Bolsonaro está por trás dos atos do enrolado Flávio
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Se nem o presidente Jair Bolsonaro acredita em boa parte do que diz, como pode pretender que os outros acreditem nele? E nem por isso ele deixa de mentir dia após dia – e, com certa frequência, mais de uma vez por dia, a depender da necessidade.
Sobre o que ele, Flávio, o advogado de Flávio e Eduardo conversaram, anteontem, no Palácio da Alvorada poucas horas depois da operação policial no Rio que agravou a situação do senador e do seu ex-motorista Fabrício Queiroz?
Conversaram sobre Adélio Bispo, o desequilibrado mental que está preso por ter esfaqueado Bolsonaro em Juiz de Fora, em setembro do ano passado. Sobre outras coisas não conversaram, disse o presidente da República em entrevista.
Ante a insistência dos jornalistas em perguntar sobre Flávio e Queiroz, Bolsonaro emendou: “Falo por mim. Problemas meus, eu respondo. Dos outros, nada tenho a ver”. Como dos outros? Um dos outros é seu filho mais velho. O outro, seu amigo há 40 anos.
O grau de autonomia dos filhos de Bolsonaro é ralo. Carlos foi obrigado a se candidatar a vereador só para derrotar a própria mãe vereadora e candidata à reeleição. Eleito pelo Partido Progressista (PP), afirmou que fora eleito pelo “Partido do Meu Pai”.
Candidato a prefeito do Rio, Flávio desmaiou durante um debate de televisão, foi socorrido por dois dos seus adversários e depois agradeceu a ajuda deles por meio de uma nota. Bolsonaro desautorizou a nota e escalou Carlos para tomar conta do irmão.
Foi Bolsonaro que montou o primeiro escalão do gabinete de Carlos na Câmara Municipal. Foi ele que escalou Queiroz para assessorar Flávio. Está provada sua interferência no emprego de pessoas que ora serviam a ele, ora a Carlos, ora a Flávio.
O Ministério Público descobriu que Queiroz, num período de três anos, movimentou em sua conta R$ 7 milhões. Nesse mesmo período, Queiroz depositou R$ 24 mil na conta de Michelle, a atual mulher de Bolsonaro. E como Bolsonaro justificou o depósito?
Dinheiro de dívida. Sim, Queiroz lhe devia R$ 24 mil. E pagou em parcelas mensais, taokey? Não, não está. Conta outra. Na toada do pai, Flávio contou que os R$ 21,2 mil que um policial militar depositou em sua conta eram também dinheiro de dívida.
O policial torrou toda essa grana comprando doces na chocolateira que Flávio e um amigo abriram na Barra da Tijuca. De fato, segundo o Ministério Público, Flávio usou a chocolateira para lavar parte do salário devolvido por funcionários do seu gabinete.
A respeito do sufoco em que se encontram Flávio e Queiroz, Bolsonaro não deu um pio na transmissão semanal ao vivo que faz às quintas-feiras no Facebook. Em compensação, como de hábito, aproveitou a ocasião para disseminar novas mentiras.
Um dia antes, dissera que estava disposto a vetar o fundo de R$ 2 bilhões aprovado pelo Congresso para financiar as eleições do próximo ano. Seria dinheiro demais. O fundo de R$ 2 bilhões foi proposta dele. Se dependesse do Congresso seriam R$ 3,8 bilhões.
No Facebook, Bolsonaro recuou do veto. Alegou que se o usasse, poderia sofrer um processo de impeachment por crime de responsabilidade. Falso! O presidente pode vetar no todo ou em parte uma decisão do Congresso. Que pode derrubar o veto.
O recuo de Bolsonaro deve-se ao fato de que o Congresso derrubaria o veto. E, depois, poderia retaliar dificultando a aprovação de outros projetos do governo. A mentira não é monopólio de Bolsonaro. Mas ele mente por compulsão.
Cadê as ONGs que tocaram fogo na Amazônia? E o navio grego que poluiu o mar do Nordeste com petróleo venezuelano? E a caixa preta do BNDES que guardava segredos cabeludos de governos passados? Está vazia, segundo o presidente do banco.
Nunca teve ditadura no Brasil, disse Bolsonaro. Teve sim, e isso não é questão de ponto de vista, é fato. Fazer cocô dia sim, dia não, vai melhorar o meio ambiente, disse Bolsonaro. Não, não vai. Passar fome no Brasil é uma mentira, disse Bolsonaro. Não, não é.
Trabalho infantil “não prejudica em nada”, disse Bolsonaro. Prejudica, sim, as crianças. Como pode matá-las a falta de cadeirinhas nos carros. O nazismo era de esquerda, disse Bolsonaro. Jamais foi. Foi invenção da extrema-direita alemã.
O holocausto de 6 milhões de judeus na Alemanha de Hitler é perdoável, disse Bolsonaro. Não, não é. Mas como nesse caso trata-se de mera opinião, por mais reles que ela seja, Bolsonaro pode continuar pensando assim, se quiser.