Militar na Casa Civil é amigo de empresários e banqueiros

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Foto: Gabriel de Paiva/Agência O Globo

O chefe do Estado-Maior do Exército, general Walter Souza Braga Netto, 62 anos, convidado pelo presidente Jair Bolsonaro para assumir a Casa Civil, é tido por seus pares como alguém que transita com desenvoltura para além dos círculos militares como o empresariado e o meio político.

Ex-interventor federal no Rio de Janeiro, em 2018, no governo de Michel Temer, quando teve poderes equivalentes ao de um governador na área de segurança pública, Braga Netto havia sido responsável pela segurança dos Jogos Olímpicos de 2016, sendo promovido ao topo da carreira, como general de exército, menos de uma semana antes da abertura do maior evento esportivo do mundo. Assumiu, então, o Comando Militar do Leste.

Com experiência internacional, Braga Netto foi adiado militar na Polônia e nos Estados Unidos e observador militar da ONU no Timor Leste. Pessoas próximas ao general atribuem a essa trajetória sua capacidade de adaptação às demandas que a carreira vem lhe colocando. Em 2018, o Valor entrevistou Braga Netto e o general apresentou-se como um militar preocupado com a gestão do Estado.

É considerado rígido, mas não alinhado ao grupo politicamente mais extremado das Forças Armadas. Na campanha presidencial de 2018, Braga Netto foi um dos defensores no Alto Comando do Exército, no qual é um dos expoentes, da separação do Exército em relação ao candidato e ex-capitão Jair Bolsonaro. Advogava que Bolsonaro era um político e candidato civil, numa tentativa de preservar a imagem e a credibilidade da instituição.

Nascido em Belo Horizonte, o general atuou boa parte da carreira no Rio. É muito amigo do comandante do Exército, Edson Pujol. Como interventor federal no Rio, estreitou as relações com o meio político. No ano passado, lembra um ex-assessor, teve um primeiro encontro com o ministro da Justiça, Sergio Moro, em Brasília, onde “conversaram por horas”.

Além da articulação política, Braga Netto, como interventor, deu atenção às demandas do empresariado, que num encontro fechado à imprensa, na Associação Comercial do Rio, apelava para o problema do alto índice de roubo de cargas no Estado. Um dos principais resultados deixados pela intervenção federal foi justamente a queda neste indicador de criminalidade.

Sua relação com a imprensa começou tumultuada. Mostrou-se refratário a entrevistas, evitando gravações em áudio e filmagens, e chegou a vetar a presença de jornalistas em evento aberto à imprensa. Em certa ocasião, ordenou que câmeras fossem desligadas. Quando a vereadora Marielle Franco (Psol) e seu motorista Anderson Gomes foram executados, menos de um mês depois do início da intervenção, soltou uma nota protocolar sobre o crime que causou comoção internacional.

Durante a intervenção no Rio, que durou de fevereiro a dezembro de 2018, Braga Netto teve sob seu controle todo o setor de segurança fluminense, incluindo as polícias Civil e Militar, o Corpo de Bombeiros e o sistema penitenciário. Um mês antes do encerramento da intervenção, foi preso o então governador do Estado Luiz Fernando Pezão (MDB), solto um ano depois, acusado de corrupção.

Uma das dificuldades que o general apontou na administração da área de segurança foi a ingerência política na indicação de nomes para postos-chaves nas polícias Civil e Militar. “O que eu esperava era que eles me vissem como janela de oportunidade para transformá-los em instituição de Estado, acabar com aquela ingerência política dentro deles, que é o que não acontece nas Forças Armadas”, disse ao Valor, às vésperas do fim da intervenção.

Braga Netto ingressou na carreira militar em 1975 e, antes de ser interventor, deu declarações críticas sobre a atuação das Forças Armadas para solucionar problemas de segurança pública nos Estados, como o envio de tropas em operações de Garantia de Lei e Ordem (GLO). Também foi contrário à possibilidade de se replicar o modelo de intervenção para outros Estados além do Rio. “Não vejo necessidade. Acho que o modelo de gestão pode ser replicado. O sucesso da intervenção se deveu à gestão que fizemos”, disse, na mesma entrevista ao Valor.

Valor Econômico