Zé Dirceu prevê convulsão social no Brasil
Foto: AFP
Os fatos recentes no Equador, no Peru, no Chile, na Bolívia e na Colômbia nos remetem de novo ao militarismo, e as fotos não mentem: as forças armadas desses países, com exceção da Colômbia, voltaram ou reafirmaram seu papel de tutela sobre o sistema político, com o agravante de mantenedoras da ordem social e econômica mesmo às custas da democracia, apesar de as Constituições proibirem expressamente qualquer papel político para aqueles aos quais a nação entregou sua defesa em armas.
Em todas as fotos atrás do presidente, seja ele Lenin Moreno, o traidor; Vizcarra que dissolveu o parlamento – de acordo com a Constituição, mas alegou ter o apoio dos “mandos” militares; ou Piñera, estavam os três comandantes das três armas. Na Bolívia (foto em destaque), os militares e a polícia simplesmente exigiram a renúncia do presidente. A exceção por enquanto vem da Colômbia, onde um governo de direita é repudiado em manifestações pela maioria da população, e perdeu a eleição na capital, Bogotá.
Há meses, pesquisas indicavam a derrocada e a reprovação dos governos de direita nesses países e em outros, como a Argentina, onde os peronistas venceram as eleições.
Entre as causas do fracasso desses governos, estão o pouco ou quase nenhum compromisso com a democracia, não apenas dos militares em questão, mas das elites desses países. Os planos econômicos de ajuste fiscal e corte de gastos, privatizações e aberturas comercial e financeira, mesmo quando permitem o crescimento, aumentam a pobreza, a miséria e a queda da renda, além do nível de vida da maioria das populações – inclusive das classes médias. Grosso modo, os países crescem e a desigualdade enriquece as elites e empobrece o povo trabalhador.
O que não esperavam, por não conhecerem a nossa história, de nossos países, era a revolta popular, que nem a mais brutal e covarde repressão, como no Chile, deteve. Daí a recusa ou a impossibilidade de os governos de Lenin Moreno e [Ivan] Duque de apelarem pura e simplesmente para a repressão.
Basta passar a vista pelo mundo para ver que entramos num novo período de lutas: Catalunha, Beirute, Túnis, Bagdá e Londres estão aí para nos alertar e estimular a luta.
O grave em nosso país é que a nossa elite, que deu apoio ou compactuou com o golpe, a condenação e a prisão de Lula, fechou os olhos para as ilegalidades de Moro, e Dallagnol agora se opõe à agenda de extrema-direita de Bolsonaro, mas apoia suas “reformas” liberais de desmonte do Estado Nacional e das conquistas sociais e políticas da Constituição de 1988.
Mais grave é o papel exercido pelos militares, que não escondem seu apoio a dois eixos principais da política de Bolsonaro: o alinhamento total à hegemonia e à política externa norte-americana, e a radical política liberal e de mercado de Guedes. Chegaram ao ponto de em entrevistas ou no Twitter mandarem recados aos poderes constituídos, Legislativo e Judiciário, para endossar por vias indiretas – ou abertamente, como fez o superministro – a tutela militar ou senão simplesmente a ditadura via um novo AI 5.
Bolsonaro aos poucos propõe mudanças legais, que, na prática, legalizariam uma ditadura, como o uso sem embasamento constitucional das chamadas GLO [operações de Garantia da Lei e da Ordem] e a exclusão de ilicitude.
Ao ameaçar o país com um novo AI-5, o governo revela seu medo de uma revolta popular e expõe sua face autoritária e antidemocrática.
A oposição liberal vacila e, comprometida com a pauta neoliberal, busca desesperadamente uma saída sem Bolsonaro, cala-se frente à tutela militar, mas seu verdadeiro temor é Lula, o PT e a oposição de esquerda. O presidente agride e repudia (começando pela Globo e pela Folha), avança em sua política autoritária, fundamentalista, religiosa e reacionária e se prepara para a reeleição.
Um espectro ronda as noites: o povo rebelado e insubmisso – e a saída militar, a ditadura.
As esquerdas e a oposição popular têm um desafio, decifrar essa esfinge.