Renda levará 18 anos pra voltar à era PT
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Mesmo com o ganho de tração da atividade econômica no terceiro trimestre, a jornada de recuperação da renda per capita dos brasileiros aos níveis pré-recessivos permanecerá longa. A depender do ritmo da economia daqui para frente, o país poderá levar mais seis a 18 anos para zerar perdas da crise.
De acordo com cálculos do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), o PIB per capita – medida do Produto Interno Bruto (PIB) pelo número de habitantes do país – cresceu 0,4% no terceiro trimestre deste ano, frente aos três meses anteriores, feitos os ajustes sazonais.
Na comparação ao mesmo período do ano passado, o indicador mostrou o mesmo crescimento, de 0,4%.
Mantido esse ritmo de recuperação econômica, o PIB per capita voltará ao nível pré-recessão – registrado no primeiro trimestre de 2014, conforme a medição do Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace) da FGV – apenas daqui a 18 anos, ou seja, em meados de 2037.
O Brasil passou por uma grande recessão de segundo trimestre de 2014 ao quarto trimestre de 2016. O PIB per capita recuou 10,2% nesse período.
O tempo de recuperação poderá, contudo, ser reduzido para apenas seis anos se a economia acelerar como previsto em 2020 – e mantiver o ritmo nos anos posteriores. Economistas consultados pelo boletim Focus, do Banco Central (BC), projetam um avanço de 2,2% do PIB no ano que vem. Descontada a variação da população, o PIB per capita do país cresceria do país cresceria 1,3%.
“Ao que tudo indica, a atividade econômica deverá realmente ganhar mais ritmo daqui para frente, o que aceleraria a recuperação do PIB per capita. É algo que ainda é uma hipótese, que depende do que vai acontecer com redução da incerteza dos agentes”, disse Juliana Trece, economista do Ibre/FGV.
Como as projeções de crescimento têm sido frustradas nos últimos anos, a pesquisadora também calculou um cenário intermediário, que repete o desempenho da atividade em 2017 e 2018, quando o PIB cresceu 1,3% em cada ano. Nesse quadro, o PIB per capita avançaria 0,5% ao ano e levaria mais 15 anos para atingir o nível pré-recessivo.
Em todos os cenários traçados, contudo, a saída da crise economica é considerada por ela como a mais lenta da história. Desde o fim da recessão, no primeiro trimestre de 2017, o PIB per capita recuperou-se apenas 2,6%.
“Nunca vimos uma retomada tão lenta da economia, nem nos anos 80, quando o país entrou em recessão mais de uma vez”, afirmou Trece.
O PIB per capita do terceiro trimestre deste ano foi de R$ 8.785 – algo como R$ 35 mil anualizado. No pico da série com ajuste sazonal, registrado no terceiro trimestre de 2013, esse valor estava em R$ 9.525. Essa riqueza, é claro, não é igualmente distribuída pela população, característica que, inclusive, se acentuou durante a crise.
No acumulado de quatro trimestre, o PIB per capita mostrou avanço de 0,2%. Para chegar ao número, o Ibre/FGV divide o valor do PIB pela população total, que cresce atualmente num ritmo médio de 0,8% ao ano.
Trece lembra que a população deve avançar mais lentamente nos próximos anos. O ritmo de aumento populacional deverá encolher para 0,7% em 2021 e 0,6% em 2024. E assim por diante. Se o denominador (a população) será menor, a lógica seria o PIB per capita avançar mais rapidamente. A economista pondera, porém, que demografia também influencia o desempenho da atividade.
“Fica cada vez mais difícil crescer porque temos um avanço cada vez menor da força de trabalho, que é a população economicamente ativa. Em algum momento outros países já enfrentam esse tipo de problema”, disse a pesquisadora.