Bolsonaro quer que Datena concorra em SP
Foto: Fabio Vieira/Foto Rua
O presidente Jair Bolsonaro pode ficar sem candidato próprio tanto à Prefeitura de São Paulo quanto à do Rio, já que não há perspectiva de viabilizar o Aliança pelo Brasil – a nova sigla que tenta estruturar – em tempo hábil para disputar a eleição.
Em São Paulo, Bolsonaro articula a candidatura do apresentador José Luiz Datena, mas há dificuldades para encontrar um partido grande que abrigue o jornalista. O Republicanos tem compromisso prévio com seu deputado mais bem votado, Celso Russomanno, que terá preferência para escolher entre ser candidato novamente, ser vice ou ficar de fora da eleição. No MDB a preferência é por integrar a chapa que irá tentar reeleger Bruno Covas (PSDB). E o PSD já tem candidato lançado, o ex-vereador Andrea Matarazzo.
No Rio de Janeiro, o presidente tenderia a apoiar a candidatura à reeleição de Marcelo Crivella (PRB) para a prefeitura. O problema é que o prefeito carioca é reprovado por 72% do eleitorado da capital fluminense, segundo o último levantamento realizado pelo Datafolha.
Nesse cenário negativo, a hipótese mais provável é que Bolsonaro mantenha distância segura de Crivella, para evitar ter sua imagem associada ao prefeito carioca. O jornalista tem dito a interlocutores nos partidos que desta vez é para valer, que está de fato disposto a concorrer à prefeitura. A única condição que tem imposto é que seja o candidato ungido por Bolsonaro. Mas os dirigentes lembram as diversas vezes em que o apresentador ameaçou se lançar e recuou na última hora.
O jornalista e o presidente estão cada vez mais próximos. Bolsonaro costuma escolher o programa de Datena para dar entrevistas ao vivo quando deseja falar de temas de seu interesse. Ou quando quer esclarecer temas polêmicos que envolvam seu governo e seus filhos.
Para um experiente político que se tornou próximo do apresentador nos últimos anos, as chances de Datena concorrer à prefeitura são remotas, seja no MDB ou em outro partido. Segundo esse interlocutor, o apresentador “se regozija” quando é reconhecido como candidato forte na disputa por cargos eletivos. Mas não esconde a reticência em deixar sua carreira de apresentador – que inclui relevantes ganhos com contratos de publicidade – e ter a sua vida e intimidade devassadas em uma campanha acirrada como costuma ser a eleição para prefeito de São Paulo. Datena também leva em conta o atual ambiente de polarização política por que passa o país, segundo esse interlocutor.
O apresentador tem histórico de filiação partidária. Já foi filiado até ao PT, legenda que está no extremo oposto do espectro político de Bolsonaro. No ano passado, o apresentador filiou-se ao DEM e chegou a ser anunciado oficialmente como candidato da legenda ao Senado, com direito a entrevista coletiva. No entanto, menos de uma semana após o anúncio de sua filiação, desistiu. Dias depois, diante das câmeras em seu programa policial diário na TV, Datena justificou-se. Disse que não se sentia preparado para “ajudar o país” pela via política e afirmou que ainda não havia chegado a hora de se lançar candidato. A expectativa no meio político é que essa hora não chegará tão cedo. Ao menos não a tempo da eleição do ano que vem.
Datena é próximo do principal dirigente do PSD, o ex-prefeito Gilberto Kassab, mas dentro do partido o discurso é de que a cabeça de chapa da legenda já tem dono definido. “O Kassab me garantiu que serei o candidato a prefeito de São Paulo, função para a qual estou me preparando há 12 anos”, disse ao Valor Andrea Matarazzo. Ele descarta a possibilidade de ser candidato a vice em uma chapa com Datena. “De jeito nenhum.”
Kassab confirmou à reportagem que o cabeça de chapa do PSD na eleição municipal paulistana será Matarazzo. O secretário licenciado de Doria e ex-ministro de Dilma Rousseff (PT) não quis, no entanto, falar sobre as articulações para a eleição de 2020. “Temos candidato definido sim, e é o Andrea Matarazzo. Mas ainda é cedo para discutir outras questões” disse.
Datena procurou o presidente nacional do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), para saber se poderia ser o candidato do partido à prefeitura paulistana.
“De fato existiu uma conversa minha com ele. No partido estamos avaliando, porque temos um bom nome e candidato natural que é o Celso Russomanno”.
Russomanno quer disputar a prefeitura, conforme apurou a reportagem. Se assim decidir, a candidatura de Datena pelo Republicanos estará inviabilizada.
Por ora, a opção mais factível para Datena é o MDB. O partido tende a apoiar Covas à reeleição. A vice na pré-candidatura do tucano está em aberto e interessa ao MDB. Mas as discussões sobre o nome do vice só vão começar quando o quadro político estiver definido.
Mas, segundo um dirigente partidário ouvido pelo Valor, na hipótese de Datena oficializar sua pré-candidatura, o fato não deixará de ser “considerado” pelo MDB.”