Diego Nigro/Reuters

INPE só começa agora mapeamento de ondas de óleo

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Convidado pela Marinha somente no dia 25 de outubro para colaborar com as investigações sobre o derramamento de óleo que atinge o litoral do Nordeste, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) tem uma tecnologia que permite estimar por onde alguns bolsões com óleo podem estar se deslocando. Isso abre uma possibilidade para tentar contê-lo antes de chegar às praias.

É assim que o instituto, ligado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, deve colaborar a partir de agora, mas tinha condições de ter começado a fazer isso desde que as primeiras manchas foram avistadas no litoral, há dois meses. De acordo com o Ibama, 296 localidades já foram atingidas.

Especialista em monitoramento por satélite, o Inpe confirma o que vem sendo dito pelo governo federal de que não tem sido possível ver por satélite o óleo se deslocando.

O oceanógrafo Ronald Buss de Souza, que está interinamente como vice-diretor do Inpe, afirma que foram checadas as imagens disponíveis no instituto desse período – e referentes às áreas mais próximas da costa – e não foram detectadas as manchas. Isso corrobora a ideia de que o deslocamento se dá na subsuperfície.

A partir de agora, o órgão vai fazer um direcionamento específico do satélite CBERS para obter imagens de alto mar em algumas áreas específicas de onde se imagina que pode ter ocorrido o derramamento para ver se algo é encontrado.

Além disso, o núcleo de oceanografia do Inpe consegue analisar a partir de dados de ventos e correntes marítimas para onde o óleo pode estar indo. Segundo Souza, análises mostram que as correntes que vêm do alto mar, ao interagirem com a plataforma continental, formam o que ele chama de vórtices, giros no mar que acabam funcionando como bolsões com a capacidade de aprisionar manchas de óleo.

Os pesquisadores estão mapeando dinamicamente onde podem estar essas bolhas. “Não dá para saber se elas têm o material ou não, mas com a informação de onde elas estão, a Marinha poderia direcionar navios de pesquisa para esses locais para checar de fato esses vórtices têm óleo e iniciar algum trabalho de contenção”, explicou Souza em entrevista coletiva na sede do Inpe, em São José dos Campos.

Nessas condições, diz, a mousse de óleo (já modificado por conta dos ventos e das ondas) vai se erodindo em partes, por isso que elas vão chegando aos poucos às praias.

“Não nos interessa agora aqui no Inpe saber de qual navio veio. O ponto é que ainda existe mais óleo para vir e podemos mostrar onde está antes que chegue as praias. Por isso estamos mapeamos células de recirculação da água, esses vórtices. Porque se tiver um monte apreendido, podem chegar nele antes de chegar na costa”, afirmou. “É claro que pode ainda haver mais óleo no mar.”

Essas modelagens, explica o pesquisador, podem ajudar a identificar para os próximos meses caminhos preferenciais por onde manchas de óleo podem se movimentar. Para ele, o problema não vai se resolver só limpando a praia, mas como esse trabalho de sensoriamento para tentar identificar de onde vem o óleo.

Questionado sobre se ele considera que o governo demorou para convidar o Inpe a atuar no desastre, considerando essa capacidade de permitir ações antecipadas, Souza contemporizou. “Talvez o governo não reconhecesse que temos uma área forte de oceanografia no Inpe”, argumentou. “Não está na nossa missão principal trabalhar com oceano, talvez não soubessem que temos essa capacidade.”

Por outro lado, o instituto só informou a Marinha de que poderia ajudar cerca de uma semana antes do convite oficial. “A Marinha é o órgão competente. Se fez certo ou não, não compete a mim dizer”, disse.

Suposta mancha gigantesca

Souza afirmou que o primeiro posicionamento oficial do Inpe para a Marinha foi sobre a suposta mancha gigantesca, de 200 km², que teria sido avistada na costa sul da Bahia no último dia 28. Pesquisadores das universidades federais de Alagoas e Rio de Janeiro disseram se tratar de óleo, mas o Ibama e a Marinha disseram que não eram.

Souza analisou também a imagem e afirmou se tratar de um bloom de algas formando um biofilme na superfície. Ele disse que isso é comum perto da costa e que o cruzamento da imagem de satélite com dados de temperatura da água e da presença de clorofila o permitiu chegar a essa conclusão.