Morte de miliciano foi queima de arquivo, diz PGR

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Foto: Reprodução

Morto pelo Bope da Bahia no último domingo — teria reagido a tiros ao ser encontrado —, Adriano era acusado de comandar o grupo de assassinos de aluguel conhecido como Escritório do Crime. O PM reformado Ronnie Lessa, apontado como um de seus integrantes, foi preso no ano passado sob a suspeita de executar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes na noite de 18 de março de 2018.

O ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro, apoiava a federalização das investigações, mas, depois que a família de Marielle se opôs à medida, parou de defender a ideia. No entanto, procuradores agora querem detalhes sobre a morte de Adriano, que, de acordo com seu advogado, Paulo Emilio Catta Preta, pode ter sido uma “queima de arquivo”.

— Em um telefonema na terça-feira (da semana passada), ele (Adriano) me disse “doutor, ninguém está aqui para me prender, querem me matar — disse o advogado horas após seu cliente levar dois tiros em um sítio no município baiano de Esplanada, a 170 quilômetros de Salvador.

Adriano esteve foragido por um ano — era um dos 13 alvos da operação Os Intocáveis, deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público com o objetivo de desmantelar o comando da milícia que atua em Rio das Pedras e outras comunidades da Zona Oeste do Rio. Há duas semanas, uma equipe de policiais da Bahia quase o encontrou em um condomínio de luxo na Costa do Sauípe — Adriano tinha alugado uma mansão no local para comemorar seu aniversário com a mulher e as duas filhas. Quando os agentes chegaram, ele conseguiu fugir por uma área de mangue, deixando para trás uma carteira de identidade falsa.

Da Costa do Sauípe, Adriano foi para Esplanada, onde se passava por pecuarista e criador de cavalos. Autoridades que o monitoravam estão convencidas de que ele recebia informações privilegiadas da polícia do Rio sobre as movimentações para pegá-lo. O dono de uma fazenda na qual o miliciano passou cinco dias escondido contou que, na véspera de sua morte, o ex-capitão do Bope apresentou sinais de nervosismo ao receber e enviar mensagens por celular. De acordo com a Secretaria de Segurança da Bahia, Adriano usava 13 celulares e sete chips de diferentes operadoras para fazer ligações.

O ex-capitão do Bope foi um dos primeiros investigados pela morte de Marielle e Anderson. Ao prestar depoimento na Delegacia de Homicídios (DH) da Capital em agosto de 2018, ele admitiu que já adotava a estratégia de trocar frequentemente de celular.

Durante o depoimento, Adriano foi questionado sobre a prática. Ele afirmou que não utilizava “aparelhos buchas” (adquiridos em nome de outras pessoas), e alegou que fazia uso de vários aparelhos como “medida de segurança”, para preservar sua “privacidade”. O ex-capitão do Bope disse ainda que não se lembrava do número que usava na época do assassinato de Marielle e Anderson. Além disso, informou que estava dormindo no horário do crime, já que, por ser pecuarista, costumava acordar muito cedo.

Todos os celulares e chips encontrados com Adriano serão examinados por peritos da Polícia Civil do Rio.

O envolvimento do nome de Adriano nas investigações da morte de Marielle e Anderson se deu por dois motivos. Primeiramente, ele havia sido um brilhante “caveira” do batalhão de elite da PM, e, para a DH, sabia como ninguém como fazer um ataque sem deixar rastros. Fora isso, circulava, no mundo do crime organizado, a informação de que chefiava um grupo de matadores de aluguel que tinha contraventores e milicianos como principais clientes.

Adriano foi expulso da PM cinco anos atrás, mesmo depois de ser absolvido de uma acusação de tentativa de homicídio contra o pecuarista Rogério Mesquita, em 10 de maio de 2008. Na época, Mesquita reconheceu e denunciou Adriano. Oito meses depois, foi morto. O caso permanece sem solução.

O PSOL anunciou nesta terça-feira que vai acionar o Conselho de Ética do Senado contra Flávio Bolsonaro (sem partido). A legenda o acusa de quebra de decoro parlamentar por conta das relações com Fabrício Queiroz e Adriano da Nóbrega, ambos investigados por suposta participação em um esquema de “rachadinha” de salários no gabinete que Flávio tinha na Assembleia Legislativa do Rio.

Queiroz foi assessor de Flávio durante seu mandato de deputado estadual, e a mãe e a ex-mulher de Adriano trabalharam no gabinete. Investigações apontam que as duas transferiram R$ 203 mil para Queiroz.

O Globo