EUA vão interferir em leilões do petróleo no Brasil

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Foto: Leo Pinheiro/Valor

Depois dos resultados abaixo do esperado no leilão do excedente da cessão onerosa e na 6ª Rodada de Partilha (Leilão do Pré-sal), em novembro do ano passado, o governo dos Estados Unidos vai oferecer ajuda ao governo Bolsonaro para aperfeiçoar a modelagem dos leilões de áreas exploratórias no Brasil. O governo americano também enxerga possibilidade de uma parceria com o Brasil para o desenvolvimento do setor de exploração e produção não convencional de gás natural – o gás de folhelho – no país.

“Nós vimos o que aconteceu no último leilão [de petróleo]. Nós entendemos claramente por que alguns investidores podem ter evitado. É justo dizer que o ministro Bento [Albuquerque, ministro de Minas e Energia] também reconhece algumas questões que estavam envolvidas naquele leilão. E nós estamos prontos para ajudar, caso desejem, na criação de novos leilões, que possam produzir resultados mais propícios aos desejos do governo”, disse o secretário de Energia dos Estados Unidos, Dan Brouillette. “Estamos prontos, tanto no nível de governo para governo quanto do setor privado para o setor privado, para ajudar no que for possível”.

Em conversa com jornalistas ontem no Rio, o secretário – o equivalente ao ministro de Minas e Energia nos EUA – disse que conversará sobre o assunto com Albuquerque. Ele também afirmou que acredita na possibilidade de uma parceria entre os dois países para o desenvolvimento da indústria do gás de folhelho no Brasil. “O potencial aqui [no Brasil] é enorme”.

Brouillette lembrou que o desenvolvimento do “shale gas” revolucionou a indústria de energia nos EUA, que, pela primeira vez, serão exportadores líquidos de óleo e gás natural em 2020.

O secretário veio ao Brasil para participar da primeira reunião do Fórum de Energia Brasil-Estados Unidos (Usbef), iniciativa criada em março de 2019 pelos presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro, durante reunião em Washington. No primeiro encontro do fórum, que ocorre nesta segunda-feira, no Rio, o tema principal será a indústria de energia nuclear. Mas Brouillette contou que também serão discutidos assuntos nas áreas de fontes renováveis e petróleo e gás.

No fórum, estão previstas as assinaturas de um memorando de entendimentos que amplia a cooperação bilateral entre a Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN) e o Instituto de Energia Nuclear (NEI, na sigla em inglês) e de uma carta de intenções entre a Eletronuclear e a Westinghouse.

A carta de intenções é relativa à expansão da vida útil da usina nuclear de Angra 1, cujo reator foi fornecido pela empresa americana. No ano passado, a estatal apresentou à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) o pedido de renovação da licença operacional da usina, de 2024 para 2044.

Brouillette disse acreditar que a carta de intenções pode se desdobrar em acordos para a construção de novas usinas no futuro. “Se esta for a decisão do governo brasileiro, se o governo Bolsonaro e o ministro Bento desejarem seguir em frente com novas usinas, nós estamos prontos para ajudar nesse esforço”, afirmou o secretário, que disse que os EUA podem contribuir também com novas tecnologias, como o fornecimento de reatores nucleares de pequena escala.

Perguntado sobre a possibilidade em estudo pelo governo brasileiro de permitir a participação de empresas estrangeiras na mineração de urânio no país, o secretário disse que esse assunto será discutido entre os dois países. Segundo ele, as companhias americanas têm interesse em todos os serviços relacionados ao urânio no Brasil.

Questionado também sobre a possibilidade de o Brasil vir a integrar a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), o secretário americano disse não ter conhecimento sobre essa informação, mas que seria uma decisão que caberia ao Brasil. Ele, porém, sinalizou que, devido ao avanço tecnológico na indústria petrolífera com o desenvolvimento de áreas não-convencionais, como o “shale gas” nos EUA, a Opep continua sendo importante, “mas não é a mesma de quatro décadas atrás”.

Valor Econômico