Chanceler argentino diz que relação com o Brasil melhorou
Foto: Adriano Machado/Reuters
A relação entre Brasil e Argentina saiu do freezer, e o chanceler do governo Alberto Fernández, o também peronista Felipe Solá, deixou Brasília nesta quarta-feira com a sensação de dever cumprido. Em entrevista exclusiva ao GLOBO, o líder da primeira missão de alto nível enviada pela Casa Rosada ao Brasil desde a posse de Fernández assegurou que “tudo mudou” no vínculo entre os dois governos.
Confiante, apesar da delicada situação financeira que assola seu país, o chanceler argentino afirmou ainda que a melhora no relacionamento entre Brasil e Argentina é crucial para que os Estados Unidos entendam a importância de apoiar o governo Fernández nas negociações da dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
“Estava instalada uma relação muito ruim, péssima diria, entre os governos do Brasil e da Argentina. Isso terminou hoje”, frisou o chanceler argentino, que conseguiu obter do presidente Jair Bolsonaro uma proposta de encontro bilateral com Fernández no Uruguai, no começo de março, quando ambos irão ao país para a posse do novo presidente, o centro-direitista Luis Lacalle Pou.
O senhor obteve en Brasília a compreensão e apoio que esperava?
Totalmente.
Por que é tão importante para a Argentina neste momento um gesto explícito de apoio por parte do Brasil?
Todo apoio é importante. Estava instalada uma relação muito ruim, péssima diria, entre os governos do Brasil e da Argentina. Isso terminou hoje. E acho que é importante que o governo dos Estados Unidos saiba que isso aconteceu, que a relação melhorou. Isso é no âmbito do jogo do FMI.
Este foi um primeiro passo no processo de recuperação da relação bilateral entre dois dos países mais importantes do continente?
Sim.
Qual será o próximo passo?
Um encontro bilateral entre os presidentes Jair Bolsonaro e Alberto Fernández no âmbito da posse do novo chefe de Estado do Uruguai, Luis Lacalle Pou. Paralelamente, teremos reuniões bilaterais entre funcionários das áreas de produção e comércio, também em março. Serão realizadas, ainda, reuniões nos dias 18 e 19 de fevereiro em Assunção, no Paraguai, entre os países do Mercosul. Vamos discutir questões do relacionamento externo e também de nossa agenda interna.
Nas conversas em Brasília foi discutida a possibilidade de flexibilizar o bloco e permitir que países possam negociar acordos de livre comércio bilaterais, ou seja, de eliminar o chamado “4+1”?
Não falamos sobre isso, não foi abordado.
O que foi falado sobre o acordo já fechado entre Mercosul e União Europeia (UE)?
Em relação ao acordo com a UE, a Argentina precisa, primeiro, iniciar a tradução do entendimento. Isso deve ser feito antes que o acordo seja enviado ao Parlamento Europeu e aos parlamentos do bloco. O que nos pediram é que a tradução, que é para o inglês, possa estar pronta entre julho e dezembro.
O governo brasileiro fez alguma reclamação pela queda do comércio bilateral e pela implementação de medidas protecionistas, entre elas as chamadas licenças não automáticas?
Não foi feita qualquer reclamação nesse sentido. Explicamos em detalhe a situação da Argentina, por que as importações caíram tanto, justamente pela crise que estamos atravessando. Conversamos, sim, sobre agilizar as fronteiras. O ministro Araújo me consultou sobre as licenças não automáticas e eu lhe entreguei um documento no qual explicamos que nenhum pedido de importação foi barrado. Com o presidente Bolsonaro não falamos sobre essa questão.
O senhor deixou Brasília com a sensação de ter cumprido satisfatoriamente sua missão?
Com certeza! Mudou tudo.