abjurar das crenças que manifestou num primeiro momento, o que torna a nossa posição internacional muito complicada. Ele vai, na verdade, amansando a hostilidade que manifesta. É a política internacional do churrasco na laje e cervejada: Os caras enchem a cara, e ficam falando essas bobagens”, criticou o economista.
Belluzzo comentou também uma das gafes de presidente em sua passagem pelo Oriente Médio e também sobre a polêmico vídeo em que ele é retratado como um leão acuado por hienas. Questionado sobre a pauta que discutiria com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed Bin Salman, Bolsonaro afirmou que “todo mundo gostaria de passar a tarde com um príncipe, principalmente vocês, mulheres”.
Além da grosseria habitual, são ações e declarações que revelam o despreparo do ocupante do mais importante cargo da República. “É uma coisa dolorosa. Não sei se devo rir ou lamentar profundamente. Ele se considera permanentemente ameaçado. Outra dimensão da sua personalidade é a paranoia. Ele não vê a presidência como uma instituição relacionada com as demais. Não tem nenhuma noção de como funcionam as instituições da República. Estamos na mão de um sujeito completamente despreparado. As pessoas acham que ele tem uma estratégia, mas não tem. A estratégia dele é a falta de estratégia”, ressaltou Belluzzo.