Esta é a quinta vez em que OMS decreta emergência mundial
Foto: Christopher Black/Reuters
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou nesta quinta-feira, pela sexta-vez em dez anos, uma emergência de saúde pública de interesse internacional (PHEIC, na sigla em inglês) após a escalada da crise do coronavírus.
O surto já deixou 170 mortos e 8.100 infecções, grande parte na China, onde surgiu. Destes, 98 ocorreram fora da China, sem registro de óbito até o momento.
A previsão de uma emergência global foi definida pela primeira vez em 2005, na terceira edição do International Health Regulations (IHR, na sigla em inglês, ou Regulações de Saúde Internacionais, em tradução livre), espinha dorsal dos procedimentos da OMS. Redigido em 1948, ele havia sido revisado apenas uma vez até então, em 1969.
1ª emergência: H1N1, a gripe suína (2009)
A medida foi adotada pela primeira vez em 2009, em resposta à pandemia do vírus H1N1, a chamada gripe suína, detectada em abril daquele ano.
Foram quatro anos até a primeira declaração de emergência global. À época, a entidade foi criticada por ter supostamente agido de forma precoce — o vírus H1N1 acabou não se concretizando como uma ameaça global, apesar dos cenários que se desenhavam à época.
Ao fim da pandemia, em agosto de 2010, a OMS estimou o número de mortes em cerca de 18 mil em 214 países e territórios ultramarinos, mas ponderando que os índices eram sem dúvida maiores por conta da subnotificação.
Posteriormente, um estudo do Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos Estados Unidos concluiu que o número de fatalidades muito maior e estimou entre 171 mil e 575 mil perdas.
2ª emergência: epidemia de poliomelite (2014)
A OMS decretou emergência contra a poliomelite em abril de 2014. Na ocasião, a entidade entendeu que a disseminação da doença na Ásia, incluindo o Oriente Médio, e na África. Entre 1988 e 2012, a enfermidade foi considerada endêmica e o número de casos caiu 99%, mas, a partir de 2013, o número de infecções começou a crescer nestas regiões.
O vírus da poliomelite, que pode causar paralisia e até morte em crianças menores de cinco anos, foi identificado à época nos países de Guiné Equatorial, Afeganistão, Etiópia, Iraque, Israel, Somália e Nigéria.
3ª emergência: ebola na África Ocidental (2014)
Já quando acionou o dispositivo em agosto de 2014 contra o surto de ebola na África Ocidental, em 2014, a organização foi acusada de agir tardiamente. À época, o vírus, um dos mais letais do mundo, somou 28.616 casos espalhados pela Guiné, Libéria e Serra Leoa. Ao todo, segundo a OMS, 11.310 pessoas morreram.
A taxa de letalidade do ebola pode chegar a 90%. A transmissão pode ocorrer por sangue, secreções, e fluidos corporais de animais ou seres humanos infectados. Os sintomas evoluem rapidamente e deixam as vítimas extremamente debilitadas.
Decretado quatro meses após a emergência da poliomelite, foi a única vez, até o momento, que o recurso foi implementado duas vezes no mesmo ano. Na ocasião, o surto foi o maior e mais duradouro da história. A entidade retirou o alerta epidêmico em 29 de março de 2016, dois anos após a declaração de emergência de saúde pública internacional.
4ª emergência: vírus da zika (2016)
Em fevereiro de 2016, a zika despertou atenção internacional e levou a entidade das Nações Unidas a se mobilizar pela quarta vez. Na ocasião, o Brasil, que sediava os Jogos Olímpicos de 2016, foi um dos epicentros da crise.
O fim da emergência foi declarado em novembro do mesmo ano. À época, 30 países reportaram nascimentos de crianças com problemas relacionados à zika. Segundo a OMS, mais de 2.100 casos de má-formação no sistema nervoso foram registrados em bebês somente no Brasil.
5ª emergência: ebola na Rep Dem. Congo (2019)
A última ocasião, até hoje, ocorreu no ano passado, novamente por conta do ebola, dessa vez na República Democrática do Congo. Em três ocasiões anteriores, a OMS se absteve de decretar a emergência quando ocorreram surtos nas províncias de Ituri e Kivu do Norte, no leste do país.
Mas o surgimento de um caso na capital de Kivu do Norte, Goma, na fronteira com Ruanda, que acabou com a morte do paciente, aumentou a gravidade da crise. Tedros qualificou nesta semana o paciente de Goma como uma “mudança potencial”, porque a cidade é uma “porta de entrada” para a região dos Grandes Lagos da África e para o mundo em geral.
Segundo a OMS, 3.421 casos foram confirmados. Destas vítimas, 2.242 acabaram falecendo. No último boletim divulgado pela entidade, no dia 28, a organização informou que há pacientes ainda se recuperando do ebola.
Após as críticas de 2009 e 2014, a OMS se encontra diante de um cenário complexo: enquanto o número de casos cresce exponencialmente mundo afora, atingindo até o momento 19 países, a China, por concentrar a maior parcela de doentes, tem sido criticada pela velocidade da reação à crise.
Entre especialistas, emergem dúvidas sobre a real eficiência das quarentenas impostas na província de Hubei, cuja capital é Wuhan, epicentro do surto de coronavírus.
Na última quinta-feira, a OMS decidiu que “ainda não era hora” de declarar uma emergência global. O debate entre especialistas na sede da entidade, em Genebra, demorou dois dias. A indefinição se deu, em boa parte, por uma divisão entre os cientistas presentes.
De acordo com a definição do IHR, a emergência de saúde pública de interesse internacional consiste em “um evento extraordinário determinado por constituir um risco à saúde pública de outros países através da disseminação global de uma doença, exigindo potencialmente a coordenação de uma resposta internacional”.
Ainda segundo o manual, a situação deve ser “séria, repentina, inesperada e inusual” e trazer “implicações para a saúde pública além das fronteiras nacionais do país afetado”, tornando necessária a “ação internacional”.