Bolsonaro quer uma ‘perícia independente’ da morte de Adriano
Foto: Jorge William/Agência O Globo
O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta terça-feira que tomou as “providências legais” para que seja realizada uma “perícia independente” sobre a morte de Adriano da Nóbrega , ex-capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) do Rio de Janeiro suspeito de integrar uma milícia, que foi morto em uma operação na Bahia no último dia 9. Bolsonaro disse que esperava que os governadores que criticaram suas declarações sobre o caso também defendessem uma “investigação isenta” . O presidente defendeu ainda uma “perícia insuspeita” nos celulares apreendidos com Adriano.
Na segunda-feira, governadores de 19 estados e do Distrito Federal divulgaram uma carta repudiando declarações recentes de Bolsonaro , entre elas as sobre a morte de Adriano. No sábado, o presidente atribuiu a responsabilidade à “PM da Bahia, do PT” . O estado é governador por Rui Costa (PT). Na carta, os governadores dizem que Bolsonaro se antecipa a investigações e e atribui “fatos graves às condutas das polícias e de seus governadores”.
— Eu esperava que os governadores, esses que assinaram a carta sobre isso, sobre esse assunto específico, fossem querer uma investigação isenta no caso Adriano. Pelo que tudo indica, a própria revista Veja fez, não estou dizendo agora que estou dando credibilidade à imprensa, a Veja fez a matéria ouvindo peritos. Os peritos alegaram ali que, pelo que tudo indica, os tiros foram à queima-roupa, então foi queima de arquivo. Interessa a quem a queima de arquivo? A mim? A mim, não. Zero — disse Bolsonaro na manhã desta terça, antes de cerimônia de hasteamento de bandeira no Palácio da Alvorada, fazendo referência a uma reportagem da revista “Veja”.
O presidente disse que, sem a “perícia independente”, não será possível descobrir os mandantes do assassinato da ex-vereadora Marielle Franco (PSOL). Adriano Nóbrega prestou depoimento na investigação sobre o assassinato de Marielle. Bolsonaro ainda afirmou que os interessados na falta de elucidação da morte de Marielle são os mesmos que não querem investigar o assassinato do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel (PT).
— O que é mais grave agora, o que é mais grave agora, primeiro estou pedindo, já tomei as providência legais, para que seja feita uma perícia independente. Sem isso, você não tem como buscar, até quem sabe, quem matou a Marielle. A quem interessa não desvendar a morte da Marielle? Os mesmos que não interessam desvendar o caso Celso Daniel. Exatamente os mesmos.
Bolsonaro não quis explicar quais seriam as “providências legais” que ele tomou no caso e disse que era necessário “interpretar texto”:
— Interpretação de vocês. Vocês estudaram para isso, interpretar texto. Quem não interpretar texto tem que voltar para a faculdade.
Indagado sobre essas “providências”, a Secretaria de Comunicação (Secom) do Palácio do Planalto informou não ter informações além da fala do presidente.
Bolsonaro ainda criticou a abordagem da operação que matou Adriano, realizada pelo Bope da Bahia, com apoio do setor de inteligência da Polícia Civil do Rio de Janeiro, dizendo que a conduta certa seria fazer Adriano se render. O ex-capitão foi morto dentro de um casa no interior da Bahia, que estava cercada por policiais.
— Uma perícia independente vai dizer se ele foi torturado, se não foi, a que distância foram os tiros. E tinham dezenas de pessoas cercando uma casa. A conduta não é essa, a conduta é cercar e buscar a negociação para (o alvo) se render. Estão se falando muita coisa, a gente vê na mídia, terceiros, informes, então para esclarecer a verdade, uma perícia.
Bolsonaro ainda cobrou uma “perícia insuspeita” nos celulares apreendidos com Adriano. Ele afirmou que podem ser inseridos áudios e conversas inexistentes no celular e levantou a hipótese dele próprio ser vítima de uma armação.
— O que é mais grave. Vai ser feita perícia nos telefones, ou no telefone apreendido com ele. Será que essa perícia poderá ser insuspeita? Porque eu quero uma perícia insuspeita. Eu quero uma perícia insuspeita. Porque nós não queremos que seja inseridos áudios no telefone dele ou inseridas conversações no WhatsApp. É só isso. Porque depois que se faz uma perícia, se por ventura, vamos deixar bem claro, por ventura, não estou afirmando, uma pessoa seja atingida, que pode ser eu, pode ser eu.
Foram encontrados com Adriano 13 celulares e sete cartões de chip. A Polícia Civil do Rio não tem praticamente conversas dele grampeadas, porque ele usava somente o sinal de wi-fi para fazer as ligações, além da constante troca de chips, de operadoras diferentes, geralmente, usados uma única vez.
Bolsonaro também disse que Adriano não teria “nada” para falar contra ele e que, se tivesse, “os cuidados seriam outros para preservá-lo vivo”. Adriano foi homenageado pelo então deputado estadual Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) — o presidente disse que no sábado que foi ele que determinou que Flávio realizasse a homenagem .
— É o primeiro passo para você começar a desvendar as circunstâncias que ele morreu e por que poderia interessar para alguém a queima de arquivo. O que ele teria para falar? Contra mim que não era nada. Se fosse contra mim, tenho certeza que os cuidados seriam outro para preservá-lo vivo.