Campanha contra assédio no Carnaval chega a mais cinco estados

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Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

Quando a mensagem é forte, o eco é garantido. E, assim, a campanha “Não é não”, contra o assédio, que começou modesta, distribuindo 4 mil tatuagens no carnaval do Rio em 2017, vem reverberando pelo país. Este ano, o recado chegará a 15 estados, seis a mais do que no ano passado. As novidades são Rio Grande do Sul, Amazonas, Piauí, Santa Catarina, Espírito Santo e Paraíba.

O objetivo é distribuir 200 mil tatuagens no pré-carnaval e nos dias da folia. No ano passado, foram distribuídas 186 mil. O grupo conta com 38 “embaixadoras” voluntárias em todo o Brasil, que montaram equipes para auxiliar na distribuição, em blocos e nas ruas.

– Fico feliz que tenhamos conseguido montar uma rede para propagar essa mensagem tão importante. O ideal era que o nosso movimento não precisasse existir, que os homens entendessem e respeitassem os limites das mulheres. Fazemos um trabalho de reeducação intenso e sabemos que o caminho ainda é longo, mas tivemos avanços – afirma a estilista Aisha Jacob, uma das fundadoras do movimento.

Ela conta que ouviu relatos de mulheres que se sentiram mais fortes e empoderadas para lutar contra o assédio e que perceberam os homens mais conscientes e respeitosos após a campanha do “Não é não”. E diz ainda que ouviu relatos encorajados de alunas de uma das quatro escolas nas quais o grupo deu palestras sobre o tema, tocando em assuntos como feminismo, machismo e explicando a diferença entre paquera e assédio.

– Elas me contaram que só tiveram coragem de levar episódios de assédio à direção da escola após a nossa roda de conversa. Isso mostra que esse debate tem que ser promovido cada vez mais – aponta Aisha, acrescentando que o grupo pretende levar as palestras para um número maior de instituições de ensino este ano. – As escolas interessadas podem entrar em contato conosco pelo e-mail tatuagensnaoenao@gmail.com.

O trabalho do coletivo tem sido tão significativo que, em dezembro do ano passado, as organizadoras receberam uma moção honrosa da câmara de vereadores do Rio de Janeiro.

– Não sabíamos que poderíamos chegar tão longe. Isso foi um sinal de que viramos um movimento reconhecido. São pequenos passos, há muito a ser feito, mas temos muito orgulho de onde chegamos – ressalta Aisha.

Ela decidiu mobilizar algumas amigas no fim de janeiro de 2017, após ser vítima de assédio numa festa. Primeiro, elas criaram um grupo no WhatsApp e, em pouco tempo, reuniram 40 meninas, que, juntas, resolveram produzir cerca de quatro mil tatuagens temporárias com a mensagem “Não é não”, que grudaram no corpo de inúmeras mulheres durante o carnaval carioca. A inspiração partiu de uma cartela de carnaval que a loja Le Petit Pirate, especializada nesse tipo de tattoo, fez em parceria com o site RIOetc.

A verba para confeccionar as tatuagens é arrecadada através de financiamento coletivo: é possível doar de R$ 10 a R$ 400. As campanhas do Pará e do Paraná já encerraram e foram bem sucedidas: cada um desses estados terá a distribuição de 2 mil tatuagens. As demais encerram nos dias 16 ou 23 de janeiro. No Rio, por enquanto, foi arrecadado 63% da meta.

– Acho que a adesão este ano está mais lenta porque 2019 foi um ano difícil para todo mundo, então as pessoas estão demorando mais para entrar no clima de carnaval. Mas acredito que bateremos a meta – aposta Aisha.

O Globo