Presidente chileno pede perdão ao povo
Foto: Pedro Ugarte / AFP
Em uma ação para tentar conter os protestos que tomam as ruas de várias cidades do Chile desde a semana passada e que deixaram 15 mortos , o presidente Sebastián Piñera anunciou um pacote de medidas e pediu perdão pelos problemas que provocaram as manifestações.
— É verdade que os problemas se acumulavam há décadas, e que os vários governos não foram, nem nós fomos, capazes de reconhecer essa situação em toda sua magnitude. Reconheço e peço perdão por essa falta de visão.
No pronunciamento, Piñera explicou as medidas que pretende adotar para fazer frente às demandas populares, chamadas de Agenda Social . A principal delas estabelece mudanças no sistema de pensões e pagamentos de benefícios sociais, que serão reajustados em 20%. Outro ponto é a criação de um teto de gastos familiares com saúde — se o valor ultrapassar esse teto, os custos serão assumidos por um seguro público.
Também foram anunciadas medidas para elevar o piso salarial, com complementação do governo quando for necessário, ações de controle das tarifas de eletricidade, um imposto adicional sobre salários acima de 8 milhões de pesos ( R$ 44.967,60 ) e a redução dos salários de parlamentares e funcionários da administração pública.
— Essa Agenda Social não vai solucionar todos os problemas dos chilenos. Mas será uma ação necessária e significativa para melhorar sua qualidade de vida, especialmente dos setores mais vulneráveis e da classe média, priorizando crianças, mulheres e idosos — afirmou Piñera.
Todas as medidas precisam ser aprovadas pelo Congresso.
Ao mencionar os protestos dos últimos dias, o presidente chileno anunciou um plano para reparar os estragos provocados ao redor do país, estimados em mais de US$ 350 milhões . Porém, apesar da sinalização aos milhares de chilenos que continuavam nas ruas nesta terça, ele não quis dar um prazo para que o estado de emergência e o toque de recolher sejam suspensos.
— Meu dever como presidente é acabar com o estado de emergência apenas quando tiver garantias de que a ordem pública, a segurança cidadã e dos bens, públicos e privados, estejam devidamente resguardados.
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Horas antes do pronunciamento de Piñera, milhares de pessoas foram às ruas em atos majoritariamente pacíficos durante todo o dia, especialmente na capital, Santiago. Porém, com a chegada da noite e a aproximação do toque de recolher, houve confrontos entre a polícia e manifestantes, além de tentativas de saques em supermercados e lojas. Em Valparaíso, duas pessoas foram baleadas em uma tentativa de invasão de uma loja. Em Viña del Mar, os hospitais registraram pelo menos oito pessoas com ferimentos causados por armas de fogo.
Segundo o Ministério do Interior, 15 pessoas morreram desde sexta-feira, 11 delas na região metropolitana se Santiago. Já o Instituto Nacional de Direitos Humanos (INDH), um instituto público independente, informou que 123 pessoas foram feridas por armas de fogo. A organização também denunciou a detenção de 1.601 pessoas nas manifestações, entre elas 210 menores de idade, incluindo crianças, e 343 mulheres.