Ameaça de Trump contra tesouros culturais do Irã é criticada nas redes
O O Irã abriga uma das mais espetaculares arquiteturas do mundo. No Palácio Golestan, em Teerã, candelabros ornamentados são encontrados nos seus luxuosos salões. A cidade antiga de Persépolis, os vestígios dos edifícios são tão majestosos que a UNESCO, órgão das Nações Unidas, declarou a área como “um dos maiores sítios arqueológicos do mundo”, figurando entre aqueles que não têm equivalente, com os atributos extraordinários de uma antiga civilização”.
Por todo o país uma vegetação exuberante cerca fontes deslumbrantes, piscinas e pátios, honrando a tradição persa da jardinagem. Mosaicos que datam de séculos cobrem as paredes das mais belas mesquitas do país.
Portanto, quando o presidente Donald Trump, pelo Twitter, ameaçou o Irã de que, se atacasse alvos americanos, os Estados Unidos retaliariam com ataques visando sítios “importantes para o Irã e a cultura iraniana”, surgiu o temor de que milhares de anos de história poderiam ser destruídos num único ataque americano.
No Twitter, os iranianos e outras pessoas que visitaram o Irã reagiram face às ameaças de Trump. E compartilharam fotos dos seus monumentos históricos considerados um tesouro incluindo imagens de alguns dos 22 sítios culturais protegidos pela UNESCO.
Holly Dagres, membro não residente do Atlantic Council, especializada no Irã, nasceu nos Estados Unidos, de mãe iraniana, e mudou-se para o Irã ainda adolescente. Sua família é de Teerã, mas no Twitter ela exibiu fotos de Isfahan, cidade que fica a 400 quilômetros distante da capital iraniana, porque “foi lá que me apaixonei pelo Irã”.
“Foi lá que realmente compreendi o que era ser iraniano”, disse ela. “Nosso país é muito mais do que o informado na mídia ou nas manchetes. Somos um país de poetas e não temos apenas uma história islâmica, mas história persa antiga, e temos muito a oferecer ao mundo.
Nos dias que se seguiram após os tuítes de Trump, a indignação aumentou com a sugestão que de os Estados Unidos atacariam tesouros culturais iranianos.
Os críticos compararam os comentários feitos por Trump ao comportamento de grupos militantes, como o Taleban, que destruiu duas enormes estátuas do Buda, do século 6, na província afegã de Bamiam, deixando enormes buracos do lado do despenhadeiro onde as estátuas se encontravam, ou o Estado Islâmico, que destruiu partes da cidade antiga de Palmira, na Síria, incluindo um anfiteatro onde o grupo realizava execuções públicas.
Mas no domingo Trump justificou seus comentários ameaçando bens culturais iranianos, mesmo com as críticas aumentando.
“Eles podem matar nosso povo. Podem torturar e mutilar”, disse ele a jornalistas. “Eles podem plantar bombas nas estradas e explodir cidadãos nossos. E nós não podemos tocar nos bens culturais deles? As coisas não funcionam assim”.
Na segunda-feira, o embaixador do Irã na UNESCO reuniu-se com o diretor geral da organização, que divulgou comunicado afirmando que Estados Unidos e Irã são signatários de convenções internacionais que os proíbem de atacar sítios considerados patrimônios da humanidade.
E na terça-feira, respondendo a perguntas se Trump de fato atacaria tesouros culturais no Irã, o secretário de Estado Mike Pompeo respondeu que os Estados Unidos respeitariam as leis internacionais. Mas acrescentou que os líderes iranianos, não Trump, são os únicos que ameaçam a cultura do Irã.
“Quem tem provocado danos à cultura persa? Não são os Estados Unidos. É o aiatolá”, disse Pompeo, referindo-se ao líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei. “A cultura persa é muito rica e repleta de história e intelecto e eles negaram a capacidade dessa cultura continuar”.
Para Matthew Canepa, professor de história da arte e arqueologia iraniana antiga na Universidade da Califórnia, em Irvine, essa afirmação de Pompeo “é totalmente sem base e ignorante”. Segundo Canepa, o Irã “sempre manteve uma relação curiosa com seu passado”. Nos últimos anos “ele tem valorizado ainda mais os seus tesouros culturais”.
“Persépolis é uma enorme atração turística. Eles fazem o máximo para preservá-la, disse o professor. “É trágico pensar que um local como esse, que resiste desde 515 AC, pode ser atacado”.
E embora muitos sítios arqueológicos antigos tenham sido destruídos ou saqueados depois de anos de guerra no Iraque e na Síria, Canepa diz que o Irã “realizou um dos melhores trabalhos para preservar os registros arqueológicos do Oriente Médio”.
Trump parece ter voltado atrás nas ameaças de atacar tesouros culturais iranianos, dizendo a jornalistas na terça-feira que “devemos, de acordo com várias leis, ser muito cuidadosos com relação ao patrimônio cultural deles. E vocês sabem, se é o que diz a lei, desejo obedecer”.
Pompeo também declarou pelo Twitter na terça-feira que os líderes iranianos danificaram a cultura persa “desrespeitando” Ciro e feriados como o Nowruz, proibindo danças e acabando com a tolerância religiosa”.
Como o The Washington Post notou antes, o governo Trump tem uma afinidade curiosa com Ciro, o Grande, o antigo imperador persa que fundou Pasárgada, a primeira capital do Império Aquemênida. As ruínas da cidade estão na província de Fars, no Irã, e foi tombada como patrimônio da humanidade pela UNESCO em 2004.
No ano passado, também pelo Twitter, Pompeo prestou homenagem a Ciro, dizendo que 29 de outubro marcava o aniversário do dia em que Ciro, o Grande, “entrou na Babilônia e libertou o povo judeu cativo”.
“Seu respeito pelos direitos humanos e a liberdade religiosa inspiraram os pais fundadores da América. Os Estados Unidos estão do lado do povo iraniano, que é impedido pelo regime de celebrar o seu legado”.