“O Auto da Compadecida” volta às telinhas 21 anos depois

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Foto: Reprodução

“Não sei, só sei que foi assim”. “Ô promessa desgraçada! Ô promessa sem jeito!”. Quem nunca ouviu, em algum momento das últimas duas décadas, as célebres frases de Chicó e João Grilo? Estrondoso foi o sucesso de “O auto da Compadecida”, primeiro como série, depois como filme. A obra original de Ariano Suassuna adaptada para a TV e o cinema por Guel Arraes, Adriana Falcão e João Falcão sagrou-se um clássico. Os personagens de Selton Mello e Matheus Nachtergaele viraram xodós dos brasileiros e suas falas, bordões. De hoje até sexta-feira, logo após “Amor de mãe”, a Globo reexibe pela primeira vez a série que foi sucesso lá em 1999, agora remasterizada, com nova abertura e com a identidade visual repaginadas por computação gráfica. A atração também está disponível no Globoplay.

— “O auto da Compadecida” oferece para o público beleza, alegria e dramaticidade atemporais. Sempre é tempo de revisitar o povo brasileiro, que é safo e sobrevive quase sem ajuda. Especialmente o nordestino, que, apesar de todas as dificuldades, sabe se divertir e tem vocação para ser feliz. Um povo com o qual temos muito o que aprender — afirma o também diretor da obra, Guel Arraes.

A comédia mistura regionalismos e religiosidade para contar a história de dois nordestinos muito espertos, em quatro episódios. João Grilo (Nachtergaele) é um sertanejo desnutrido, que ganha a vida e enche o bucho com sua malandragem. Seu parceiro Chicó (Selton), por sua vez, mente que nem sente e se mostra um conquistador nato na cidadezinha de Taperoá (PA), onde se passam as aventuras da dupla.

A morte da cadela do Padeiro pão-duro (Diogo Vilela) e sua mulher infiel (Dora, vivida por Denise Fraga); a filha solteirona (Rosinha, interpretada por Virginia Cavendish) do latifundiário (Major Antonio Morais, vivido por Paulo Goulart); o duelo entre os dois valentões da região (Cabo Setenta, na pele de Aramis Trindade, e Vicentão, feito por Bruno Garcia); e o juízo final na presença do Diabo (Luís Melo), de Jesus Cristo (Maurício Gonçalves) e de Nossa Senhora, a Compadecida (Fernanda Montenegro): tudo é motivo para esses dois se meterem em encrenca.

— João Grilo e Chicó tentam sobreviver com humor a todos os poderes que muitas vezes fazem o mundo pior. Eles lutam todos os dias por questões básicas de sobrevivência, e acho que vem daí parte da empatia das pessoas pela obra. Gera uma identificação por estarmos todos tentando sobreviver a este mundo — opina Nachtergaele, 52 anos de vida completados na última sexta-feira, que nutre uma verdadeira paixão por seu papel: — Esse personagem me ensinou a ser feliz na tristeza, a rir nas horas mais perigosas e desgraçadas da vida. “O auto da Compadecida” é uma obra definitiva sobre a brasilidade, e João é um arlequim brasileiro.

Selton Mello está ainda mais empolgado com essa exibição comemorativa de 20 anos da série, na TV aberta. Desde o início de dezembro passado, o ator de 47 anos vem anunciando em seu Instagram a novidade. “Um trabalho que até hoje diverte e comove o público brasileiro, um fenômeno de que tive a alegria de fazer parte. Saber que uma nova geração vai se deparar com a potência criativa do que fizemos emociona de uma forma que nem sei… João Grilo e Chicó estão de volta! Os filhos e netos dos fãs da série vão ver pela primeira vez, e isso é inexplicável! A beleza da obra do mestre Ariano Suassuna, com um elenco e uma equipe de talentos e pessoas adoráveis, sob a regência inspirada de Guel Arraes, trará luz, boa onda, inspiração. Isso não é pouca coisa. E viva a cultura brasileira!”, escreveu em sua conta na rede social. Selton afirma que sua carreira “é antes e depois de Chicó”.

— É algo tão poderoso, que atravessou o tempo. Não dou um passo em qualquer lugar do Brasil sem que pessoas, de qualquer faixa etária ou condição social, não me parem para falar do personagem. É o papel mais popular da minha vida, e olha que eu já fiz muita novela, que é um formato que te deixa em evidência por meses! É muito surpreendente que um trabalho de quatro episódios, no caso da série, ou de cerca de 1h30, no caso do filme, tenha tanta força. Chicó está marcado para sempre e do modo mais lindo possível na minha vida — declara-se.

O Globo