Telefonema entre Planalto e Bivar reacendeu a crise

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Foto: Facebook/Reprodução

A negociação de uma saída para o impasse na liderança do PSL na Câmara —que entra na segunda semana de uma guerra de listas— expôs a fragilidade da articulação política do Palácio do Planalto.

Um telefonema do ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) ao presidente nacional do partido, deputado Luciano Bivar (PE), gerou um ruído no que poderia ser a saída para pacificação da bancada do partido do presidente Jair Bolsonaro.

A sigla vive uma crise que se estende há duas semanas, desde que ele disse que Bivar está “queimado pra caramba” e deixou clara sua intenção de migrar de legenda.

Em seu desdobramento mais recente, o racha atingiu a liderança do PSL na Câmara, marcado por sucessivas mudanças no posto à medida que deputados se organizam para construir listas de apoio.

Entre a semana passada e esta, o cargo foi alternado por dois deputados da legenda: Delegado Waldir (GO) —que conta com apoio de Bivar— e Eduardo Bolsonaro (SP), referendado pela ala mais alinhada ao seu pai.

Na manhã desta segunda-feira (21), Ramos e Bivar trataram da possibilidade de se buscar uma terceira via para a liderança do partido na Câmara. Por essa negociação, tanto Waldir quanto Eduardo abririam mão da disputa.

As duas alas buscariam então um nome de consenso. O telefonema, contudo, elevou a temperatura da briga interna e uma nova guerra de listas foi criada.

Enquanto o governo afirma que não houve acordo algum, mas apenas conversas preliminares, aliados de Bivar acusam o Planalto de traição e descumprimento de um tratado.

Nos bastidores, pessoas próximas ao governo dizem que, mesmo se quisesse, Ramos não teria força para destituir Eduardo, já que ele é um dos filhos do presidente da República.

O ruído acontece em um momento de grande fragilidade do governo Bolsonaro que pode comprometer ainda mais sua problemática relação com o Congresso.

Em busca de melhorar a articulação, o presidente já passou a procurar caciques de outros partidos, como mostrou a Folha nesta segunda, e fez trocas em cargos de liderança, como a destituição da deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) da liderança do governo no Congresso, substituída pelo senador Eduardo Gomes (MDB-TO).

Perto das 9h desta segunda, o líder do governo na Câmara, deputado Major Vitor Hugo (GO), anunciou pelo Twitter que havia protocolado uma lista em apoio a Eduardo.

Pouco depois, o Delegado Waldir, que até o início desta segunda era o líder do PSL na Câmara, divulgou vídeo dizendo que abriria mão do posto.

A desistência causou surpresa e logo em seguida aliados de Waldir e de Bivar disseram que ela ocorreu por uma proposta do governo.

Na sequência, a Secretaria-Geral da Mesa da Câmara reconheceu Eduardo Bolsonaro como líder do PSL na Casa ao referendar que o deputado tinha 28 assinaturas favoráveis a seu nome.

No vídeo, Waldir não faz nenhuma menção direta a Eduardo, e trata o novo líder da legenda como um nome em aberto.

A oficialização do nome do filho de Bolsonaro gerou reação entre os aliados de Bivar, e o deputado Júnior Bozzella (SP) passou a dizer que o governo não estava cumprindo um acordo firmado entre Ramos e Bivar.

A partir daí uma nova guerra de listas para escolha da liderança foi travada, com reações das duas alas.

Major Vitor Hugo se apressou em afirmar que não havia nenhum acordo sobre o impasse do PSL. A Secretaria de Governo também negou que Ramos tenha feito qualquer compromisso com Bivar.

“Eu acredito que seja uma boa saída, mas isso tem de ser conversado com os dois lados. Eu não patrocinei acordo nenhum. Eu vi com bons olhos apenas”, disse Ramos à Folha.

“Não houve traição, má intenção nenhuma. Os ânimos estão muito exaltados.”

Segundo o ministro, ele telefonou a Bivar pela manhã para tratar de um projeto de lei pautado para esta terça-feira (22) que trata sobre interesses das Forças Armadas.

Ele disse ter sido consultado pelo presidente do partido sobre a possibilidade de se criar uma terceira via para a liderança do PSL.

Bivar teria questionado como o ministro via a possibilidade de Delegado Waldir e Eduardo abrirem mão da liderança. Segundo Ramos, ele respondeu ser positiva a movimentação, mas afirmou não ter se comprometido com acordo.

“Minha missão é o pacto federativo, a reforma da Previdência, não vou entrar numa crise interna do partido”, disse Ramos à Folha.

Ele afirmou ter conversado com deputados das duas alas do PSL e ter comentado que uma terceira via era uma saída, mas propôs que os parlamentares falassem entre si sobre essa possibilidade.

Para argumentar que não firmou um acordo, Ramos disse que seria impossível fazê-lo sem conversar com o presidente Jair Bolsonaro, que está em viagem ao Japão, e com o próprio Eduardo. Ele negou ter falado com eles.

A CRISE DO PSL NESTA SEGUNDA (21)
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Folha