ACM Neto quer aliança com “centro-esquerda”
Foto: Givaldo Barbosa / Agência O Globo
Com nova força política, em parte conquistada por ter as presidências da Câmara e do Senado, o DEM espera ganhar musculatura nas eleições municipais deste ano: passará de apenas um candidato a prefeito de capital, em 2016, para algo entre oito e dez, afirma ACM Neto, prefeito de Salvador e presidente nacional do partido. Ele descarta a nacionalização da disputa, diz que o Congresso tem atuado para limitar “eventuais radicalismos” do presidente Jair Bolsonaro, e afirma que, após quase três meses solto, “o mito Lula acabou” e o PT está “sem quadros e sem discurso”.
O DEM estar com maior relevância no cenário político influencia 2022? O centro terá um peso mais relevante?
Nós convencionamos dentro do partido, e isso foi uma proposta minha, que nós não trataríamos de 2022 antes de 2021. Ninguém está tratando de eleição presidencial dentro do Democratas. O nosso foco é eleição para prefeito. Nós pretendemos lançar de oito a dez candidatos para prefeitos de capitais. Queremos ter candidato nas principais cidades do país e nos 26 estados que terão eleição municipal, sair forte das urnas, ganhar musculatura eleitoral. O partido, principalmente depois que Rodrigo Maia assumiu a presidência da Câmara pela primeira vez, passou a ter relevância política muito clara no país. Agora quero traduzir essa relevância política em mais relevância eleitoral. Teremos um papel em 2022. Que eu espero que seja um papel de aglutinação. Em torno de quem? Em torno de que projeto? Isso não está discutido.
No passado o DEM era visto como uma linha auxiliar do PSDB, e agora está fechando alianças estratégicas com o PDT, de Ciro Gomes. Como foi essa mudança?
Não há hoje veto a que se converse com ninguém. Nós temos que estar abertos a conversar com todo mundo. A nossa única dificuldade de conversa é com a esquerda em si, no que eu configuraria o PT e o PSOL, pois até com o PCdoB a gente dialoga no Maranhão. O único campo que eu descarto, projetando o futuro, é estar com o PT. Fora isso, dentro do partido hoje, tem várias correntes, pessoas que vão de uma simpatia pela centro-esquerda até a direita.
A posição do DEM está se tornando mais parecida com o que era, no passado, o MDB?
Depende. Não tenho, pelo amor de Deus, nenhuma crítica a fazer ao MDB, pelo contrário, tenho muitos amigos no MDB. Agora, uma coisa eu lhe asseguro: nós não nos movemos, nem no fim de 2018, nem em nenhum momento de 2019, interessados em espaços de poder no governo, em cargos. Eu, ACM Neto, presidente do Democratas, nunca sentei com nenhuma autoridade do governo para discutir a indicação de cargos. Nesse aspecto, nós não objetivamos cargos ou espaço de governo. Ter a Câmara e o Senado concomitantemente, com o desempenho de Rodrigo (Maia) e Davi (Alcolumbre), nos permitiu chegar a esta posição.
Vocês evitam ser identificados como parte do governo Bolsonaro, mas apenas com a agenda de reformas…
A agenda econômica do governo, quase toda, tem o nosso apoio. Para mim, se o grande beneficiário do futuro disso for o presidente Bolsonaro, mas o Brasil melhorar, eu estou torcendo por isso. Aqui, em nenhum momento, ninguém procurou e nem vai procurar sabotar o governo, criar dificuldades para colher facilidades, nada disso, nosso compromisso é com a agenda do país, principalmente a agenda econômica.
E a agenda social de Bolsonaro?
Temos divergências na agenda de costumes, mas na agenda econômica temos ampla convergência e ela terá todo nosso apoio.
A pauta de costumes pode atrapalhar a agenda econômica?
Até hoje não prejudicou, porque o Congresso soube equilibrar as coisas e, de certa forma, está claro que propostas ou teses mais radicais não vão prosperar no Congresso. O Congresso tem um perfil moderado nessa agenda de costumes.
Há dois meses e meio o ex-presidente Lula foi solto. Como o senhor o vê hoje?
Acabou o mito. E acabou o discurso. O PT primeiro tinha o discurso do golpe. Depois, o discurso do Lula Livre. Agora eles estão sem discurso. Lula saiu e não mudou nada. E o presidente Lula já não é mais a liderança que foi no passado: se esperava uma comoção, uma mobilização nacional sem precedentes e nada disso aconteceu, nem mesmo no Nordeste. Não estou querendo desprezar a força que ele ainda tem no Nordeste, mas se você for ver a passagem dele, pós-prisão, foi muito menor em mobilização do que se esperava.
O senhor vê um caminho para a reorganização da esquerda?
Chance a gente não pode dizer que não tem, ainda tem tempo. Mas se continuarem do jeito que estão….
O senhor está terminando seu mandato com boa aprovação. Qual será o seu futuro?
Eu continuarei presidente dos Democratas, meu mandato vai pelo menos até 2022, podendo se estender até 2023, então estarei na presidência nacional do partido. Se tiver condições, a depender do contexto político, pretendo passar uns três ou quatro meses estudando no exterior, e já a partir de meados de 2021 definir qual vai ser o meu projeto de disputa eleitoral em 2022. Aí sim começar a focar nisso, estruturar, planejar e trabalhar para isso.
Pode ser campanha nacional…
Tudo pode ser. Neste momento, não descarto nenhuma hipótese.