Prêmio a Chico Buarque: a cegueira política exposta

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Leia a coluna de Bruno Boghossian

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Mistério de Bolsonaro sobre prêmio a Chico é ato de governo mesquinho

Em 30 de maio de 2010, Ferreira Gullar fez uma de suas críticas ácidas ao então presidente Lula durante uma entrevista à Folha. “O Lula é um farsante, não merece confiança”, disparou. No dia seguinte, o escritor foi anunciado vencedor do Prêmio Camões, entregue pelos governos do Brasil e de Portugal.

O petista assinou o diploma que foi entregue a Gullar meses depois. O poeta recebeu um cheque de € 100 mil e continuou fazendo comentários sobre política. Declarou voto em José Serra e chamou Lula de “uma pessoa desonesta, um demagogo”.

Jair Bolsonaro mostra que não consegue dissociar atos de governo de suas paixões ideológicas. Ao fazer mistério sobre a assinatura do certificado do Prêmio Camões concedido a Chico Buarque neste ano, ele submete o governo a suas vontades pessoais mais mesquinhas.

A ala radical do Planalto pressiona Bolsonaro a não incluir seu nome no documento, já que o músico fez campanha para Fernando Haddad e visitou Lula na prisão. Na terça (8), o presidente quis fazer piada: “Até 31 de dezembro de 2026 eu assino”.

Chico respondeu nas redes sociais, em tom político. “A não assinatura do Bolsonaro no diploma é para mim um segundo Prêmio Camões.”

Em maio, quando Chico foi escolhido, o ministro Osmar Terra ficou furioso e quase demitiu o secretário de Cultura, Henrique Pires. Ele deixou o cargo em agosto, devido a outras interferências em sua área.

A cegueira política do governo neste caso é a mesma que faz com que Bolsonaro se cale diante da morte de João Gilberto, mas homenageie o artista MC Reaça, que apoiou sua campanha. Ele se suicidou em junho. Uma mulher diz que foi espancada por ele momentos antes.

Na cerimônia do Camões de 2016, o premiado Raduan Nassar disse que Michel Temer era “repressor” e havia praticado um golpe. Houve bate-boca entre o público e o ministro Roberto Freire, que pontuou: “Quem dá prêmio a adversário político não é ditadura”. Bolsonaro gosta de dar sinais no sentido contrário.

Da FSP