Marta volta ao PT para enfrentar extrema-direita
Foto: RENATA ARMELIN
Cotada para compor a chapa do PT na disputa pela Prefeitura de São Paulo no ano que vem, a ex-prefeita e ex-senadora Marta Suplicy, atualmente sem partido, disse que seu foco é ajudar na criação de uma frente ampla contra o que ela chama de “retrocesso no processo civilizatório” e, para isso, está disposta a cumprir qualquer função nas eleições do ano que vem.
Depois de participar do jantar de final de ano do grupo Prerrogativas, que reuniu mais de 300 advogados e lideranças de centro-esquerda em uma churrascaria, em São Paulo, Marta disse que a criação de uma frente para se contrapor à extrema direita representada pelo governo Jair Bolsonaro passa pelas eleições de 2020 e que está em uma “situação privilegiada” por não almejar cargos.
“Ser candidata não é o meu propósito. Meu propósito é ajudar. Estou numa situação privilegiada. Eu não tenho o desejo de (disputar cargos). Não vou brigar para ser isso ou aquilo. Não estava no meu radar. Meu radar é criar uma frente forte, mesmo porque acho que estamos correndo risco sério”, disse a ex-prefeita.
O jantar foi uma espécie de retorno de Marta ao ambiente político, em que ela fez carreira, mas do qual estava afastada desde que deixou o PT para se filiar ao PMDB, com duras críticas aos petistas e apoiando o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
Além dela, estavam no encontro o ex-governador Márcio França (PSB), pré-candidato a prefeito; o ex-deputado Gabriel Chalita (que também está sem partido), o ex-prefeito Fernando Haddad (PT); o deputado Marcelo Freixo (PSOL), pré-candidato à prefeitura do Rio; o presidente do PSOL, Juliano Medeiros, e vários parlamentares como o deputado Rui Falcão (PT-SP).
Marta e Falcão, que foi homem forte na gestão da ex-prefeita, se cumprimentaram gentilmente depois de muitos anos de rompimento político.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva era esperado, mas não compareceu. O caráter suprapartidário do encontro, no entanto, podia ser resumido com a presença do filhos de Lula, Fábio Luiz, e da filha do ex-presidente Michel Temer, Luciana, que foi secretária municipal de Assistência Social durante o governo Haddad.
A presença da ex-prefeita era o assunto principal nas mesas e rodas de conversa do jantar. Muitos participantes não escondiam a empolgação com a possibilidade de Marta voltar ao PT e ser candidata à Prefeitura pelo partido. Indagada sobre os recentes elogios recebidos de Lula e a declaração do ex-presidente de que ela poderia voltar para o PT do mesmo jeito que saiu, Marta foi econômica:
“Eu fiquei muito honrada com a fala do Lula e estou imersa na atividade da frente ampla. Acho que é ela que tem a possibilidade de dar uma resposta ao retrocesso no processo civilizatório. Eu me pus como cabo eleitoral.”
Marta ficou em uma mesa grande ao lado do marido, Marcio Toledo, Maristela e Fernando Haddad, o tesoureiro do PT, Emídio de Souza, Márcio França e vários advogados.
O jantar, que também marcou o lançamento do site do Prerrogativas, teve como homenageados os advogados Sigmaringa Seixas – morto em dezembro do ano passado –, Celso Antônio Bandeira de Mello e Weida Zancaner. Durante o encontro, vários oradores manifestaram preocupação com a possibilidade de o Congresso aprovar uma emenda constitucional que classifique como transitadas em julgado sentenças dadas em segunda instância. No domingo, o Estado mostrou que a maioria do Congresso apoia a retomada da prisão em segundo grau.
Praticamente todos os advogados que defenderam o fim da prisão em segunda instância no Supremo Tribunal Federal estavam no evento. Segundo Marco Aurélio Carvalho, coordenador do grupo, o tema está entre as prioridades do grupo para o ano que vem. “O principal desafio nosso é impedir que o Congresso provoque retrocessos na legislação penal aprovando a prisão em segunda instância e trechos do pacote anticrime do ministro Sérgio Moro”, disse ele.
Criado na virada de 2013 para 2014, o Prerrogativas articula centenas de advogados em pelo menos três grupos de WhatsApp. Entre seus participantes estão dirigentes das principais entidades da categoria como Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD), Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim) entre outros.
Ao longo deste ano, o grupo serviu de plataforma para que advogados orientassem parlamentares em votações de temas relevantes para a advocacia no Congresso.