Manifestantes querem EUA fora do Iraque
Foto: AHMAD AL-RUBAYE / AFP
Desde o início da manhã, homens, mulheres e crianças carregavam bandeiras do Iraque sob gritos de “morte aos EUA e a Israel” e “não aos EUA”. Segundo estimativas citadas pelo New York Times a partir de imagens aéreas, o número de participantes ficou entre 200 mil e 250 mil pessoas.
A presença americana no Iraque tornou-se ainda mais polêmica após os Estados Unidos assassinarem, por ordem do presidente Donald Trump, o general iraniano Qassem Soleimani, em um ataque no aeroporto internacional de Bagdá. Junto a ele, estava Abu Mahdi al-Muhandis, vice-comandante das Forças de Mobilização Popular (FMP), coalizão de milícias xiitas pró-Irã criadas no Iraque para combater o Estado Islâmico. Ambos haviam enfrentado o Estado Islâmico ao lado de forças americanas.
No dia 5, em retaliação aos assassinatos, o Parlamento iraquiano aprovou uma medida para expulsar os soldados estrangeiros do Iraque — que são, em sua maior parte, americanos. Trump chegou a ameaçar sancionar Bagdá, mas aliviou o tom de seu discurso em seguida. Washington, no entanto, continua a defender a manutenção de sua presença, recusando até mesmo um pedido feito pelo premier Abdul Mahdi para que os EUA enviassem uma delegação a Bagdá com o objetivo de formular um mecanismo para a saída de seus militares.
Os EUA invadiram o Iraque em 2003 para derrubar Saddam Hussein, sob o falso pretexto de que ele detinha armas de destruição em massa, e oficialmente se retiraram em 2011. Posteriormente, foi feito um novo acordo específico para combater o Estado Islâmico, grupo fundamentalista da vertente sunita do islamismo que a partir de 2014 ocupou várias cidades iraquianas. Atualmente, os EUA mantêm atualmente cerca de 5.200 soldados no Iraque.
A marcha “pacífica e unida para condenar a presença americana e suas violações” foi convocada por Sadr, cujo partido foi o mais bem votado nas eleições parlamentares de 2018. Sadr, bastante popular entre a população mais pobre de Bagdá, se opõe a toda a interferência externa no Iraque, mas vem se alinhando recentemente aos grupos pró-Irã.
A expectativa era que o ato desta sexta-feira, apoiado até mesmo por grupos xiitas adversários de Sadr, atraísse milhões de pessoas. Ainda assim, segundo o repórter da Al Jazeera Imran Khan, que estava presente em Bagdá, o ato foi “uma grande demonstração de força” para os grupos mais próximos de Teerã.
Temia-se que os protestos registrassem episódios de violência ou se dirigissem para a Zona Verde, área mais segura da capital iraquiana, onde está a embaixada americana, mas isso não aconteceu. Grupos céticos sobre a expulsão dos soldados americanos também argumentavam que o protesto poderia eclipsar as manifestações antigoverno e antissistema que começaram em outubro, deixaram mais de 450 mortos e culminaram na renúncia de Mahdi. Os manifestantes, no entanto, evitaram a praça Tahrir, onde estes protestos geralmente ocorrem, e se dispersaram no final da tarde.