Miliciano bolsonarista morto lavava dinheiro com… gado!
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A Polícia da Bahia investiga se o ex-oficial da Polícia Militar do Rio Adriano Magalhães da Nóbrega, morto na Bahia no último domingo, mantinha um esquema de lavagem de dinheiro por meio de compra de terrenos e de gado no Estado.
Foragido da Justiça desde janeiro de 2019, ele estava em território baiano havia, no mínimo, um mês e meio. Era investigado no Rio por supostamente chefiar a milícia Escritório do Crime. A quadrilha, suspeita de envolvimento na morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, explora comunidades pobres, promove extorsões e comete homicídios por encomenda, entre outros delitos.
As autoridades também tentam chegar à rede de proteção que o Capitão Adriano, como era conhecido, teria mantido na Bahia durante o período em que se refugiou no local. Antes de ir para Esplanada, cidade do interior baiano onde foi encontrado pela Polícia e morto a tiros, Adriano estava em uma casa na Costa do Sauípe. Fugiu pelos fundos quando a polícia chegou. Deixou para trás uma identidade falsa e foi alcançado, dias depois, por policiais do Rio e PMs do Batalhão de Operações Especiais baiano.
O ex-PM teve a ex-mulher, Danielle Mendonça da Costa, e a mãe, Raimunda Veras Magalhães, contratadas no gabinete de Flávio Bolsonaro quando ele era deputado estadual. Ambas são investigadas por suposta participação em esquema de rachadinha (desvio de dinheiro dos seus salários para o parlamentar). Também era ligado a Fabrício Queiroz, outro ex-assessor de Flávio, filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro. Queiroz afirmou ter indicado Danielle e Raimunda para as vagas na assessoria do parlamentar. Flávio foi autor de projeto concedendo a Medalha Tiradentes, mais alta honraria do Legislativo fluminense, a Adriano.
A polícia prendeu Leandro Guimarães, que organiza vaquejadas na fazenda Parque Gilton Guimarães, em Esplanada. Aberta em 2005 e registrada como empresa individual pelo dono, a empresa tem capital social de R$ 15 mil registrado na Receita Federal. Os torneios lá organizados, porém, oferecerem prêmios que chegam aos seis dígitos. Na noite desta terça-feira, 11, a Justiça concedeu liberdade provisória a Guimarães, desde que ele pague fiança e use tornozeleira eletrônica, segundo o promotor, Dario Kist.
Adriano passou uma semana abrigado lá, depois de fugir, na última semana de janeiro, da Costa do Sauípe. Só saiu no sábado, véspera da morte, após saber que estavam atrás dele naquela região. Guimarães, que portava armas, foi preso no sábado e, em depoimento à polícia, alegou que escondeu Adriano por pressão dele. O fazendeiro está detido no Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco), em Salvador. O carioca, disse ele, teria se apresentado como alguém interessado em comprar terrenos no local.
Não se tem a dimensão, ainda, do nível de participação desse homem – que é popular nas redes sociais, onde exibe seu sucesso no mundo da vaquejada – na proteção a Adriano. Os investigadores, contudo, souberam que a relação entre os dois não começou depois que o miliciano fugiu da casa de luxo. Antes, Guimarães chegou a visitar o ex-capitão na Costa do Sauípe, afirmam autoridades baianas.
“Ele tinha ido à Costa do Sauípe prestar algum tipo de auxílio, não sei se mantimentos… Mas prestou apoio a Adriano nessa fazenda dele. A partir de agora vamos tentar saber um pouco mais da função de Leandro. Mas que ele dava cobertura a Adriano aqui, dava”, afirmou ao Estado o secretário de Segurança Pública da Bahia, Maurício Barbosa. ”Precisamos entender se é só esse auxílio ou se ele tinha envolvimento na lavagem de dinheiro, uma pessoa que era usada como laranja para Adriano comprar gado, por exemplo.”
Não cabe aos investigadores da Bahia analisar o conteúdo dos treze celulares apreendidos na operação de domingo. Todo esse material está com a Polícia e o Ministério Público do Rio. Foi justamente por meio de conversas de WhatsApp que o MP-RJ encontrou supostos indícios da relação de Adriano com o presumido esquema de “rachadinha” no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro.
Ao analisar conversas dele com a ex-mulher no inquérito sobre o Escritório do Crime, o Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) encontrou diálogos importantes para a investigação sobre o hoje senador, tocadas pelo Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (Gaeco). Neles, o suposto chefe do Escritório do Crime diz que se beneficiava do desvio de dinheiro da Valer.
Uma operação policial na última sexta-feira em Vitória da Conquista, município baiano a cerca de 550 quilômetros de Esplanada, teria alarmado Adriano no sábado que antecedeu a sua morte. Ele continuava escondido na fazenda de Leandro Guimarães ,quando recebeu um telefonema de sua atual companheira, Júlia Mello. Ela voltava para o Rio quando foi parada pela Polícia Rodoviária Federal. O miliciano, que teria informantes na polícia do Rio, teria então ficado ainda mais nervoso – percebeu que seus perseguidores se aproximavam.
Em depoimento à Polícia, Guimarães declarou que Adriano estava tenso na véspera de ser cercado pela última vez. Ao saber que iriam atrás dele, pediu para ser levado a outro lugar. Foi aí que o miliciano chegou – supostamente invadindo – ao local em que seria morto na manhã seguinte. Há indícios de que a casa, cujo dono é o vereador Gilsinho de Dedé (PSL), estava vazia. O parlamentar do pequeno município de cerca de 40 mil habitantes alega que não conhecia Adriano. Diz que o imóvel foi invadido. A versão é considerada plausível pelos investigadores.