Câmara pede oficialmente impeachment de Trump
A presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, pediu formalmente, nesta quinta-feira, 5, a redação das acusações paras submeter o presidente Donald Trump a um julgamento político, alegando que seu abuso de poder para benefício político não deixa outra opção a não ser agir. Com isso, a democrata dá sinal verde para o presidente ser colocado em estado de acusação.
“Infelizmente, mas com confiança e humildade, com lealdade aos nossos fundadores e um coração cheio de amor pelos Estados Unidos, hoje estou pedindo ao nosso presidente (da Comissão de Justiça da Câmara dos Deputados, Jerry Nadler) que proceda com a redação dos artigos de impeachment”, disse a líder democrata no Congresso.
Trump “se envolveu em abuso de poder, minou nossa segurança nacional e comprometeu a integridade de nossas eleições”, disse Pelosi em uma curta declaração, sem anunciar quais serão as acusações. Trump pode ser acusado de suborno, abuso de poder, obstrução do Congresso e obstrução da justiça.
“Os fatos são indiscutíveis. O presidente abusou de seu poder para seu próprio benefício político às custas de nossa segurança nacional”, afirmou. “Se permitirmos que um presidente esteja acima da lei, certamente o faremos com o risco de nossa república”, acrescentou.
Como a maioria dos membros da Câmara controlada pelos democratas já expressou sua intenção de apoiar o procedimento, Trump provavelmente se tornará o terceiro presidente da história dos EUA a ser levado a julgamento político pela Câmara dos Deputados.
A Casa Branca respondeu instantaneamente. “Os democratas deveriam sentir vergonha”, disse a porta-voz de Trump Stephanie Grisham em um tuíte.
Desafiador, Trump declarou no Twitter que sairá vitorioso do processo de impeachment. “O bom é que os republicanos NUNCA estiveram tão unidos. Venceremos!”, tuitou Trump, cujo Partido Republicano controla o Senado, que eventualmente seria responsável por removê-lo do cargo.
Minutos antes, o presidente já havia instigado seus oponentes democratas a agirem imediatamente, para que o país possa avançar em outros assuntos.
“Se vão me acusar, façam isso agora, rápido, para que possamos ter um julgamento justo no Senado”, disse. “Revelaremos, pela primeira vez, quão corrupto nosso sistema realmente é. Fui escolhido para ‘Limpar o pântano’, e é isso que estou fazendo!”, acrescentou Trump.
O processo para a eventual destituição de Trump foi iniciado pelos democratas no fim de setembro, depois que se soube que o presidente pediu à Ucrânia que investigasse Joe Biden, seu possível rival nas eleições em 2020.
Os democratas estão convencidos de que o presidente republicano abusou de seu poder para promover sua campanha de reeleição, pressionando Kiev ao reter cerca de US$ 400 milhões de ajuda militar para o conflito que o país mantém com a Rússia.
‘A sra. odeia o presidente?’, questiona repórter
Após seu anúncio, a democrata teve um momento tenso com um dos repórteres presentes na entrevista coletiva que perguntou se “ela odiava” o presidente Trump. “Eu não odeio ninguém. Fui criada em uma casa católica, não odiamos ninguém – ninguém no mundo. Portanto, não me acuse de nenhum ódio”, disse Pelosi.
“Como católica, eu me ressinto de você usar a palavra ‘ódio’ em uma frase que me aborde”, continuou ela. “Eu oro pelo presidente o tempo todo. Portanto, não mexa comigo quando se trata de palavras assim.”
A troca tensa e emocional ocorreu quando ela já havia encerrado uma série de perguntas e estava deixando o palco. Nesse momento, o repórter, o ex-correspondente da Fox News em Washington e agora repórter do Sinclair Broadcast Group James Rosen, fez a pergunta final: “A sra. odeia o presidente, sra. presidente (da Câmara)?”
Pelosi parou de repente e se virou para ele diretamente, com o dedo em riste. Ela então voltou ao pódio para defender sua posição no impeachment.
A líder democrata estabeleceu uma distinção entre as posições de Trump sobre questões políticas, que deveriam ser deixadas aos eleitores para julgar, e as negociações com a Ucrânia, que ela descreveu como uma violação constitucional que deixou os democratas “sem escolha” a não ser prosseguir sua investigação de impeachment.
“Acho que o presidente é um covarde quando se trata de ajudar nossos filhos que têm medo da violência armada. Acho que ele é cruel quando não trata de ajudar nossos ‘dreamers’, dos quais estamos muito orgulhosos, na negação da crise climática. No entanto, essas são para as eleições”, disse ela.
O impeachment, continuou, “é sobre a Constituição dos Estados Unidos e os fatos que levam à violação do presidente de seu juramento de mandato”.
“Se não agirmos sobre isso, a mensagem para qualquer futuro presidente – democrata, republicano, seja quem for – é: você pode fazer o que quiser”, disse ela. “E se não agirmos sobre isso, devemos alterar a Constituição e remover o impeachment – o que foi muito importante para nossos fundadores.”
Mais tarde, Trump acusou Pelosi de “ter um ataque de nervos” em um tuíte postado logo após as declarações, dizendo que ele “não acredita nela, nem um pouco” quando ela diz que ora por ele.
ESTADÃO