Irã admite ter derrubado avião ucraniano

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Foto: Social Media/Reuters

O Irã admitiu nesta terça-feira que as Forças Armadas do país dispararam dois mísseis Tor-M1 contra o Boeing 737 da companhia Ukraine International Airlines, derrubado por engano próximo a Teerã no dia 8 de janeiro, com um saldo de 176 mortos. A informação foi revelada em um relatório preliminar da Organização da Aviação Civil (OAC) iraniana e corrobora a versão divulgada pelo New York Times na semana passada.

De acordo com o relatório, autoridades iranianas também pediram a autoridades dos Estados Unidos e da França para fornecer o equipamento necessário para decodificar o banco de dados de vôo da aeronave, popularmente conhecido como “caixa-preta”.

“Se os equipamentos e suprimentos necessários forem fornecidos, as informações poderão ser reconstruídas em um curto período de tempo”, afirmou a agência. No entanto, segundo a OAC, até o momento, nenhum dos países respondeu à demanda feita pelo Irã.

A solitação da OAC iraniana contradiz o que um investigador chefe da própria organização, Hassan Rezaifar, havia sugerido no sábado. Segundo Rezaifar, caso o Irã não conseguisse ler a caixa-preta do avião, esta seria enviada para a Ucrânia ou para a França a pedido de autoridades dos países.

Também parece estranho que Teerã tenha pedido ajuda aos Estados Unidos, um adversário de longa data cujo presidente embarcou numa campanha de “pressão máxima” contra o Irã, incluindo o retorno das sanções que haviam sido eliminadas do acordo nuclear de 2015.

As vítimas do acidente aéreo incluem 82 iranianos, 57 canadenses e 11 ucranianos, aumentando a pressão por uma investigação internacional.

Autoridades ucranianas têm pedido que o Irã entregue a caixa preta do avião e acusam o país de violar os protocolos para situações como essa, destruindo os destroços do acidente antes que a investigação terminasse. O Canadá também criticou a falta de cooperaçao do Irã, e o primeiro-ministro Justin Trudeau disse que o Irã deveria dar as gravações para a França analisar.

A queda do avião ucraniano aconteceu em meio à escalada do conflito entre Irã e Estados Unidos, após o assassinato do general Qasem Soleimani, chefe de uma unidade de elite da Guarda Revolucionária iraniana, morto em um ataque de drone americano no aeroporto de Bagdá em 3 de janeiro.

O Boeing 737 foi derrubado cinco horas depois que o Irã, em represália, bombardeou duas bases militares no Iraque que serviam de abrigo para militares EUA. Após dias negando o ocorrido, autoridades iranianas admitiram que a queda foi resultado de “erro humano”, o que provocou protestos furiosos em todo o Irã.

Em mais um capítulo da disputa, um deputado iraniano linha-dura de pouca projeção ofereceu nesta terça-feira US$ 3 milhões como recompensa para quem matasse o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e disse que o Irã poderia evitar problemas se tivesse armas nucleares.

— Em nome do povo da província de Kerman, nós pagaremos uma recompensa de US$ 3 milhões de dólares em dinheiro para qualquer um que matar Trump — disse Ahmad Hamzeh no Parlamento. — Se nós tívessemos armas nucleares hoje, nós estaríamos protegidos de ameaças… Nós devíamos colocar em nossa agenda a produção de mísseis de longo alcance capazes de carregar ogivas não convencionais. É nosso direito natural.

Kerman é a província natal de Soleimani, e onde ele foi enterrado. Para produzir armas atômicas, o Irã teria que deixar o Tratado de Não Proliferação Nuclear, do qual é signatário. Nesta semana, pela primeira vez, o chanceler do país, Zavad Jarif, ameaçou com essa possibilidade, caso os europeus levem adiante o plano de reinstaurar sanções da ONU contra o Irã.

O embaixador americano, Robert Wood, se referiu à bravata como “ridícula”, e disse a repórteres em Genebra que isso mostra as “bases terroristas” do Estado iraniano.

O Globo