Bolsonaro quase não recebe sindicatos e movimentos sociais

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Foto: Reprodução

Quando não esteve reunido com políticos, o presidente Jair Bolsonaro dedicou cerca de 30% da sua agenda pública em 2019 a eventos com militares e religiosos. Já representantes de sindicatos e movimentos sociais estiveram presentes em 4% dos compromissos do primeiro ano de mandato do presidente. O Estado analisou 516 itens listados na agenda pública de Bolsonaro desde sua posse, em 1.º de janeiro. Não foram levados em conta neste levantamento encontros com parlamentares, governadores e prefeitos, nem reuniões com integrantes do governo.

Entre condecorações, formaturas e encontros com integrantes das Forças Armadas, o presidente participou de 106 eventos ligados a militares no decorrer do ano. Além de acompanhar solenidades e se encontrar com autoridades militares, que apoiam Bolsonaro desde os tempos de deputado federal, o presidente também recebeu, em duas oportunidades, em seu gabinete em Brasília, a viúva do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, chefe do DOI-CODI na ditadura militar, condenado por sequestro e tortura.

Eventos religiosos e encontros com líderes de igrejas somam 46 itens da agenda do primeiro ano de governo. Além dos encontros com lideranças, Bolsonaro participou de eventos e celebrações, como a Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil e a 27.ª edição da Marcha para Jesus, tornando-se o primeiro presidente a comparecer ao evento, em São Paulo. A proximidade com evangélicos contribuiu para a eleição de Bolsonaro. Ele pretende utilizar igrejas para coletar assinaturas necessárias para a criação do seu novo partido, o Aliança Pelo Brasil.

Por outro lado, Bolsonaro dedicou 22 encontros a entidades da sociedade civil organizada, como associações de classe, ONGs e sindicatos. O presidente já relacionou a atuação desses grupos a partidos de esquerda e, em outubro, levantou suspeitas de que ONGs poderiam estar por trás de queimadas na Amazônia. O presidente se encontrou, por exemplo, com o presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT) e um advogado de uma cooperativa de mineração indígena.

Encontros com empresários e representantes do agronegócio ocuparam 124 itens da agenda presidencial desde janeiro. Parte do empresariado tem apoiado a agenda econômica do governo federal. Procurado, o Planalto não quis comentar.

O Estado também analisou os 74 deslocamentos feitos pelo presidente em 2019. Quase dois terços das viagens (42) foram para o Sudeste, região onde Bolsonaro teve votação expressiva. Em parte dos deslocamentos, Bolsonaro fez acompanhamento médico. O Nordeste, reduto de governadores do PT, foi visitado em sete oportunidades, segundo dados obtidos via Lei de Acesso à Informação.

Ao todo, a Presidência gastou R$ 8 milhões em viagens no ano passado (R$ 5,7 milhões para destinos nacionais e R$ 2,2 milhões para fora do País). A maior despesa foi destinada a um tour de 19 dias por países asiáticos em outubro (Japão, China, Emirados Árabes Unidos, Catar e Arábia Saudita): R$ 1 milhão. Já a viagem com a maior comitiva, em 31 de maio, levou 77 pessoas para Goiânia, onde ocorreram encontros com o governo estadual e a Convenção Nacional das Assembleias de Deus. A Secretaria de Administração, responsável pelas despesas da Presidência, não divulgou as notas fiscais, alegando questões de segurança.

Estadão