Quem é o chefe da Secom de Bolsonaro
Foto: Agência Brasil
O atual chefe da Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom), Fabio Wajngarten, divide opiniões entre publicitários e profissionais que trabalham na comunicação do governo.
Alguns dizem que a chegada dele, em abril de 2019, representou um alívio após quatro meses de comando de militares pouco familiarizados com o setor de comunicação.
Outros dizem que Wajngarten pouco atua no dia a dia da Secom, a poderosa repartição da Secretaria de Governo, comandada pelo ministro Luiz Eduardo Ramos, que centraliza a propaganda (e a liberação de verbas de publicidade) do governo federal. O empresário prefere ficar ao lado de Jair Bolsonaro, enquanto a Secom é tocado por um subordinado, dizem.
Fabio Wajngarten chegou ao governo em abril de 2019, com a missão de melhorar a relação do governo com as empresas de mídia. Na época, a nomeação teve o apoio público do filósofo e guru Olavo de Carvalho, que era crítico ao então superior de Wajngarten, o ex-ministro Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo).
O chefe da Secom entrou em evidência na última quarta-feira (15), com uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo.
Segundo o texto, Wajngarten segue como o principal sócio de uma empresa, a FW Comunicação e Marketing, que presta consultorias e recebe dinheiro de TVs e empresas de publicidade contratadas pela própria Secretaria comandada por ele — o que implicaria em conflito de interesses.
A legislação proíbe integrantes da cúpula do governo de manter negócios com pessoas físicas ou jurídicas que possam ser afetadas por suas decisões. O conflito de interesses pode configurar ato de improbidade administrativa; a lei, nesse caso, prevê penalidades como a demissão do agente público.
Wajngarten nega irregularidades e diz que se afastou da gestão da empresa antes de assumir o cargo, conforme determinado pela Casa Civil, responsável pelos trâmites da posse dos servidores públicos. Ele segue como dono de 95% da FW. Sua mãe controla os 5% restantes.
Segundo a Folha de S. Paulo, a FW mantém contratos com pelo menos cinco empresas que receberam recursos do governo federal, entre elas as emissoras Band e Record, cuja participação no bolo da publicidade federal cresceu durante o 1º ano da gestão de Bolsonaro.
Além das emissoras, a empresa de Wajngarten também presta serviços a agências de publicidade que atendem contas do governo: Artplan, Nova/SB e Propeg.
Durante o mandato de Wajngarten, a Artplan também viu sua participação nas verbas de publicidade da Secom crescer em 36%, tornando-se a agência que mais recebeu verbas da pasta: R$ 70 milhões. Os dados foram levantados pela Folha de S. Paulo nas planilhas da Secom.
Depois que assumiu a Secom, Wajngarten deixou a FW Comunicação e Marketing a cargo do empresário Fábio Liberman — o irmão dele, Samy Liberman, é o atual nº 2 na hierarquia do órgão.
Os valores pagos pelas emissoras a Wajngarten são relativamente pequenos. O Grupo Bandeirantes, dono da Band, disse contratar a empresa dele desde 2004. Em 2019, a Band pagou R$ 109 mil à FW, em troca de serviços como o mapeamento de anunciantes.
Depois da reportagem da Folha de S.Paulo, Jair Bolsonaro disse que manteria o secretário em seu cargo.
“Se for ilegal, a gente vê lá na frente. Mas, do que eu vi até agora, está tudo legal com o Fabio. Vai continuar (no cargo), é um excelente profissional. Se fosse uma porcaria, igual a alguns que têm por aí, ninguém o estaria criticando”, disse o presidente da República.
O imbróglio, porém, está longe de terminar.
O caso será analisado na próxima terça-feira (28) pela Comissão de Ética Pública da Presidência — um órgão consultivo, cuja tarefa é aconselhar o presidente da República sobre a conduta de ministros e altos funcionários como Wajngarten.
Embora não possa demitir Wajngarten, a comissão tem o poder de aplicar advertências e censuras públicas aos acusados.
Em outra frente, o Ministério Público de Contas resolveu investigar a conduta de Wajngarten no âmbito do Tribunal de Contas da União (TCU) — o procurador Lucas Rocha Furtado defende que o TCU apure uma possível violação da Lei de Conflito de Interesses (sancionada em 2013, pela ex-presidente petista Dilma Rousseff).
Além disso, a juíza federal Solange Salgado, da 1ª Vara Federal de Brasília, determinou a Wajngarten que se manifeste sobre o assunto. O pedido da juíza decorre de uma ação popular formulada pelo PSOL, que pede o afastamento do secretário.
No começo da noite de quarta-feira (15), Wajngarten defendeu seu trabalho junto ao mercado publicitário, e negou qualquer irregularidade, além de criticar a Folha de S.Paulo.
“(Estou aqui) Porque eu confio nele (Bolsonaro) e porque estou encantado com o que estou vivendo aqui desde abril. Estejam certos que deixar esposa, uma criança com necessidades especiais de oito anos, e mais duas crianças pequenas (em casa) não é fácil”, disse.
“Eles estão mexendo com a pessoa errada. Não é justo, não é correto. Eu não estou aqui na guerrinha A, B, C ou D. Quando a comunicação estiver errada, vou dizer que está errada. Quando o Fabio estiver errado, eu pego minha malinha e vou embora, o que não é o caso. Não foi nada justa a condução da matéria, não foi nada equilibrada, a matéria”, reclamou ele.
Fabio Wajngarten é um empresário paulistano de pouco mais de 40 anos. É formado em Direito, e em 2002 concluiu uma pós-graduação em Serviços de Marketing na ESPM em São Paulo. Seu pai, Mauricio Wajngarten, é um cardiologista conhecido em São Paulo.
Sua empresa tem o nome fantasia de Controle da Concorrência. Além dos levantamentos de audiência, a empresa faz também o que se chama de “checking” no mercado de publicidade — isto é, verificar se as peças publicitárias contratadas foram realmente veiculadas.
Wajngarten conheceu Bolsonaro em 2016, e o auxiliou durante o período da campanha eleitoral. Também levou o então deputado federal a eventos da comunidade judaica em São Paulo — um exemplo foi um jantar da instituição filantrópica Hadassah Brasil, da área de saúde.
Segundo publicitários e jornalistas que trabalham com a comunicação pública, a chegada de Wajngarten à Secom realmente ajudou a esfriar os ânimos do setor — com quem o governo vivia em atrito nos primeiros tempos.
“Todo o mercado comemorou a chegada dele (Wajngarten), justamente porque ele é um empresário da comunicação. Antes, tivemos quatro meses de um clima cinza, nublado. Os generais brecavam tudo, desconfiavam de tudo e de todos. Não sabiam a diferença entre pesquisa qualitativa e quantitativa, não sabiam o que é um plano de mídia”, diz um publicitário de uma das principais agências que atendem o governo, sob condição de anonimato.
“O Santos Cruz pensava que o BV (Bônus de Veiculação) era crime. Tivemos de mostrar a ele que não era, que estava na lei”, diz o profissional. “A gente torce para que isto (a situação na Secom) se acalme, para que se use o bom senso”, completa. O BV é uma comissão paga às agências de publicidade na compra de espaços de mídia.
Outros profissionais consultados pela BBC News Brasil dizem que Wajngarten pouco cuida do dia a dia da Secom e da relação com as agências de publicidade — este papel é exercido principalmente pelo publicitário Glen Lopes Valente, que chefia a área de Publicidade e Promoção da Secom.
Wajngarten, enquanto isso, prefere ficar ao lado do presidente da República e aconselhá-lo na relação com os jornais, além de fazer sugestões sobre como responder a crises.
“Esse Fabio está mais ao lado do presidente, como um assessor de comunicação, aconselhando sobre como reagir ou não do que dentro da Secom, operando a Secom”, diz um segundo publicitário. “Ele é como se fosse um Franklin Martins. (O jornalista capixaba) era um cara que tinha muito poder na formulação das declarações, que ficava sentado ao lado do Lula nas crises”, diz esse profissional.
Wajngarten mantém contato com a cúpula das principais TVs abertas do país há bastante tempo. Com o apoio dos canais Record, SBT, Band e Rede TV, ele comandou a tentativa de emplacar, no Brasil, uma alternativa ao Ibope na aferição de audiência do país, através do instituto alemão GfK.
O objetivo era destronar o Ibope — instituto que tem na Globo a sua principal cliente, e que é o virtual monopolista da atividade no Brasil.
A empreitada, porém, deu errado. As empresas de TV retiraram o apoio ao instituto alemão, que encerrou suas atividades em 2017, após deparar-se, segundo comunicado do diretor financeiro da empresa, “com um cenário que tornou insustentável a manutenção dos serviços de medição quantitativa contínua de mídia no Brasil”.