Em cartilha, Bolsonaro afirma ter acabado com a corrupção

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Dida Sampaio/Estadão

Uma cartilha divulgada pelo Palácio do Planalto, nesta terça-feira, 5, para comemorar os 300 dias do governo de Jair Bolsonaro diz que a corrupção foi extirpada “do seio do poder federal”. Embora o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, tenha sido denunciado pelo Ministério Público de Minas por suspeita de envolvimento em esquema de candidaturas laranjas, nas eleições do ano passado, o presidente decidiu mantê-lo na equipe e não classifica esse caso como corrupção.

“Os escândalos de corrupção sumiram do Palácio do Planalto e dos noticiários. As instituições são respeitadas e a relação entre os poderes é transparente e limpa. Fraudes e desmandos estão sendo combatidos desde o primeiro dia de trabalho”, diz um trecho do documento de 17 páginas, intitulado “300 dias de Governo. 300 dias recuperando a confiança. 300 dias de resultados”.

Apesar dos graves problemas enfrentados recentemente, como queimadas na Amazônia e vazamento de óleo em praias do Nordeste, a cartilha afirma que no governo Bolsonaro o meio ambiente “está deixando de ser tratado como cavalo de batalha ideológico” e diz que a “instrumentalização partidária” dos últimos anos foi generalizada. “Os resultados dessa mudança de postura já são percebidos de diferentes formas, especialmente no Turismo, intimamente ligado ao Meio Ambiente”, destaca o texto.

O documento diz, ainda, que o governo enterrou o “toma lá dá cá” da distribuição de cargos em troca de votos no Congresso, embora o chamado “banco de talentos” seja feito de indicações políticas. Além disso, a cartilha afirma que a gestão Bolsonaro fez auditoria em benefícios suspeitos pagos às “vítimas da ditadura” – as palavras foram escritas entre aspas no texto do governo.

Caso Marielle

Também nesta terça-feira, Bolsonaro participou de um evento para celebrar os 300 dias de governo. Em discurso para uma plateia formada por ministros, senadores e deputados, no Palácio do Planalto, ele reiterou que não teve qualquer participação na morte da vereadora Marielle Franco e, mais uma vez, atacou a imprensa. “Não é uma imprensa que colabora com o Brasil essa que age desse jeito e diz agora que existe um segundo porteiro”, afirmou ele.

Reportagens veiculadas no Jornal Nacional mostraram que, durante as investigações realizadas pela polícia do Rio sobre a morte da vereadora, um telefonema teria sido feito para a casa do presidente no condomínio Vivendas da Barra, para onde se dirigiu o ex-PM Elcio Queiroz, suspeito da participação do crime, em 14 de março do ano passado, dia da execução. Bolsonaro era deputado e, na ocasião, estava em Brasília.

“Que motivo eu teria para cometer um ato daquele?”, questionou. “Estaria contrariando meus princípios cristãos. E outra, no que aquela pessoa me atrapalhava? Zero. Lamento por sua família pelo ocorrido. É uma marca que fica no Brasil e essa marca não é boa.”

Antes do discurso, um vídeo preparado especialmente para o evento foi apresentado, com frases que falavam sobre o resgate do patriotismo e destacavam a necessidade de colocar em cada projeto a marca do “novo Brasil”. Além do vídeo, foi deixada para a cerimônia a assinatura de um pacote de medidas. Ao todo, foram 7 propostas legislativas e decretos. Entre as principais propostas estão a Medida Provisória que quebra o monopólio da Casa da Moeda e o projeto de lei que permite a privatização da Eletrobrás.

No pronunciamento de menos de 15 minutos, o presidente também saiu em defesa de seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ). Partidos apresentaram nesta terça à Comissão de Ética um pedido para cassação do mandato do parlamentar. O requerimento é uma reação às afirmações feitas pelo deputado, na semana passada, sobre o retorno de medidas semelhantes ao AI-5, caso o Brasil enfrentasse manifestações como as que ocorrem no Chile.

“Devemos ter capacidade de nos antecipar aos problemas”, afirmou Bolsonaro sobre o Chile. “Aqui, alguns brasileiros ficam maquinando como chegar ao poder, seja qual forem os meios”.

Na defesa do filho, Bolsonaro também citou o seu passado. Lembrou que foi alvo de inúmeros processos de cassação. “Espero que Eduardo não entre nessa aí”, disse.Logo em seguida, emendou: “Mas sempre respeitaram a opinião.” Era uma alusão à imunidade parlamentar, prerrogativa que dá a deputados e senadores o direito de se expressar livremente no exercício de suas funções.

Estadão