Previdência: Bolsonaro paga o preço da antipolítica
O governo achou que estava fazendo um baita negócio ao terceirizar para o Congresso a aprovação da reforma da Previdência. Abriu mão de fazer articulações e conquistar votos, mas conseguiu fazer avançar uma matéria difícil, mesmo assim. Agora, a fatura da omissão chegou.
O Planalto paga um preço alto por sua retórica antipolítica, com juros e correção monetária. Decidido a não montar uma base de partidos aliados, Jair Bolsonaro decidiu negociar emendas no varejo para abastecer deputados e senadores em troca de votos. Num período de sufoco orçamentário, a conta ficou salgada.
O presidente realmente cumpriu a promessa de campanha de acabar com o loteamento de ministérios para siglas governistas, mas não se envergonhou de abrir um balcão de cargos de segundo escalão. A partilha de poder, diga-se, é comum para formar coalizões no Congresso, mas Bolsonaro só aderiu ao método porque tenta mimar senadores dispostos a aprovar o filho Eduardo para a Embaixada do Brasil nos EUA.
O erro de cálculo fica claro na reta final da votação da reforma. Mesmo se valendo de expedientes que costuma criticar, o governo sofre tropeços que tendem a aumentar os custos de sua relação com o Congresso. Bolsonaro achou que poderia ceder protagonismo à Câmara e ao Senado sem correr riscos, mas agora se vê sem controle de sua própria pauta.
De última hora, os senadores mudaram uma regra que reduziu a economia prevista com o novo sistema de aposentadorias. Depois, ameaçaram adiar a conclusão das votações enquanto não houvesse acordo com a Câmara sobre a partilha do dinheiro do pré-sal. O Planalto ficou refém.
A reação do ministro Paulo Guedes reflete a vulnerabilidade do governo. Em retaliação aos senadores, ele disse que cortaria uma verba prometida a estados e municípios. Pouca gente se incomodou. Guedes é o sujeito que, em março, ameaçou deixar o cargo se a poupança com a reforma ficasse abaixo de R$ 1 trilhão. Agora, ele está nas mãos do Congresso para conseguir R$ 800 bilhões.
Da FSP