Coordenador da Lava-Jato na PGR se demite
Foto: Gil Ferreira/Agência CNJ
O coordenador do grupo da Lava-Jato na Procuradoria-Geral da República (PGR), subprocurador José Adônis Callou de Araújo Sá, pediu demissão do cargo por divergências e insatisfação com a gestão do atual PGR Augusto Aras.
Aras havia prometido total autonomia para Adônis tocar os casos da Lava-Jato, o que incluiria atuar diretamente no Supremo Tribunal Federal (STF) nesses casos, sem necessidade de uma assinatura de Aras nas peças e documentos das investigações. De acordo com fontes da PGR, porém, essa autonomia não se concretizou e Aras estava interferindo nos trabalhos do grupo.
Com esse cenário, o ritmo das investigações tem se mantido lento, o que também virou fonte de insatisfações. Denúncias e investigações previstas para ocorrerem estão paradas aguardando um aval de Aras, sem previsão de andamento.
No fim do ano, também houve desgaste com uma portaria publicada por Aras que reduzia a quantidade de assessores nos órgãos de investigação da PGR — dentre eles o grupo da Lava-Jato e a perícia do Ministério Público Federal. Após críticas internas, Aras recuou e prorrogou o prazo para decidir sobre os cortes. A demissão de Adônis amplia o desgaste interno da gestão de Aras, que sofreu críticas por ter sido nomeado por fora da lista tríplice organizada em uma votação interna da categoria.
A função de Adônis era coordenar os trabalhos de investigação da Lava-Jato que envolvem políticos com foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal e fazer uma interlocução com as forças-tarefas da Lava-Jato nos Estados, em casos que envolvem acordos de delação e investigações em geral.
Não é a primeira vez que há uma crise da Lava-Jato dentro da PGR. Durante a gestão da antecessora de Aras, Raquel Dodge, o então coordenador da Lava-Jato, José Alfredo de Paula, pediu demissão por discordar do ritmo lento das investigações. No fim da gestão dela, também houve um pedido de demissão coletiva do grupo de trabalho da Lava-Jato, por discordâncias com pedidos de arquivamento feitos por Dodge na delação do ex-presidente da OAS Léo Pinheiro.
Ao assumir, Aras convidou para voltar os membros do grupo de trabalho da Lava-Jato. Em seguida, convidou o subprocurador José Adônis para assumir a coordenação, sob promessa de que teria total autonomia e seria responsável por assinar as peças enviadas ao STF.
Após o desligamento de Adônis, a PGR anunciou em nota que a subprocuradora Lindora Araújo será a nova coordenadora do grupo da Lava-Jato. Experiente na área criminal, ela estava conduzindo as investigações perante o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e foi responsável pela Operação Faroeste, que prendeu magistrados do Tribunal de Justiça da Bahia.