Queiroz alegou doença para evitar depor
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Fabrício Queiroz tem evitado o Ministério Público fluminense desde o início das investigações do suposto esquema de rachadinha (desvio de salários) no gabinete do então deputado estadual e hoje senador Flávio Bolsonaro, de quem era assessor.
Sucessivamente, o PM aposentado e ex-assessor do parlamentar faltou a quatro convites para depoimentos no MP, alegando doença. Paralelamente apresentou, por escrito ou na mídia, diferentes explicações para o R$ 1,2 milhão que, em pouco mais de um ano, transitou por sua conta bancária.
Comparada aos vencimentos do servidor, o montante chamou a atenção do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), revelou o Estado. O órgão considerou os números incompatíveis, e a movimentação, atípica.
A primeira oitiva de Queiroz foi marcada para 6 de dezembro do ano passado, mesma data em que o Estado revelou o caso. Mas o assessor não compareceu. O MP remarcou a data para o dia 19 do mesmo mês, mas, novamente, ele não se apresentou. Desta vez alegou “uma inesperada crise de saúde”. Mais uma vez, o MP remarcou o depoimento, para dois dias depois. Em 21 de dezembro, a defesa do PM pediu um novo adiamento, alegando que Queiroz estava fora do Rio para tratar um câncer. Menos de uma semana depois, foram apresentados laudos médicos que atestavam a doença.
Embora alegasse que não poderia comparecer aos depoimentos por causa da enfermidade que enfrenta, Queiroz aceitou conceder entrevista ao SBT. Nela, tentou explicar, pela primeira vez, de onde viriam os seus rendimentos.
“Eu sou um cara de negócios”, disse na entrevista. “Eu faço dinheiro, compro, revendo, compro, revendo, compro carro, revendo carro….Sempre fui assim, gosto muito de comprar carro de seguradora. Na minha época, lá atrás, comprava um carrinho, mandava arrumar, revendia.”
Um ex-colega do ex-assessor, o PM Agostinho Moraes da Silva, único dos ex-integrantes do gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio a depor no MP, afirmou que entregava parte do salário a Queiroz. O objetivo seria investir nos supostos negócios com veículos. Nem ele nem o PM aposentado, porém, apresentaram qualquer documento que comprovasse os supostos negócios com veículos que teriam gerado o dinheiro. Seria tudo em dinheiro vivo, sem recibo, nem impostos – nenhum papel que registrasse os negócios.
Em 30 de dezembro, Queiroz foi internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e submetido a uma cirurgia para retirada de um tumor maligno no intestino. Na ocasião, ele disse que pagara a internação e a cirurgia com recursos próprios. Parte (R$ 64 mil) foi em dinheiro vivo. No dia seguinte à sua alta, o PM aposentado disse ao Estado que esclareceria “em breve” as movimentações atípicas em sua conta, mas não disse quando pretendia fazê-lo.
Finalmente, em 28 de maio deste ano, Queiroz se manifestou por escrito ao MP. Afirmou que era o responsável pelo “gerenciamento financeiro” dos salários dos servidores lotados no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj, que recolheria. Mas não investiria o dinheiro em compra e venda de carros. Queiroz redistribuiria os recursos por um número maior de pessoas. O grupo incluiria assessores informais, encarregados de dar capilaridade ao mandato do então deputado estadual. Este, no entanto, não conheceria essa prática, segundo o ex-assessor.
Embora até contraditórias em alguns pontos, as explicações de Queiroz tinham algo em comum. Para apresentá-las, o ex-assessor não precisou enfrentar questionamentos do MP do Rio. Até hoje evita se expor.