Agricultor de SP ganha fama internacional com pinturas realistas

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Clodoaldo Martins nasceu e cresceu em Agulha, distrito de Fernando Prestes (SP), na região de Ribeirão Preto (SP). Filho de agricultor criado na roça, e apaixonado pela pintura desde criança, ele não precisou ir longe da cidade de 5,7 mil habitantes para dominar a arte realista e ganhar destaque em uma premiação internacional.

Com o quadro “Aves de Milena”, que traz como personagem a irmã mais nova de sua mulher, além de elementos que remetem à vida do interior, o artista plástico de 34 anos foi o único brasileiro entre os selecionados na “NTD International Figure Painting Competition”, competição de arte figurativa realizada em Nova York. A obra foi uma das escolhidas na categoria “Humanidade e Cultura” no final de 2019.

“Não saio da região para abordar a temática que gosto, que me identifico. Acho que o artista tende a ser mais feliz na própria produção quando trabalha seu próprio meio. Isso é uma decisão importante quando o artista percebe isso, porque você tende a soar falso quando quer criar algo que está muito distante da própria realidade”, diz.

Clodoaldo Martins conta que sempre gostou de desenhar e que, aos 9 anos, já era referência entre os colegas de escola por sua habilidade nos traços. Um talento que ele decidiu aprimorar aos 13 anos, quando se inscreveu para um primeiro curso de pintura em sua cidade. Depois disso, ele não parou mais. Martins também é graduado em educação artística em Jaboticabal (SP).

“Eu queria aprender a desenhar, aperfeiçoar o que eu gostava de fazer, que era desenhar, mas levava pintura. Eu dei sequência a isso. Comecei a pintar, comecei a tomar gosto principalmente pela pintura a óleo. Também faço alguma coisa em grafite, lápis e carvão. Gosto também de trabalhar com outros meios, mas a pintura a óleo foi onde acabei me dedicando mais”, diz.

Pai do artista plástico, o agricultor José Martins nunca desenhou e criou o filho na rotina da roça, mas percebeu cedo o talento da criança para as artes e decidiu incentivá-la.

“Eu o achava muito dedicado. Eu sempre digo assim: procure fazer aquilo que mais gosta na vida. Acho que aquele que faz o que mais gosta faz mais bem feito, esse é o exemplo que eu dou para a moçada de hoje”, diz.

No caminho que trilhou para aperfeiçoar sua capacidade de reprodução realista das formas, o pintor fez a lição de casa: conheceu artistas nos ateliês da região, mas também foi buscar referências em grandes nomes como o holandês Rembrandt [1606 – 1669] e o espanhol Diego Velázquez [1599 – 1660]. “Olho muito a escola realista americana hoje em dia, tem artistas incríveis”, acrescenta.

Quando a internet se tornou uma realidade, a busca por mais conhecimento por meios próprios e o intercâmbio com outros artistas se tornou mais acessível, mesmo longe dos grandes centros.

“Consegui ter mais contato com artistas que tinham mais a ver comigo, com que eu realmente gostava, que era a pintura realista, porem de temática figurativa, predominantemente figurativa. Nesse período ajudou também a buscar mais informação técnica. Nesse sentido foi interessante, conseguir amadurecer a técnica de maneira relevante, não necessariamente indo a uma escola de artes ou frequentando uma academia de artes.”

Apesar de ser um admirador dos grandes mestres europeus, foi nos aspectos do dia a dia de sua juventude e nas pessoas mais próximas que o artista plástico encontrou o cenário de suas obras.

A filha Mariana, o vizinho Geraldo e Maurício, cunhado e ajudante, são alguns dos retratados nos quadros, que além da perfeição de traços e sombras reúnem elementos característicos da vida no campo, como o chapéu de palha, a viola e a moringa de barro.

“Eu vivenciei isso, então pintar esses temas é o meu dia a dia de certa forma, está meio que arraigada essa temática do dia a dia simples das pessoas, o dia a dia na roça, da cultura do povo da região.”
Principal incentivador do artista, hoje o pai se reconhece nos quadros do filho. “Acho muito interessante, não sei se é porque é coisa onde a gente viveu, é o dia a dia nosso, a naturalidade, é isso”, afirma José Martins.

Produção que recentemente encantou os críticos em Nova York, “Aves de Milena” mais parece uma fotografia. A menina alimenta um pato no colo, rodeada por outras aves em um quintal repleto de verde na casa da sogra do autor.

O artista plástico diz que se sentiu surpreso quando soube que tinha sido escolhido. Quando foi se inscrever, o quadro escolhido até então tinha destinação certa, uma cliente em Fernando Prestes.

“O convite partiu deles, isso já foi algo diferente. Eu não tinha nenhuma obra, nenhum trabalho exclusivo para isso no ateliê, e a única obra que tinha foi a que acabei inscrevendo, que já estava encaminhada, tinha um cliente em vista. Conversei com essa cliente, ela falou: ‘pode, você quer participar, tem uma oportunidade bacana’. Aí mandei e tive essa felicidade, essa alegria de poder receber essa premiação”, diz.

Segundo ele, o que chamou atenção dos críticos não foi só o detalhamento das formas, mas também a sensação que passa ao observador.

“A maneira que retratei essa cena, a ingenuidade da criança com as aves, eles valorizam muito isso, essa promoção da beleza simples.”

G1.