Novos detalhes sobre a “rachadinha” dos Bolsonaro no RJ
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O Ministério Público do Rio de Janeiro identificou seis grupos envolvidos em uma suposta organização que atuava no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro — hoje senador — na Assembleia Legislativa do RJ. O parlamentar é alvo de uma investigação para identificar a prática de “rachadinha”, que consiste na devolução de parte dos salários de funcionários do gabinete para o deputado e seria operada pelo seu ex-assessor Fabrício Queiroz, policial militar aposentado.
De acordo com o Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção, o primeiro grupo é formado por Queiroz, sua esposa e duas filhas, além de oito assessores que “mantiveram transações financeiras mais relevantes” com suspeito de ser o pivô do esquema. O MPRJ também afirma que uma assessora chegou a sacar praticamente todos os seus salários para o ex-PM.
As investigações também apontam um núcleo formado por Adriano Magalhães da Nóbrega, suspeito de integrar a milícia conhecida como “Escritório do Crime”, que atua na zona oeste da capital fluminense. Neste grupo, o MPRJ incluiu a esposa de Nóbrega, Danielle Mendonça da Costa, e sua mãe, Raimunda Veras Magalhães. As duas são apontadas como “ex-assessoras fantasmas” que transferiam recursos para Queiroz.
No terceiro grupo, a maioria tem alguma relação de parentesco com Ana Cristina Valle, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro. Este núcleo conta com catorze pessoas, incluindo primos, tios, sua irmã Andrea Siqueira Valle e o pai José Candido Procópio da Silva Valle. Segundo o MPRJ todos são ex-assessores que, embora morassem em Resende na época dos fatos investigados, sacavam os salários recebidos da Alerj e repassavam a outros membros da organização criminosa.
O MPRJ identificou um quarto núcleo, formado pelo sargento da PM Diego Sodré de Castro Ambrósio e sua empresa de vigilância. Segundo as investigações, o policial quitou com recursos próprios um boleto de 16.564,81 reais em nome da mulher de Flávio, Fernanda Antunes Nantes Bolsonaro. Além disso, diz o MPRJ, realizou transferências para outros assessores da Alerj e para a conta de uma loja de chocolates da qual o senador é sócio.
O quinto grupo apontado pelo MPRJ envolve suspeitas de lavagem de dinheiro e Alexandre Ferreira Dias Santini, sócio de Flávio na loja de chocolates, além de sua antiga empresa de comércio exterior e logística.
O sexto e último núcleo é formado, segundo o MPRJ por Glenn Howard Dillard e sua empresa de consultoria imobiliária, “envolvidos em ato de lavagem de dinheiro mediante aquisição subfaturada de imóveis”.
A suspeita do MPRJ é que Flávio recebia parte dos salários de seus funcionários através do esquema operado por Queiroz. Embora o caso tenha vindo à tona há cerca de um ano, quando um relatório Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) indicou operações financeiras atípicas nas contas do ex-assessor, o órgão deflagrou nesta quarta-feira, 18, uma operação para aprofundar as apurações. Ambos negam qualquer irregularidade.
Além de Queiroz e do senador, outras 101 pessoas físicas e empresas que passaram pelo gabinete de Flávio Bolsonaro durante seu mandato na Alerj entre 2003 e 2018 já tiveram quebrados seus sigilos bancário e fiscal. A investigação apura se houve crime de peculato, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio e organização criminosa.
A operação de ontem incluiu a quebra de sigilo telefônico de pessoas ligadas à família Bolsonaro. O objetivo era identificar mensagens e registros de diálogos dos suspeitos. Uma loja de chocolates no shopping Via Parque, na Zona Oeste do Rio também foi alvo de busca. Segundo o advogado de Flávio, Frederick Wassef, a loja foi arrombada.