Golpistas bolivianos rompem relações com Cuba
Foto: Aizar Raldes/AFP
O ministro da Presidência do governo interino da Bolívia, Yerko Núñez, anunciou nesta sexta-feira que o país vai suspender as relações diplomáticas com Cuba. A decisão foi tomada um dia após o chanceler cubano, Bruno Rodríguez, chamar a presidente boliviana interina, Jeanine Áñez, de “mentirosa”, “golpista” e “autoproclamada”, depois que ela criticou os médicos cubanos que atuavam no país durante o governo de Evo Morales.
— A partir desta data, a Bolívia suspende as relações diplomáticas com a República de Cuba. Essa determinação obedece às recentes e inadmissíveis declarações do chanceler cubano e à permanente hostilidade e aos constantes reparos feitos por Cuba ao governo boliviano e seu processo democrático — disse Núñez, em entrevista coletiva na manhã desta sexta-feira. — O governo cubano, de maneira sistemática, tem afetado as relações bilaterais baseadas no respeito mútuo, nos princípios de não ingerência em assuntos internos, da autodeterminação dos povos e da igualdade soberana dos Estados, apesar da disposição do governo da Bolívia de manter relações cordiais.
Na quarta-feira, Áñez dissera que as brigadas de médicos cubanos na Bolívia receberam US$ 147 milhões do governo de Morales, dinheiro com o qual, segundo a presidente interina, daria para fazer 7.355 transplantes renais em todo o país. A declaração não agradou ao governo cubano, aumentando a crise diplomática aberta desde que o governo interino expulsou da Bolívia os profissionais da ilha, chegando a deter cinco deles.
— Mentiras vulgares da golpista autoproclamada na Bolívia. Outra mostra de seu servilismo aos Estados Unidos. Deveria explicar ao povo que, após o retorno dos colaboradores de Cuba, devido à violência a que foram submetidos, mais de 454.440 atendimentos médicos deixaram de ser realizados — respondeu o chanceler cubano, Bruno Rodríguez, em sua conta no Twitter, na quarta-feira.
A Bolívia está sob o governo da presidente interina Jeanine Áñez desde novembro, quando o presidente Evo Morales renunciou em meio a protestos da oposição, uma greve da polícia e depois de um ultimato das Forças Armadas.
Apesar de seu caráter interino — haverá eleições presidenciais e legislativas em 3 de maio, depois do cancelamento do pleito de outubro de 2019 —, o governo de Áñez vem promovendo mudanças profundas na orientação da política externa do país, em alinhamento com os Estados Unidos e com os demais governos de direita na América do Sul.
No final de dezembro, Áñez expulsou três diplomatas do México e da Espanha, acusando-os de pretender levar para fora do país autoridades do governo Morales que haviam recebido asilo diplomático na embaixada mexicana.