Bolsonaro acusa governadores de forjar causas de mortes
Foto: Ueslei Marcelino/Reuters
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) endossou na segunda-feira uma notícia falsa que circulou nas redes sociais no fim de semana, segundo a qual um borracheiro que teria morrido em um acidente de trabalho teve seu óbito registrado como causado pela covid-19.
O caso teria ocorrido em Pernambuco e foi utilizado para fortalecer um argumento já vocalizado por Bolsonaro, a de que alguns Estados estariam supernotificando as mortes causadas pela nova doença para justificar suas ações restritivas contra a pandemia.
O presidente foi questionado sobre o tema pelo apresentador Sikêra Júnior, durante entrevista à Rede TV. “Já começam aparecer mortes por outras causas que estão colocando na conta do coronavírus. Eu vou dar um exemplo do que aconteceu no fim de semana em Pernambuco. Vamos conferir se procede. Um borracheiro consertando, trocando um pneu, estourou no rosto dele o pneu. E no atestado dele colocaram como coronavírus. O senhor tem conhecimento disso? Estão botando na conta do vírus?”, pergunta o comunicador a Bolsonaro.
O presidente responde: “Temos conhecimento desse fato específico bem como de outros. Parece que há interesse de alguns governadores em inflar o número de óbitos vitimados do vírus”, afirmou. Bolsonaro argumentou que, com isso, os governadores teriam “mais respaldo” para pleitear recursos do governo federal e poderiam também justificar medidas de restrição de movimento, como o fechamento de comércios.
A versão apresentada por Bolsonaro e Sikêra foi republicada nas redes sociais nos últimos dias. Entre os aliados do presidente que difundiram a notícia falsa está a deputada Bia Kicis (PSL-DF).
No Twitter, diversos perfis, alguns com poucos seguidores, replicaram a mesma mensagem: “Gente! O primo do porteiro aqui do prédio morreu porque foi trocar o pneu do caminhão e o pneu estourou no rosto dele. Receberam o atestado de óbito como se fosse o covid-19. Eles estão indignados”.
Além de aparecer em múltiplos perfis nas redes sociais, o episódio é questionado pelo governo de Pernambuco.
Em nota, o governo local diz que o homem que morreu, de 57 anos, estava internado no Hospital Maria Lucinda, no Recife. Tanto a declaração de óbito quanto o atestado elencaram três possibilidades para a morte, ainda segundo a secretaria de Saúde de Pernambuco: síndrome respiratória aguda, covid-19 e pneumonia comunitária não especificada.
“A vigilância epidemiológica testou as amostras do paciente e o resultado foi negativo para covid-19 e positivo para influenza A”, diz a secretaria. Ela ressalta que esse óbito nunca constou nas estatísticas do Estado para o novo coronavírus. “Vale ressaltar que esse caso nunca constou nas estatísticas de mortes por covid-19, divulgadas pela secretaria estadual de Saúde. Os óbitos pelo novo coronavírus não são contabilizados a partir de atestados, mas sim por testagem realizada pela vigilância epidemiológica do estado”.
O hospital Maria Lucinda também publicou um comunicado em que diz que o homem não deu entrada na unidade por trauma, mas por quadro de infecção respiratória.
Segundo dados oficiais, Pernambuco registrou seis mortes pela covid-19, nenhuma delas se refere a uma pessoa de 57 anos no hospital Maria Lucinda.
Bolsonaro já acusou, sem oferecer provas, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), de inflar o número de mortos pelo novo coronavírus no Estado.