SP terá ato contra aumento nos transportes em janeiro
Mais um início de ano, mais um aumento na tarifa do transporte público de São Paulo (SP). A partir de 1º de janeiro de 2020, as passagens de ônibus, metrô e trem aumentarão de R$ 4,30 para R$ 4,40. A integração entre os modais subirá de R$ 7,48 para R$ 7,65.
Em resposta, o Movimento Passe Livre (MPL) São Paulo convocou uma manifestação o para o dia 7 de janeiro, em frente à Prefeitura, no Viaduto do Chá, às 17h. No texto do evento no Facebook, o MPL ressalta que ao longo do ano houve cortes na integração do vale-transporte, redução da frota de ônibus e o veto do prefeito Bruno Covas (PSDB) à lei que daria passagem gratuita a estudantes de cursinhos populares.
O aumento será de 2,33%, abaixo da inflação anual, que de acordo com o IPCA-IBGE está em 3,27%. No entanto, no começo de 2019, a tarifa foi reajustada em 7,5% (de R$ 4 para R$ 4,30), porcentagem muito acima da inflação de 2018, de 3,7%. Isso significa que, em apenas 12 meses, o aumento da tarifa do transporte coletivo será de aproximadamente 10%.
Gabriela Dantas, integrante do MPL, condena o aumento no preço da passagem. “É um ataque muito grave dos governantes contra a maior parte da população. Uma população trabalhadora que depende desse transporte coletivo para se deslocar, para estudar, para trabalhar, para procurar emprego”, pontua.
Em março deste ano, a prefeitura também determinou a redução do número de integrações para usuários e aumentou o valor da tarifa do Bilhete Único Vale-Transporte.
Dantas lamenta que, em um cenário de crise socioeconômica grave, essa seja a política adotada pela prefeitura e pelo governo do estado.
“A resposta é mais uma vez jogar na conta dos mais pobres para manter o lucro dos mais ricos. Sabemos que esse aumento de tarifa, diferente do que eles argumentam, não é uma coisa inevitável, que precisava acontecer. Isso é uma escolha e uma escolha política, de quem vai pagar a conta dessa situação.”
Segundo a São Paulo Transporte (SPTrans), a queda na demanda de passageiros do sistema de ônibus demanda um reajuste tarifário, já que a arrecadação também não foi maior devido a gratuidade para estudantes, idosos e deficientes físicos.
Porém, de acordo com reportagem da Rede Brasil Atual, a receita tarifária vem crescendo. Em 2017, foram arrecadados R$ 4,7 bilhões com a tarifa de ônibus. Em 2018, foram R$ 4,9 bilhões e, para 2019, a estimativa é de R$ 5,4 bilhões.
Para Rafael Calabria, pesquisador de mobilidade urbana do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), não há justificativa para um aumento de tarifa.
“Dados econômicos de custos não justificam aumento de tarifa. O sistema é deficitário em todas as cidades do mundo e a prefeitura não agiu para buscar alternativas de financiamento ao sistema. A perda de passageiros se deve principalmente ao custo da tarifa. Um novo aumento só vai levar a mais perda de passageiros em um círculo vicioso”, afirmou em entrevista à RBA.
Caro e sucateado
Diariamente, 8,3 milhões de passageiros são transportados nas 13 linhas disponíveis no Metrô e na CPTM e 8,8 milhões nos ônibus da capital. Análise feita pelo Estadão em janeiro deste ano, mostrou que quem usa metrô e ônibus para ir e voltar do trabalho, gasta até um terço, ou seja, 33%, de um salário mínimo (R$ 998).
Segundo Gabriela Dantas, o aumento da tarifa prejudica a população mais pobre do estado. “O transporte deveria ser um direito. Não tem cabimento pagarmos cada vez mais caro por uma coisa que deveria ser acessível para todo mundo, não só para quem tem R$ 4,40 no bolso. A integração entre ônibus e metrô/CPTM aumentou 17 centavos. Sabemos quem faz mais integração é quem mora mais na periferia. E é, mais uma vez, quem vai pagar o preço dessa conta.”
A integrante do MPL acrescenta que, ao excluir parte da população do acesso ao transporte, o acesso à cidade também é comprometido, seja para ir a um hospital ou para frequentar espaços de lazer. Dantes sublinha ainda que, com a passagem cara, desempregados têm ainda mais dificuldade para encontrar outro emprego, por não conseguir arcar com os custos de locomoção.
“Até onde vamos chegar nesse modelo de transporte, tratado como mercadoria, como serviço e como problema individual de cada um? Não dá para continuarmos nesse caminho. Daqui a pouco estaremos pagando cinco reais, dez reais…quem vai conseguir passar por essas catracas?”, questiona.