Witzel diz que neoliberalismo está em crise
Foto: Governo do Estado do Rio/Divulgação
Em café da manhã com jornalistas para fazer um balanço do primeiro ano de governo, no Palácio Guanabara, o governador Wilson Witzel (PSC) centrou fogo no presidente Jair Bolsonaro. Com viés social que representa uma guinada em seu discurso conservador, Witzel afirmou que o país está “patinando”, “girando em círculos”, e defendeu uma mudança de rumo na política econômica, sob pena de o Brasil ser alvo de protestos como os do Chile, nos últimos meses. O governador do Rio – que já disse pretender concorrer ao Planalto em 2022 – também fez ataques pessoais a Bolsonaro, cuja retórica comparou à de líderes autoritários. “É tipo o Fujimori [Peru], o Erdogan [Turquia] e aquele outro maluco da Venezuela, o Chávez [morto em 2013], que têm esse vocabulário típico de quem não respeita opiniões”, afirmou.
Witzel citou a pecha de “traidor” – a qual bolsonaristas tentam lhe impingir, por ter sido eleito na esteira do presidente – como parte do vocabulário de quem não aceita divergência. O governador negou que interfira nas investigações da Polícia Civil, que colheu depoimento de um porteiro que envolveu o nome de Bolsonaro no caso do assassinato da vereadora Marielle Franco. “Mas não tenho bandido de estimação, com distintivo ou de paletó e gravata”, afirmou.
Sobre a relação entre o governo estadual e o federal, Witzel negou que haja uma ruptura, porque tem sido recebido por técnicos do Ministério da Economia, como o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, e o ministro Paulo Guedes. “Eu estou indo no Posto Ipiranga. O próprio ministro tem elogiado o Estado do Rio de Janeiro. Além do ministro da Saúde, da Infraestrutura. Não teve quebra de diálogo”, disse.
Quanto a Bolsonaro, Witzel afirmou que “o presidente tem comportamento difícil e não é de agora”. “Compareci à posse e não consegui apertar a mão dele. Não é só comigo. Outros governadores conseguem fazer uma selfie mas têm que ir ao Posto Ipiranga”, disse, em nova referência a Guedes. O governador afirmou ser alvo de uma “animosidade do presidente que é pessoal”. Em tom de ameaça, disse que, se não for assim, e houver “prejuízo indevido” ao Rio, isso “tem consequências”, como incorrer em improbidade administrativa ou crime de responsabilidade.
Ao falar sobre a juíza Glória Heloiza Lima da Silva, que foi apontada como sua candidata à eleição à Prefeitura do Rio, no ano que vem, o ex-juiz federal Witzel defendeu a entrada na política de magistrados, defensores e profissionais do mundo jurídico porque, em sua visão, teriam “conhecimento da complexidade da máquina pública”, em contraste com políticos tradicionais. Indagado se esse seria o caso de Bolsonaro, o governador não titubeou. “Evidente que ele não se preparou [para ser presidente]. Você não consegue conversar com ele sobre economia, sobre reforma da Previdência, a não ser pontualmente. A pauta é muito mais ideológica do que concreta.”, Questionado se estaria decepcionado com o desempenho do chefe do Executivo, Witzel devolveu: “Só eu?”. Em seguida, discorreu sobre um dos seus temas preferidos na entrevista: o risco de o Brasil apostar “num crescimento econômico sem suporte social” e repetir a trajetória do Chile, gerando um “cataclismo”.
“Estamos num momento muito difícil na América Latina, em que é preciso se repensar essa política. O neoliberalismo está em profunda crise. A concentração de renda aumentou. O Chile é o que vai acontecer com o Brasil amanhã”, disse.
Para Witzel, não adianta fazer reformas econômicas com o objetivo de se reduzir despesas. “Quanto mais se reduzir, mais precária será a política pública. O problema do Brasil é receita e para isso é preciso melhorar o ambiente de negócios, aprovar a reforma tributária e atrair investimentos”, defendeu.
O governador criticou a proposta de emenda à Constituição, a PEC Emergencial, do governo federal. Ela prevê a redução da jornada e de salário de servidores para evitar déficit fiscal, o que atingiria, em sua maioria, professores, policiais e profissionais da saúde.
O governador afirmou que o Rio está “esperando obras importantes que vão gerar emprego e melhor capacidade logística para o Estado”, como o novo acesso à Serra das Araras, a duplicação da BR 040 e da BR 101, a ferrovia EF-118, e a concessão do Aeroporto Santos Dumont.
Para melhorar o ambiente de negócios, Witzel defendeu, além da reforma tributária, a aprovação do marco regulatório do licenciamento ambiental, a mudança de paradigma das agências reguladoras e que o Judiciário aja com menos ativismo.
“Nós estamos patinando, apesar da possibilidade de se crescer no ano que vem 2,5% – o que, não sou economista, mas acho que é [previsão] entusiasmada demais, diante do cenário que estamos assistindo. O investidor está tirando dinheiro, as reservas cambiais estão caindo, o dólar está elevado, migrando investimento do Tesouro para a bolsa de valores que está oferecendo hoje investimentos melhores”, disse.
No fim do dia, foi divulgado pelo site da revista “Veja” que um empresário, Daniel Gomes da Silva, teria fechado delação com o Ministério Público Federal e delatado repasse de caixa dois a Witzel, no valor de R$ 115 mil. O acordo teria sido homologado pelo Superior Tribunal de Justiça, de acordo com a publicação e Gomes da Silva foi um dos colaboradores da Operação “Calvário”, que apura desvios na área da saúde do governo da Paraíba nos últimos anos. O governo do Rio evitou comentar. “Sobre boatos, não há manifestação”, afirmou o secretário de Governo de Witzel, Cleiton Rodrigues.