Deputados da Alesp batem recorde de quebra de decoro parlamentar em 2019
A chegada do PSL à Assembleia Legislativa de São Paulo, aliada à alta taxa de renovação e ao acirramento da polarização política mesmo após as eleições, provocou um efeito colateral no dia a dia da Casa ao longo de 2019. De março para cá, o Conselho de Ética registrou 21 denúncias ou representações entre colegas por quebra de decoro parlamentar, marca recorde. Em 18 delas há envolvimento de algum deputado do PSL, como autor ou como alvo. Desse total, três já resultaram em advertências.
O clima quente, marcado por debates ideológicos entre representantes da direita e da esquerda, teve início ainda antes da posse da nova legislatura. Há um ano, o evento de diplomação foi marcado por uma confusão entre deputados do PSL, do PSOL e do PT, numa pista do que seria esse confronto no plenário. São esses os partidos que protagonizaram a maior quantidade de embates (veja quadro) neste ano.
No dia 4 de dezembro, essa tensão chegou ao ápice. Após xingar servidores e sindicalistas que protestavam contra a reforma da Previdência estadual de “vagabundos”, o deputado Arthur do Val (sem partido), o Mamãe Falei, quase trocou socos com colegas em plena tribuna.
Para a presidente do Conselho de Ética, deputada Maria Lúcia Amary (PSDB), as imagens revelam a imaturidade dos novatos e prejudicam a imagem da Casa diante da população. “Nunca vi isso em cinco mandatos aqui na Casa. Está certo que temos novos componentes neste ano – uma bancada de extrema direita robusta, formada pelo PSL, e uma bancada de extrema esquerda fortalecida, formada pelo PSOL, que cresceu em representantes. Mas, no Parlamento, a força não deve ser o fator determinante, mas, sim, o diálogo”, disse Maria Lúcia. Segundo ela, desde 1999 o Conselho arquivava todas as denúncias apresentadas.
Na avaliação da deputada, os novatos estão resgatando comportamentos de um tempo que se quer esquecer. Na lista de processos, há duas denúncias do PT contra Frederico d’Avila (PSL), que tentou promover uma sessão pela memória do ditador Augusto Pinochet, que governou o Chile entre 1973 e 1990. No período, 200 mil pessoas foram exiladas e mais de 3 mil mortas, sem contar os desaparecidos.
“A Alesp já liberou homenagem para (Carlos) Marighella, (Carlos) Lamarca, Dilma (Rousseff), (João Pedro) Stédile, do MST. Todos terroristas. Nunca esses atos foram barrados. A única maneira de frear isso era jogar uma bomba ninja mesmo”, disse o deputado, referindo-se à tentativa de homenagear Pinochet. “Cada um tem as suas referências.”