Forma de reação do Iraque assusta o mundo

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Foto: Ahmad Al-Rubaye / AFP / CP

Após a morte do comandante da Guarda Revolucionária Islâmica, Qassim Suleimani, será que o Irã retaliará subitamente ou de forma ardilosa e vagarosamente?

No Iraque, o Parlamento local, em reunião extraordinária, decidiu pela expulsão sumária de todos os militares norte-americanos presentes na região. O chanceler americano lotado no Iraque foi comunicado pelo governo de Bagdá da decisão. Por outro lado, o Irã admite uma ação contra militares norte-americanos. E só. Algo, por ora, vago.

Minha percepção se divide em dois pontos: se o Irã retaliar rapidamente, certamente envolverá ataques mortíferos e rápidos das milícias xiitas do Iraque a serviço do Irã. Essas ações podem brotar tanto no Iraque, dos Houthis do Yemen, além do próprio Irã, e terá como alvos as várias bases dos Estados Unidos na região do Golfo Pérsico

Esse ataque rápido eventualmente poderá amenizar o clamor popular dos Iranianos por uma resposta rápida, e até minimizar os protestos contra a situação econômica do país, que sofre com o aumento do combustível e culpa os líderes mais radicais do governo. Nesse cenário, no entanto, certamente os EUA responderiam de forma mais assertiva e contundente, aumentando a tensão no Golfo Pérsico.

Se a resposta bélica do Irã for um pouco mais tardia e paciente, os efeitos psicológicos desencadeados nos Estados Unidos e em seus aliados europeus desencadearão uma nuvem de medo e potencial terror iminente. A sombra de um novo atentado nos moldes de 11 de setembro de 2001 em Nova York indubitavelmente prejudicará a possibilidade de reeleição de Donald Trump.

Claro que Donald Trump tem feito mais do que Barack Obama e George W. Bush neste front. Embora Osama Bin Laden (líder da Al Qaeda) tenha sido neutralizado (assassinado) durante o governo de Obama em paralelo ao desmantelamento do Estado Islâmico (ISIS), ambos grupos terroristas.

O general Suleimani, por sua vez, era considerado o maior responsável pelo plano de expulsar os norte-americanos do Oriente Médio, ajudando tanto o governo iraquiano mais diretamente, como atuando em paralelo o Hezbollah, no Líbano, quanto o ditador sírio Bashar Al Sadd e as milícias iraquianas, tudo sob o olhar atento da Rússia, de Vladimir Putin.

Ainda assim, não nos cabe negligenciar a atual proximidade entre Síria, Rússia e Turquia, esta última tendo os curdos abandonados pelos EUA na luta contra o Estado Islâmico no nordeste da Síria em setembro passado.

Como o mundo reagirá agora? Certamente a Europa nada fará com mais refugiados vindos do governo sanguinário da Síria, Iraque (liderado pelo Irã) e outros governos liderados pela Rússia.

Além disso, a Rússia pode muito bem flexionar seus músculos e anexar os países bálticos (ex-União Soviética), como Letônia, Lituânia e Estônia, como fez em 2015 com a Crimeia. Alguma chance de Donald Trump se envolver nesse imbróglio na península báltica, apesar de desrespeitar as diretrizes estabelecidas pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)? Duvido.

Não apenas isso: mas analisando o desprezo que Trump tem pela OTAN e seus aliados, como os antigos parceiros asiáticos desde a Segunda Guerra devem perceber esse “roer de corda”? Como o Japão, Taiwan, Filipinas, Coreia do Sul e Austrália deveriam se proteger tendo os EUA abandonando suas obrigações pós II Guerra?

Ouso especular uma nova ordem geopolítica liderada pela China e Rússia tendo como satélites os ativos protégés dos Estados Unidos pós-guerra na Ásia, agora sob total influência da China. Ao final, por mais paradoxal que possa parecer, os EUA, se assim procederem, estarão fazendo a Rússia e a China great again.

Estadão