O novo inimigo de Moro no governo
Foto: Adriana Lorete/O Globo
Decisões importantes para o governo têm colocado em lados opostos dois ministros do presidente Jair Bolsonaro: Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) e Jorge Oliveira (Secretaria-Geral da Presidência). Ambos estão de olho na vaga que abrirá em novembro no Supremo Tribunal Federal (STF) e trabalham para indicar o novo diretor-geral da Polícia Federal (PF). Têm também posições antagônicas quanto à possibilidade de recriação do Ministério da Segurança Pública.
A tensão entre os dois auxiliares de Bolsonaro veio à tona com a tentativa de dividir a pasta, o que esvaziaria os poderes de Moro. Na semana passada, coube a Oliveira anunciar que o presidente estava analisando a questão e que essa era uma demanda “muito recorrente” dos Estados. Ele foi um dos protagonistas da reunião em que secretários estaduais de Segurança fizeram esse pedido a Bolsonaro.
A ideia de dividir em dois o ministério, no entanto, repercutiu muito mal nas redes sociais, o que fez Bolsonaro recuar. Após o episódio, na terça-feira, Moro e Oliveira se encontraram e conversaram, reservadamente, por mais de uma hora. A pauta do encontro não foi divulgada.
O secretário-geral é um dos auxiliares mais próximos do presidente. Policial militar de carreira, Oliveira já foi citado pelo próprio Bolsonaro como um “bom nome” para assumir uma das duas cadeiras no Supremo que ficarão vagas até o fim de 2022.
Apesar de ele negar que tenha interesse de entrar para a Corte, fontes afirmam que Oliveira e o advogado-geral da União, André Mendonça, são os preferidos de Bolsonaro. Se for indicado, ele é visto como alguém que não iria “surpreender”, tendo em vista a proximidade com o presidente.
Após a crise da semana passada, porém, tanto aliados de Moro como interlocutores do presidente afirmam que a possibilidade de indicação do ex-juiz da Operação Lava-Jato ao Supremo ficou mais forte. A escolha é vista como estratégica para Bolsonaro, pois, além de agradar parte da opinião pública, ainda dificultaria uma eventual candidatura de Moro à Presidência em 2022.
Oliveira também tem trabalhado para emplacar o atual secretário de Segurança do Distrito Federal, Anderson Torres, como substituto de Maurício Valeixo no comando da PF. A saída do atual diretor-geral não foi confirmada, mas já é vista como algo “natural” dentro da corporação.
Moro já sinalizou que Torres não conta com o seu aval para assumir o cargo. Dentro da PF, ele é considerado “carreirista”. A principal crítica é que Torres nunca conduziu um grande inquérito ou dirigiu uma superintendência importante, e só teria crescido na corporação devido aos contatos políticos.
Torres foi chefe de gabinete do ex-deputado Fernando Francischini (PSL-PR). Na PF, atuou como superintendente em Roraima. Na semana passada, além de ter articulado a reunião com Bolsonaro onde se discutiu a recriação da pasta da segurança, ele divulgou um ofício no qual criticava Moro e cobrava explicações sobre a falta de informação sobre a permanência do traficante Marcos Camacho, o Marcola, líder do PCC, no presídio federal de Brasília.
A indicação de Torres para o comando da Polícia Federal também conta com apoio dos filhos do presidente, Flávio e Eduardo, e do ex-deputado Alberto Fraga (DEM-DF), que foi cotado para assumir a nova pasta, caso fosse recriada.
Procurado, o secretário de Segurança disse que “nunca ouviu” que Moro “ teria essa objeção” em relação a uma eventual indicação para que comandasse a PF. Também afirmou manter uma relação “cordial e de muito profissionalismo” com o ministro.
Ele rebateu ainda as críticas de que o seu nome seria uma escolha política. “Não há razão para críticas. A escolha do DG sempre teve como seu principal fator o relacionamento do escolhido com o ministro da Justiça e/ou com o presidente da República.”
Outro nome que desponta para assumir a PF é o do diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem. Ele se aproximou de Bolsonaro durante a campanha eleitoral, quando passou a chefiar a equipe de segurança do então candidato após o atentado à faca em Juiz de Fora (MG).
Dentro da corporação, porém, a indicação de Ramagem é vista com desconforto, por ele ser de uma geração mais nova. Nos últimos anos, os diretores-gerais foram escolhidos entre os delegados que entraram no concurso de 1993, como Valeixo. Torres é da seleção seguinte, de 2001, enquanto Ramagem ingressou na carreira depois de 2004.
Entre os preferidos de Moro para o cargo está o delegado Fabiano Bordignon, que hoje dirige o Departamento Penitenciário Nacional (Depen). Questionado sobre o assunto, ele desconversou. Assessores do ministro da Justiça negam que Valeixo vá deixar o cargo.