Número de brasileiros em Portugal bate recorde
Foto: Denis Zimel / Agência O Globo
O número de brasileiros residentes em Portugal aumentou 43% em 2019 e chegou ao recorde de 150.864 mil. Em 2018 eram 105.423, 23% a mais que em relação a 2017. Nos últimos 12 meses, o Serviço de Estrangeiro e Fronteiras (SEF) concedeu um terço das novas autorizações a pessoas do Brasil, que segue como a maior comunidade estrangeira. Os números foram divulgados pelo diário “Público”.
Os brasileiros emigrantes nesta nova onda de pedidos de residência em Portugal têm um perfil profissional extremamente qualificado. Deixam seus empregos no Brasil em busca de maior qualidade de vida, chegam em família e, por vezes, preferem receber no recomeço um salário menor em troca de segurança para a família.
Uma das classes de profissionais que mais aumentou foi a dos médicos brasileiros. O número dobrou desde que a Ordem dos Médicos de Portugal passou a classificar os novos inscritos por país de origem, em 2003. Eram 388 naquele ano e estão, até agora, em 777, um aumento de 100,2%.
É um movimento planejado para tentar ocupar as vagas abertas pelos médicos portugueses que deixam o país em busca de melhores condições e salários. E não são apenas brasileiros nessa diáspora profissional: Portugal tem agora o maior número de médicos estrangeiros no Sistema Nacional de Saúde (SNS), com cerca de 2 mil — metade do efetivo.
A pediatra intensivista do Instituto Nacional de Câncer (Inca), Márcia Dornelles, é uma delas. Aos 41 anos, pediu licença de três anos ao Inca para fazer um mestrado e obter a licença para exercer a medicina em Portugal. No último dia 10, Dornelles, que se mudou com a família para Lisboa, cumpriu a terceira etapa de equivalência de diploma na Universidade de Lisboa, requisito para trabalhar na área.
— Sou formada há 18 anos e tive que voltar a estudar desde a medicina básica. Foi um período de atualização e revisão. Nessa etapa de relatório curricular, anexei 120 páginas de arquivos de comprovação bem descritivas e detalhadas para explicar os hospitais por onde passei, a complexidade de atendimento e o número de consultas realizadas. Fui bem no exame e acredito que este ano ainda consiga trabalhar com médica por aqui — disse Dornelles.
Após o processo de equivalência e reconhecimento, o profissional faz a inscrição na ordem, que pode autorizar a autonomia como clínico geral, caso o requerente tenha trabalhado continuamente nos últimos três anos. No setor público, o salário básico fica entre € 2 mil e € 2,3 mil, o que dá ao brasileiro a chance de um padrão de vida melhor do que no Brasil devido ao custo de vida inferior em Portugal. E ainda podem trabalhar como autônomos, prestando serviços por fora, ou usar o país como porta de entrada para a Europa.
As agências e escritórios de advogados que cuidam da burocracia para transferência dos médicos viram aumentar seus clientes nos últimos anos. Dizem que buscam aprimorar seus conhecimentos e fugir da violência, como foi o caso de Dornelles.
— Fui assaltada aàmão armada em frente ao Inca, na Cruz Vermelha, no Centro do Rio, às 9h. Foi assustador. Depois, a violência no Leme, onde morava, com balas perdidas, bombas e tiros devido ao esfacelamento das UPPs, disparou o gatilho de sair do Brasil. Comecei a ter medo de viver no Rio — contou Dornelles.
Ao chegar em Portugal, Dornelles descobriu que o SNS do país também tem seus problemas. A situação dos médicos é grave e mais de mil foram agredidos durante o trabalho em 2019. Isso aconteceu porque o sistema vive uma crise de falta de mão-de-obra aliada ao aumento de consultas, principalmente no inverno, com a epidemia de gripe. O governo teve que criar um gabinete de segurança na saúde para tentar conter a violência.
— Não tinha noção dessas crises todas. Mas o nível é melhor, mesmo com tudo isso. E olha que eu só trabalhei em centros de excelência no Brasil, mas a grande maioria do sistema público brasileiro não é assim — declarou Dornelles, que utiliza o SNS para tratar da saúde da família.
Portugal tem atualmente 580 mil imigrantes ao todo. É a primeira vez na história do país que a quantidade de residentes estrangeiros ultrapassa a barreira do meio milhão.