Fala de Trump derruba o dólar no Brasil
Foto: Gary Cameron/Reuters
O dólar fechou em queda no 1º pregão do mês de dezembro, depois de ter acumulado avanço de mais de 5% em novembro e após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, dizer nesta segunda-feira (2) que irá restaurar tarifas sobre importações de aço e alumínio do Brasil e da Argentina. A moeda norte-americana também foi influenciada pelos leilões do Banco Central.
O dólar caiu 0,64%, a R$ 4,2127. Na abertura, chegou a operar em alta, batendo R$ 4,2556. Veja mais cotações.
A moeda norte-americana passou a cair depois da realização dos leilões do Banco Central, que vendeu neste pregão 9.600 contratos de swap cambial reverso e US$ 480 milhões em moeda spot, de oferta de até 10 mil contratos e US$ 500 milhões, respectivamente, destacou a Reuters. Adicionalmente, o BC leiloará contratos de swap tradicional, para rolagem do vencimento fevereiro de 2020.
Na sexta-feira, a moeda dos EUA fechou a R$ 4,2397, em alta de 0,57%, acumulando valorização de 5,73% no mês de novembro. No ano, tem alta de 9,43% frente ao real.
A projeção do mercado financeiro para a taxa de câmbio no fim de 2019 permaneceu em R$ 4,10 por dólar, segundo pesquisa Focus do Banco Central divulgada nesta segunda. Para o fechamento de 2020, subiu de R$ 4 para R$ 4,01 por dólar.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acusou nesta segunda-feira, em uma rede social, Brasil e Argentina de desvalorizarem “maciçamente” suas moedas, e afirmou que vai reinstalar as tarifas de importação sobre o aço e o alumínio dos dois países.
O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta segunda-feira que, se necessário, conversará com o Trump a respeito do restauração de tarifas sobre a importação, pelos EUA, de aço e alumínio de Brasil e Argentina.
Analistas ouvidos pelo G1 rebatem, porém, a acusação de Trump de que Brasil estaria desvalorizando o real como uma política cambial e destacam que entre os principais fatores que explicam uma disparada do dólar no país nas últimas semanas está justamente a prolongada guerra comercial entre Estados Unidos e China.
Para o economista da Austin Rating, Alex Agostini, Trump tem o foco na sua agenda de reeleição e a declaração visa agradar a sua base de apoio político, que são os empresários norte americanos”. “A declaração de Trump deixa evidente que ele parece não compreender como funciona o mercado de câmbio global. Ou seja, quais os fatores que influenciam o preço das moedas de forma direta e indireta”, disse.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reafirmou nesta segunda-feira que o câmbio no Brasil é flutuante e que a autoridade monetária só intervém quando há uma disfuncionalidade no mercado. “(O câmbio) é flutuante e só existe intervenção quando o Banco Central entende que tem alguma disfunção”, afirmou.
O real foi a quarta moeda que mais perdeu valor em relação ao dólar no mês de novembro, segundo levantamento da Austin Rating com o comparativo das variações de 121 moedas no mundo.
O real se desvalorizou 5,2% frente ao dólar em novembro, ficando atrás somente do bolívar soberano, da Venezuela (-36,1%), do kwacha, da Zâmbia (-9,3%), e do peso do Chile (-8,1%).
No acumulado no ano, o Brasil ocupa a 13ª posição no ranking das moedas que mais perderam valor frente ao real. A liderança é da Venezuela (-98,3%), seguida pela Argentina (-37,2%) e Angola (-37%).
A alta do dólar tem como pano de fundo principal o movimento de saída de dólares do país e a preocupação com a desaceleração da economia mundial e as incertezas em torno das negociações comerciais entre a China e os Estados Unidos para colocar fim à guerra comercial que se arrasta desde o começo de 2018.
Além disso, também tem pesado no câmbio a maior tensão social na América Latina e a queda dos juros no Brasil e o diferencial em relação aos Estados Unidos, o que também contribui para manter afastado um fluxo maior de capital externo para o mercado brasileiro.
Integrantes da equipe econômica do governo têm sinalizado que o novo patamar do dólar veio para ficar. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, já disse que, apesar da alta recente da moeda norte-americana, o órgão não tem uma meta para a taxa de câmbio.
Na semana passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que, diante da redução da taxa básica de juros no país, o câmbio de equilíbrio “tende a ir para um lugar mais alto”. Com isso, o mercado também ‘testa’ o limite do câmbio, o que contribui para uma maior volatilidade.