TV Escola exibiu documentário com Olavo de Carvalho
Estrelado por Olavo de Carvalho, a série documental “Brasil: A última cruzada”, exibida pela TV Escola, traz críticas ao desarmamento e erra fatos históricos. Os cincos episódios começaram a ser exibidos na semana passada.
O primeiro episódio começa na Idade Média e retrata a invasão muçulmana na Península Ibérica. Os produtores enfatizam que “nossa pátria não pode ser compreendida apartada daquela que a concebeu e gestou (Portugal)“.
Além de Olavo de Carvalho, são entrevistados nomes como o professor de História Thomas Giulliano Ferreira Santos, autor do livro “Desconstruindo Paulo Freire”, o presidente da Biblioteca Nacional Rafael Nogueira e o deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP).
Nesta segunda-feira, Jair Bolsonaro criticou a TV Escola. O presidente afirmou que “investir no canal é jogar dinheiro fora porque ninguém o assiste” e que a programação é “totalmente de esquerda” e “deseduca” o público. Também afirmou, ao criticar o que detecta ser a predominância de esquerdistas na Educação, que o educador Paulo Freire é um “energúmeno”.
As menções ao suposto viés de esquerda da TV Escola foram feitas na semana seguinte à exibição da série “Brasil: A última cruzada”. O material da produtora Brasil Paralelo já foi elogiada diversas vezes por quadros bolsonaristas, inclusive o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que disse ter utilizado o material para estudar para a sabatina de sua indicação para a embaixada dos Estados Unidos, da qual acabou renunciando.
Apagar indígenas e negros
O doutor e professor de História Medieval no Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Paulo Pachá contesta informações apresentadas no programa. Segundo ele, o Islamismo não surgiu no ano 700, como afirma no documentário o deputado-federal Orleans e Bragança, mas quase 80 anos antes, em 622. Ele também rebate a afirmação de que os templários foram o elemento central para a expansão marítima portuguesa, outro tema abordado no programa:
— O documentário se vende como a história que não te contaram, que foi negada. Mas essa é uma história completamente ultrapassada pelos registros científicos. Quando não ultrapassada, distorcida. A série não consulta um especialista de renome, nem tem referência bibliográfica. Entendo que o objetivo dos produtores é enfatizar o vínculo entre o Brasil e Portugal para apagar indígenas e negros. Como se a essência da nação fosse Portugal e os outros elementos, esquecidos.
Brodbeck é autor de livros jurídicos e religiosos como “Santo Elias – O doutor de Israel” e “Manual da Santa Missa”. No site da editora Déia e Tiba, ele é apresentado como membro da União Brasileira de Juristas Católicos, da Sociedade Internacional Tomás de Aquino e da Academia Marial de Aparecida, além de coordenador do apostolado Salvem a Liturgia.
“Vimos aí um processo de desarmamento que facilitou a queda do seu próprio estado”, explica o delegado, creditado pelo documentário como pesquisador.
No entanto, a tese de que o Reino Visigodo proibida cidadãos romanos de portarem armas é contestada por Paulo Pachá:
— Desde o inicio do século VII vê-se indivíduos identificados como romanos no exército visigodo. Existiu um processo de integração entre os povos. A separação entre as populações não faz sentido e a proibição de armas nao tem argumento documental algum — afirma Paulo Pachá.
Financiamento do MEC
A série que está sendo exibida pela TV Escola foi divulgada há dois anos pelo Brasil Paralelo pela internet. Numa introdução ao primeiro capítulo, um apresentador afirma que o material já foi exibido em escolas país afora.
O site “Antagonista” revelou que um contrato foi firmado entre o Brasil Paralelo e a TV Escola para a cessão gratuira de uso por três anos. Procurada pelo GLOBO, a TV confirmou a informação e reforçou que, até o momento, não há nada acordado com a produtora sobre a exibição de novas séries.
A emissora, gerida pela organização social Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), foi financiada pelo Ministério da Educação (MEC) até este anos. Em 2019, recebeu R$ 50 milhões de verbas federais. O montante é destinado ao financiamento da TV Escola e da TV Ines, voltada para o público surdo e com dificuldade auditiva.
O conselho de administração da Acerp, órgão responsável por escolher o diretor executivo da TV Escola e da Ines, é formado por 13 membros, sendo cinco indicados pelo governo — três pelo MEC, um pelo Ministério da Cidadania e o outro pelo Instituto Nacional de Surdos, órgão vinculado ao MEC.