Relação entre Bolsonaro e Fernandez preocupa especialistas

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Foto: reprodução

Para o historiador argentino Federico Finchelstein, professor da New School for Social Research, os argentinos escolheram o candidato “menos pior”, divididos por “duas propostas do passado”, nas eleições deste domingo (27).

Ele falou à Folha quando saíam as primeiras pesquisas de boca de urna, antes da divulgação oficial dos resultados, que apontavam a vitória de Alberto Fernández em primeiro turno.

Para ele, porém, o populismo argentino está mais moderado. O próximo presidente deve ter relações pragmáticas com o Brasil, segundo ele, mas é impossível saber como serão as relações por parte do governo Bolsonaro.

Na Argentina, nestas eleições, se apresentaram duas propostas de passado: o fracasso do populismo peronista e o fracasso mais recente do populismo do governo Macri. Neste sentido, não me parece que houve entusiasmo por essas fórmulas presidenciais, e se elegeu o que muita gente pensou que era o menos pior.

Esta fui uma campanha muito particular, no sentido de que houve poucas propostas dos dois lados, poucas ideias, nenhum dos dois parecia saber o que vão fazer no próximo governo.

Fernández tentou e fez uma aliança com setores do peronismo que eram contrários a Cristina. Ele fez uma aliança mais centrista que a do kirchnerismo, quer se mostrar mais moderado. Em um mundo onde há tendências globais ao extremismo populista, o populismo argentino, que é clássico, que é o primeiro populismo que chegou ao poder, em certo ponto vai na contramão das tendências globais, em termos de querer se propor como uma opção moderada. É populismo, mas moderado.

Uma coisa interessante é que no Brasil a política sempre se caracterizou, antes de Bolsonaro, por ser mais moderada do que na Argentina. Se se compara qualquer das vertentes, seja à direita ou à esquerda, a Argentina sempre parecia um país com opções mais radicais.

O Brasil mudou. O populista mais extremista do mundo é Bolsonaro, que cada vez mais se aproxima do fascismo, inclusive mais à direita de Donald Trump.

Nesse sentido, é paradoxal que a Argentina apresente hoje eleições mais moderadas. É quase uma exceção às tendências regionais, quando se fala em Brasil Estados Unidos, Chile. As propostas argentinas são muito mais moderadas, seja de Fernández ou de Macri. Não têm muitas ideias, mas tampouco muito extremismo.

Como vai se relacionar esse populismo extremo, quase fascista, que há no Brasil, com Fernández, creio que é imprevisível. Creio que Fernández vai ter uma política moderada em relação ao Brasil, um aliado argentino há gerações, politicamente o país mais importante para a Argentina.

Agora, o que se pode esperar de Bolsonaro? Qualquer coisa. É um personagem imprevisível. Não pensa em termos políticos. Mas os argentinos sempre estiveram interessados em manter a aliança estratégica com o Brasil, que é um país irmão.

Há evidentemente uma insatisfação da população com as políticas de austeridade que se está propondo [na América do Sul]. No Chile, e em toda a região, há essa preocupação que há sobretudo com a desigualdade econômica. Nesse sentido, em países como Argentina e Uruguai, as eleições vêm em um bom momento, porque no Chile há uma clara sensação de falta de representação por parte dos políticos.

Creio que esse problema [protestos em larga escala] não deve ocorrer nos próximos meses na Argentina. Agora, evidentemente, se se governa mal, essa é uma situação que pode ocorrer.

Folha