‘Brasil demorou para reagir’, diz ministro paraguaio

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Foto: Brazil PhotoPress/Agência O Globo

O Paraguai fechou suas fronteiras antes que o Brasil e implementou uma quarentena quase total em seu território nacional, que prevê detenções e pagamento de multa para quem não cumprir o isolamento social. Hoje, uma das principais preocupações do governo do presidente Mario Abdo Benítez é o controle da circulação de pessoas na fronteira com o Brasil, país que, segundo altas autoridades paraguaias, “demorou em reagir à pandemia”. Essa é a visão do ministro do Interior, Euclides Acevedo, que, em entrevista ao O GLOBO, assegurou que pessoas “indisciplinadas” na região da fronteira representam um problema para a estratégia de combate ao novo coronavírus. No Paraguai, qualquer pessoa que for encontrada na rua e não possa justificar motivo de trabalho ou compra de produtos indispensáveis, é obrigada a voltar pra casa e, caso contrário, é detida e multada. O país tem 27 casos de contágio e duas mortes por Covid-19. “Em Pedro Juan Caballero faz mais de três semanas que fecharam as escolas e universidades. Em Ponta Porã (do lado brasileiro), há uma semana as escolas estavam funcionando”, lamentou Acevedo.

Existe preocupação pela situação na fronteira entre Brasil e Paraguai?

EUCLIDES ACEVEDO: Estou encarregado de aplicar as medidas relacionadas à quarentena sanitária. E, sim, um de nossos principais problemas está na fronteira, sobretudo na fronteira com o Brasil, porque temos mais de 700 quilômetros de fronteira seca (por onde as pessoas podem passar sem controle). Temos um acordo entre as cidades paraguaias e brasileiras, para que seja realizado um trabalho de coordenação. Temos um filtro comum para os que entram e os que saem, mas é complicado, porque a fronteira é larga e muitas pessoas são irresponsáveis. Muitas pessoas não têm consciência e estamos precisando aumentar a presença de médicos. Temos muitos policiais e militares, mas faltam médicos que garantam o cumprimento do protocolo sanitário. Nossas fronteiras estão fechadas, permitimos apenas a entrada de mercadorias, elementos de consumo e medicamentos. Mas a circulação de pessoas é um problema que ainda estamos tentando resolver.

A fronteira com o Brasil foi fechada semana passada.

ACEVEDO: Sim, mas em alguns casos isso é relativo, por exemplo, na cidade de Juan Pedro Caballero (que faz fronteira com a brasileira Ponta Porã) temos paraguaios que trabalham do lado brasileiro e vice-versa. O que estamos fazendo é reduzir ao máximo esse intercâmbio trabalhista e pedir aos brasileiros que trabalham no Paraguai que fiquem em suas casas. E aos paraguaios que trabalham no Brasil também, claro. Mas temos o desafio da indisciplina de muitas pessoas.

Essa indisciplina ocorre nos dois países, ou mais do lado brasileiro?

ACEVEDO: Bom, nos dois países. O que acontece é que no Brasil demoraram mais tempo em adotar medidas sanitárias. Em Pedro Juan Caballero faz mais de três semanas que fecharam as escolas e universidades. Em Ponta Porã, há uma semana as escolas estavam funcionando. As medidas sanitárias não estavam sincronizadas. Somente agora isso está acontecendo e provavelmente seja tarde em alguns casos.

O Brasil demorou em reagir à pandemia?

ACEVEDO: Totalmente, totalmente, assim como você diz. Não sei por que, por que causa secreta. Mas o Brasil é soberano e pode fazer dentro de seu território o que quiser. Acho que depois da reunião virtual dos presidentes do Mercosul (quarta passada) chegamos a acordos sobre a necessidade de trabalhar todos juntos. O vírus não reconhece fronteira, nem medidas tarifárias, entra por qualquer lugar.

Como foi a reunião virtual dos presidentes do Mercosul? O presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, pediu ajuda ao Brasil para atuar na fronteira?

ACEVEDO: Sim, e o presidente Bolsonaro respondeu imediatamente. Por isso os estados tomaram as medidas correspondentes. A fronteira é um assunto delicado e temos permanentemente o problema da indisciplina da cidadania. São minorias, mas colocam o resto da população em risco.

O presidente da Argentina, Alberto Fernández, não participou dessa reunião virtual…

ACEVEDO: Sim e nós, paraguaios, lamentamos muito essa ausência porque teria dado mais força às decisões. Mas o chanceler Felipe Solá o substituiu muito bem. Agora, do ponto de vista da simbologia política, teria sido muito importante (que Fernández tivesse participado).

O presidente Jair Bolsonaro tem sido muito questionado no Brasil por governadores como os de Rio e São Paulo, que estão sendo mais rigorosos na implementação de medidas de combate ao vírus. As notícias do Brasil que chegam ao Paraguai preocupam o governo?

ACEVEDO: Não podemos nos meter em assuntos internos, respeitamos as decisões das autoridades políticas de países vizinhos. O que sim queremos resgatar é a atitude recente dos estados federais brasileiros que fazem fronteira com o Paraguai, como Mato Grosso do Sul e Paraná. Precisamos endurecer cada vez mais.

Em resumo, o Brasil demorou em reagir, mas nos últimos dias houve uma reação?

ACEVEDO: Sim, houve uma demora em relação ao que nós fizemos. No Paraguai atuamos com a cultura da antecipação. O Brasil, que é um continente, demorou. Agora sim vemos medidas, algumas mais rigorosas, outras menos.

O Paraguai parou?

ACEVEDO: Nosso país está praticamente paralisado, com exceção do abastecimento de alimentos e medicamentos. O trânsito de pessoas e veículos está absolutamente restringido. Temos 27 casos de contágio e dois falecidos, que tinham doenças prévias.

Algum caso no governo?

ACEVEDO: Não, não, não temos no contágio no governo (risos).

Os casos no governo brasileiro foram comentados na reunião de presidentes?

ACEVEDO: Não, falamos sobre a necessidade de trabalhar juntos para esta nova ordem mundial que vem por aí. Será uma nova ordem política, moral e cultural. Finalmente, é muito mais importante a vida do que o consumo.

O Globo