Doria ataca Bolsonaro
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O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), apresentou ontem a um público de potenciais investidores no Brasil uma série de críticas ao presidente Jair Bolsonaro. Os erros de Bolsonaro apontados por Doria incluíram a escolha do ministro da Educação, o excesso de uso das redes sociais pelo presidente e a influência dos filhos de Bolsonaro no Palácio do Planalto.
“Não vou comentar Bolsonaro. Vamos falar de coisa séria”, afirmou Doria durante participação em painel sobre desafios dos Estados brasileiros na Conferência de Investimentos da América Latina do banco Credit Suisse. Elevou-se um burburinho entre as cerca de 300 pessoas que o ouviam.
O discurso representa uma mudança de tom em relação ao posicionamento defensivo que o governador paulista mantinha até agora em relação a Bolsonaro. O presidente considera Doria um potencial adversário nas eleições de 2022 e chegou a chamar o paulista de “ejaculação precoce” por pular etapas na carreira política. Ainda não havia partido do paulista a iniciativa de atacar Bolsonaro.
Ao longo da fala de 30 minutos, Doria comparou indicadores do Brasil e de São Paulo. “A economia brasileira melhorou. Poderia ser melhor. São Paulo teve três vezes o crescimento do país. Porque aqui a gente faz foco na gestão. Não perde tempo com política.”
O governador afirmou que São Paulo criou 40% das vagas de emprego do país em 2019. Disse que investimentos de multinacionais que obteve durante o Fórum Econômico de Davos vão gerar 22 mil empregos diretos e 60 mil indiretos no Estado. “Vai gerar uma onda positiva de emprego no país.”
Doria fez um extenso relato sobre reuniões que teve em Davos e elogiou o ministro da Economia, Paulo Guedes. “O Brasil já não é mais a expectativa que era em janeiro [de 2019] quando Bolsonaro foi a Davos. Não vou comentar a palestra dele, mas, enfim, ele esteve lá”, disse Doria, para quem Guedes “endereçou muito bem” os temas de economia no encontro.
Bolsonaro decidiu não ir ao Fórum de Davos agora em 2020. Alegou questões de segurança. Na época em que o presidente brasileiro cancelou a viagem à Suíça, Estados Unidos e Irã trocavam ameaças após Donald Trump mandar matar um líder do governo iraniano em Teerã. O Brasil, no entanto, não tinha participação na disputa.
Doria vangloriou-se de ter contratado para comandar o conselho consultivo da Secretaria de Educação de São Paulo Mozart Neves. O especialista foi cogitado para o Ministério da Educação, mas Bolsonaro optou por Ricardo Vélez. O colombiano durou três meses no cargo e foi substituído pelo atual titular Abraham Weintraub. “Mozart Neves quase foi ministro do Bolsonaro. Bolsonaro fez uma outra escolha e deu no que deu.”
O governador paulista ainda fez referência às ofensas lançadas pelo presidente nas redes sociais a adversários – o próprio Doria entre os alvos – e à influência dos filhos do presidente no governo. “Não perdemos tempo com bobagem, com fofoca, com rede social. São Paulo não tem 01, 02, 03, 04, 05. É por isso é que dá certo.” Bolsonaro chama os filhos de 01 (Flávio, senador), 02 (Carlos, vereador) e 03 (Eduardo, deputado federal), pela ordem de nascimento deles.