Deputado corta bloqueio em terra indígena usando motosserra
Foto: Divulgação
Munido de alicate e uma motosserra, o deputado estadual Jeferson Alves (PTB-RR) derrubou nesta sexta-feira o bloqueio de controle do acesso à estrada que corta a Terra Indígena Waimiri Atroari, ocupada pelo povo Kinja , que costuma fechar a passagem da BR -174, que liga Manaus (AM) a Boa Vista (Roraima), durante a noite para impedir o trânsito de carros e caminhões como proteção à fauna local.
Diante das câmeras das Tvs locais e com a ajuda de apoiadores, o parlamentar cortou a corrente e serrou o tronco que a sustentava. Durante o ato, ele citou o presidente Jair Bolsonaro e afirmou que “nunca mais” a passagem será fechada.
– Se depender de mim essa corrente nunca mais vai deixar meu Estado isolado. Bolsonaro, isso é por Roraima, pelo Brasil. Nós estamos retirando essa corrente que humilha e maltrata meu estado, em nome da população roraimense – disse.
A Terra Indígena Waimiri Atroari é alvo de uma batalha jurídica envolvendo a construção de um linhão de transmissão de energia, proposto pelo governo federal e barrada pela Justiça. A linha está planejada para interligar Manaus a Boa Vista. Alves é um dos defensores da obra.
Os índios kinja promovem expedições para fiscalizar a entrada de invasores e uso ilegal de recursos naturais e são os responsáveis pelo monitoramento de atropelamento de fauna no trecho da BR-174. De acordo com o Instituto Socioambiental, 9.837 animais morreram atropelados entre 1997 e 2016.
Ao GLOBO, o parlamentar tentou justificar sua atitude ao dizer que a retirada da corrente era uma promessa de sua campanha e que o bloqueio foi tema de audiências públicas realizadas nas Assembleias Legislativas de Roraima e do Amazonas.
– Foi necessário fazer. Roraima está isolada do mercado por conta do bloqueio desta rodovia. Nosso estado está esquecido. Era preciso chamar atenção do Brasil. Promovemos uma audiência pública para debater a questão, estivemos em Manaus discutindo o tema, o assunto foi debatido exaustivamente. De lá pra cá nada mudou, não tivemos nenhuma resposta dos órgãos competentes, muito menos de representantes do governo federal – disse.
A Funai afirmou que “não tem competência para julgar a legalidade do ato” e que o Ministério Público Federal (MPF) já tomou conhecimento do fato. Porém, vai “acompanhar de perto o desenrolar do caso”.
O órgão disse ainda que a iniciativa de controlar o tráfego na BR-174 partiu do Exército, quando ainda eram responsáveis pelos postos de vigilância e faz parte do Subprograma de Proteção Ambiental do Programa Waimiri-Atroari.
“É permitido, entre 18h e 6h da manhã, o trafego de ônibus, caminhões com carga perecível e ambulâncias conduzindo enfermos. A medida evita que carros de passeio ou caminhões em alta velocidade atropelem animais de hábitos noturnos, muito comuns às margens daquela estrada”.
De acordo com a Funai, os indígenas já substituíram as correntes, que são colocadas no início e no final da Terra Indígena.
– Eu vou lutar até o fim. E se for preciso eu volto lá para derrubar de novo. Não estou preocupado com as consequências – afirma Alves.